𝗂 𝗆𝗂𝗌𝗌 𝗍𝗁𝖾 𝗈𝗅𝖽 𝗆𝖾✿
As longas madeixas vermelhas planavam pelo ar feito uma pipa japonesa, tamanha sua leveza que mantinha um fluxo constante. Uma linha traçada em pleno ar. O corredor estava cheio, era horário de pico, mais especificamente bem na hora do almoço. Corpos e mais corpos empurrava uns aos outros para chegarem mais rápido à saída que dava para o refeitório. Os murmúrios penetraram em seus ouvidos formando fins ou começos das típicas conversas banais que ocorriam sempre nos corredores, formando ali, uma conversa desconexa.
"Eu não fiz o dever de matemática"
"Acho que esqueci o lanche de novo, droga!"
"Não mãe, tenho certeza que tranquei a porta antes de sair de casa"
Correndo contra a corrente humana, esbarrando muitas vezes nos outros alunos, não demorou para que os primeiros xingamentos serem ouvidos.
"Ei! Olhe por onde anda!"
"Caramba você pisou no meu pé!"
"Qual o seu problema, está cega?!"
Quando enfim chegou ao seu destino, bateu a porta com força e encostou-se na mesma.
O quarto do zelador era escuro e fedorento, cheirava à candida e chulé. A porta era de madeira maciça, tão bruta que nada se escutava do lado de fora, porém, ali dentro, havia um coração batendo tão veloz que era possível ouví-lo sem muito esforço, juntamente com a respiração pesada.
Era Hanna, em meio de mais uma crise.
O ar parecia se recusar a entrar em seus pulmões, estava tão árido que a pouca quantidade que entrava, parecia rasgar sua garganta. Em sua cabeça estavam as vozes, dizendo muitas coisas ao mesmo tempo. Seu fluxo de pensamentos estava fora de controle de novo, um atrás do outro, seus pensamentos intrusivos percorriam toda sua mente.
De repente as pernas cederam à gravidade. O corpo elétrico da garota escorregou pela porta e só parou quando seu quadril tocara o chão. Estava em pânico, e neste estado não demorou muito para que as vozes em sua mente lhe lembrarem que todo aquele tormento poderia facilmente ser finalizado; de uma vez por todas.
Era só fazer um corte mais fundo que os outros, no pulso, ou que sabe até mesmo no pescoço. Ou talvez usar as pílulas para a ansiedade, já que elas não funcionavam mais... As possibilidades eram infinitas.
Os pensamentos suicidas se alastram por sua cabeça tal como o fogo sobre a palha, passando um de cada vez, como uma vitrine fúnebre. As vozes gritavam:
"Escolha!"
"Você pode acabar com isso quando quiser"
"Não seja covarde!"
Seus ouvidos estavam com aquela sensação estranha de novo, como se estivessem tapados, fazendo com que tudo que se passava entre suas sinapses, ficassem mil vezes mais alto.
Mas então alguém bateu na porta.