Pesadelo

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Misha
Foi passando o dedo pela tela que se tornava cada vez mais entediada, com bocejos e expressões pobres de significado ela jogava fora suas expectativas cada vez mais baixas.

   - Quem é que escreve essa porcaria?

   - São escritores amadores Misha, você deveria ter mais respeito com eles.

A menina franziu o cenho e fechou a cara. - Ah sim, mais respeito com quem não terminou o ensino fundamental. Não é possível que um adulto tenha escrito uma merda dessas.

Ruby estava cansada demais para discutir, cruzou os braços e se dedicou ao que mais gostava, ouvir qualquer coisa que a fizesse não escutar mais as reclamações de Misha. O ônibus escolar já não deveria estar longe de Santa Clara, a famosa escola para crianças desordeiras e que certamente não era gentil com as mesmas. Por incrível que pareça, não foi como forma de castigo que as meninas estavam indo, porém sim pelo valor acessível da matrícula e pela tranquilidade que traria aos seus pais por ser uma instituição integral, ou seja, iriam passar todas as semanas dentro do local sem direito a sair, com apenas algumas exceções como nos feriados. Os pés de ambas já sujava os bancos, um par de all stars preto para a loira e um par azul para a morena, não que Misha fosse realmente loira, era apenas a parte inferior de seu cabelo que estava descolorida desse modo tornando o duplamente castanho e claro. A porta se abriu numa última parada antes do internato e um menino de cabelos cacheados, como um anjo renascentista, entrou.

   - Já era tempo, otário.

   - Disse a vagabunda.

Trocaram elogios como dois irmãos, mas eram apenas dois primos. Misha e Richard eram primos de não se sabe quantos gruas, o que não mudava o fato de suas feições serem parecidas, ambos pálidos de olhos escuros com humor de incomodar os mais sensíveis, ou qualquer um que um que estivesse próximo o bastante para ouvir. Sentou se no banco a frente delas, onde um garoto qualquer dormia com o capuz sobre a cabeça, tentando não ser incomodado. Isso não impediu que o recém chegado tirasse uma foto dele para mandar depois quando a escola tivesse um grupo já estabelecido, ele simplesmente não conseguia descascar enquanto não perturbava a pobre vida de alguém. Guardou o celular no bolso e começou a falar:

   - Aí, vocês lembram aquela canção?

   - Meu pau na sua mão?

   - Tem treze anos não Misha? Não cretina, aquela Miss Susie had a steamboat...

   - Você é muito paga pau dos estados unidos, não? Sempre cantando em inglês... mas conheço sim era The steamboat had a bell...

   - Miss Susie went to heaven - completou Richard animado, esperando que ela continuasse a canção.

   - The steamboat went to...

Antes que pudesse completar a rima, o ônibus passou pelo que parecia um quebra mola e todos os meninos e meninas pularam em seus bancos. Estranhamente, o motorista parou o ônibus e saiu do carro com o rosto mais pálido do que um papel. As crianças se amontoaram do lado direito do ônibus e tentaram ver o que se passava pela janela, vendo apenas uma mancha enorme vermelho escuro no chão e o homem aos prantos olhando algo que estava preso na roda. Misha se apoiou e subiu em cima do banco, colocando uma perna em cima do encosto e ficando ainda mais alta podendo assim ver um par de chifres estirado na estrada. O que quer que fosse, o motorista ligou para alguém e correu imediatamente para o ônibus, desligou e continuo com ele fazendo ainda mais dois estalos por cima do que, assumiram as crianças, fosse o cadáver de algum animal.

   - Eu preciso citar a coincidência entre eu chegar na parte da música que diz inferno e passarmos por um animal na estrada?

   - Foi só uma coincidência, nada demais.

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