1.1 - Nunca fui beijada de verdade.

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Alison
Sábado, 07 de junho. 23:12.

Como reconhecemos um beijo?
Quais os pontos um ser humano deve considerar para se permitir pensar "sim, eu definitivamente estou
assistindo um beijo ocorrer agora"?
O que o exemplo a minha frente me fazia questionar, na verdade, era se havia algum limite em que o beijo já não era mais apenas um beijo.
Meu rosto involuntariamente se distorceu numa careta de nojo quando notei demais a presença das línguas. Elas não deveriam permanecer dentro das bocas? Pelo menos uma na do outro? Eu deveria mesmo ser capaz de
enxergar tanto assim delas? Ok então, as línguas. Como o exemplo mostrava até demais, elas faziam parte
das características de um beijo. Um beijo explícito, mas ainda assim apenas um beijo, já que grande parte das
roupas continuavam em seus lugares. Até eu sei que isso desenha um certo limite.

Quais outros aspectos fortes eu conseguia captar aqui?
Lábios, lógico! Desses eu entendia, mas não da forma que ocorria ali. Eles estavam... praticamente se
engolindo!... Meu Deus! Até os dentes estavam na
brincadeira, esses dois vão ficar com as bocas machucadas depois disso.
Por que haviam tantas mãos envolvidas? Por que elas
puxavam e tocavam tanto do corpo um do outro? Um beijo não deveria envolver mãos... Até compreendia o
uso violento das línguas, lábios e dentes, mas, mãos?
Não deveria ocorrer desta forma, mesmo que esteja
fora dos limites padrão!
As barreiras continuavam nos lugares, em especial, as calças, então isto era apenas um beijo. Mas nunca foi
desta forma antes, nunca houveram tantos movimentos,
tantos toques, tanta fome...
Nunca foi desta forma... comigo.
Meus ombros caíram junto com a minha ficha.
— Eu nunca fui beijada de verdade.
Acredito que não tenha gritado. Tenho certeza, na verdade, minha voz saiu como um suspiro resignado que
quase se mesclava a música alta, ainda que abafada, e das falas incoerentes das pessoas no andar de baixo. Toda a
separação de línguas, lábios e dentes, no entanto, com os
dois elementos caindo assustados para lados opostos do pequeno sofá, me fez sentir como se tivesse anunciado
minha inexperiência com um maldito megafone na cara deles. Seria cômico se até eu mesma não tivesse pulado
de susto com a reação.
— ALI! — O elemento da esquerda, que eu bem
conheço como Evan, exclamou. Os olhos castanhos
estavam arregalados e os lábios - advinha só! -,
vermelhos como se estivesse mastigando uma pimenta!
— O que está fazendo aqui?
Ergui as sobrancelhas para sua indignação.
— Eu vim te buscar. A gente tinha combinado que eu
viria às onze... lembra?
— Verdade! — Engoliu em seco, olhando de mim para
seu amigo ofegante do outro lado do sofá, depois de
volta pra mim. — Verdade, verdade... Desculpa!
Desculpa, desculpa, desculpa... — Escondeu o rosto nas
mãos.
— Tudo bem...? — Respondi, meio incerta. Pelo o que,
exatamente, ele estava se desculpando? Pela recepção
"agressiva", ou pela... outra coisa?
Ao lado, o rapaz tentava acalmar sua respiração, ao
mesmo tempo em que seus dedos trabalhavam em fazer
o possível para colocar seus cabelos em ordem. O rosto e
o torso nu ainda mais avermelhados, mas eu julguei que
isso fosse por sua pele alva. Olhar muito para ele estava
me deixando desconfortável.

Voltei para Evan. Ele tinha o mesmo tom de pele que o
meu e eu costumava acreditar que nós não pudéssemos
enrubescer tão evidentemente assim. Quero dizer,
nunca o vi tão vermelho antes. E eu nunca tive motivos
para ficar, mesmo nas raras vezes em que precisei correr.
Pele corada, então. Mais uma característica de um beijo
ardente que eu nunca tive. Esta estava mesmo sendo
uma noite de descobertas.
O rapaz agora olhava em volta como se procurasse por
algo, olhou para mim rapidamente, mas acabou
escolhendo se voltar para Evan também. Ele mantinha
seus olhos fechados, os cotovelos nos joelhos e uma
expressão retraída de quem apenas queria sumir.
— Você viu minha camisa? — O rapaz perguntou,
parecendo não saber como se comportar, e a dúvida não
havia sido dirigida a mim, apenas senti isso no ar, mas
minha visão periférica resolveu me trair e eu me limitei
a apontar timidamente para o tecido azul claro no sofá,
bem distante de seu dono. Evan o amassava
parcialmente com seu traseiro.
Eu havia chegado já no meio do "ato" que eles estavam
prestes a performar, mas poderia imaginar como aquilo
teria acontecido: mãos desesperadas, exigindo que a
troca de salivas se iniciasse o quanto antes, e, quando
iniciada, dedos perdendo-se entre subir para os cabelos
escuros e brilhantes do rapaz e puxá-lo ainda mais, até
que a camisa se tornasse incômoda ao extremo para
ambos, arrancando-a na confusão e fazendo com que a
peça caísse pelas costas de Evan sem que nenhum dos
dois mal notasse.

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⏰ Última atualização: Jun 09, 2021 ⏰

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