O Método Kurama

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26 de fevereiro, 5ª feira, mais perto do Sasuke, mais longe da Sakura.

O Sasuke sempre anda num mundo que parece que é só dele, meio ostra em rede de arrasto, meio mosca em teia de aranha. Só.

Hoje eu esperei ele bem antes da escola. Na rua ainda. Quase gritei, de tão acostumado que estou "Aí, seu Morfé...", Mas não. Cheguei de manso, passo de gato atrás do pássaro acuado, e perguntei, de sola:

— Achou? - Ele primeiro se assustou com minha chegada, não tinha me visto, depois não entendeu nada.

— Ahn?!

— Achou o que cê tava procurando no chão, véio?

— Não tô procurando nada, não.

— Então levanta este cabeção orelhudo, meu! Olha pra frente, pras pessoas, pro mundo! Sai da concha!

— Não enche, Naruto... Eu não quero, não gosto...

— Tô perguntando se cê não gosta ou não tá gostando, tô?! Te enxerga, ô meu! Aliás, me enxerga. Enxerga as coisas ao teu redor! - Sem saída, ele ergueu o pescoço, levantou a cabeça e arrumou os óculos.

— Agora, sim, cara! Bom, só falta um sorriso nesta cara de jegue empacado. Vamos lá. Sorri.

— Não tenho motivo pra sorrir. Não vou sorrir.

— Cê prefere chorar, Sasuchato?

— Não.

— Então sorri logo, vamo! - ele sorriu, sorriso forçado, de raiva, mas sorriu. E era bonito, até. - E vê se chega assim na escola. Falô? Te espero lá. E tô te dizendo: se chegar emburrado, vou dar mais motivo ainda pra você emburrar. E mais: se uma mina te olhar, feia, bonita, não interessa, cê encara ela. Não abaixa a cabeça, não. Segura firme. Mostra quem manda, sacô?

— Não.

— Não?... É... Bom, então nem é pra sacar mesmo. Só faz o que eu mando. E olha bem, se não ficar firme, cabeça erguida, eu endireito você rapidinho. Ou entorto de vez, cê escolhe. Agora, vai. ¹⁸Vaza!¹⁸

Sakura: Tadinho... Se eu estivesse lá, aí vc ia ver quem ia vazar!

Bom, Putão, nem preciso dizer que o Sasuke chegou outro na escola, né? Com um sorriso meio murcho no rosto, mas, pelo menos, olhando pra frente. Já é um começo. É ou não é?

Mas o melhor de tudo – quer dizer, que eu achei que seria o melhor e nem foi – aconteceu na aula do Kakashi. Ele tava devolvendo as redações e, pra variar, elogiando e elogiando o Sasu, dizendo que ele era bom, que só não seria escritor se não quisesse, essas coisas do Kakashi com o Sasuke. Sempre. Aí eu me adiantei, fui pra linha de frente e parti pro gol:

— Psor, por que cê não pede pro Sasuchato ler a redação dele?

— Seria uma ótima ideia, Naruto, se o Sasuke quisesse ler, mas...

— Sem mas, psor, todo mundo fica o mó curioso pra ouvir as redações do Sasuke e, sei lá, a gente podia até aprender um pouquinho com o ta-len-to literário dele, né? - Olhei pro Sasuke, todo amigo de infância que só. - Cê vai ler, não vai, Sasu?...

Ele não respondeu. Nada. Ficou mudo. Mais mudo que nunca. E suava, apertava as mãos, arrumava os óculos, sem olhar pra ninguém. Quase sumindo de tanto que não queria existir. Eu puxei a galera:

— Lê! Lê! LÊ! LÊ! LÊ! - Todos juntos, maior zona, parecia jogo em final de copa. O psor pedia silêncio. O Sasuke cada vez mais vermelho. E ninguém parava...

Essa Tal TimidezOnde histórias criam vida. Descubra agora