27 de fevereiro, 6ª feira. Sem o Sasuke e com e sem a Sakura.
Cheguei cedíssimo na escola. Queria ver a Sakura o quanto antes. E esperei e esperei e esperei... "Oi", a Sakura chegou, beijou meu rosto, passou por mim e entrou, nem me esperando. Eu, largado, sem ninguém pra quem dar meu "oi" de volta, lembrei de uma frase da Clarice Lispector que eu sempre nem entendo nada, mas que gosto do não entender dela: "Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo o entendimento".
Entrei. Quieto. Acho que nem cumprimentei os camaradas. E foi aí que eu vi, só aí, que o Sasuke não tava na carteira dele, perto da janela, longe de tudo. Então... Fiquei feliz, aliviado, mas, depois, estranhei que só: o Sasuke não falta nunca! E estranhei mais ainda a mim mesmo, sentindo falta dele e, muito, muito mais quando sentei no seu lugar. Nem resolvi sentar, não, só sentei. E abri meu caderno que não é azul, e comecei a escrever, a escrever, e pensei na Sakura, no e-mail dela, no Sasuke, em meu pai, em mim. E nem olhei pra trás:
Será que o Sasuke tá doente? Será que a Sakura tá me olhando? Será que tô fazendo isso tudo – inclusive sentar aqui – só pra chamar a atenção dela? Será?... Não sei. Fiz e pronto. E fiquei, estranho, pela simples estranheza de ficar... Quer dizer, isso até a primeira bolinha de papel bater na minha cabeça. E depois outra, e outra... E outra...
Bastaram alguns minutos de Sasuke. O suficiente. Quando vi que era o Kimimaro que tava jogando o papel, lembrei que não sou tímido: peguei uma das bolinhas do chão, a maior, levantei e, sem stress, fui até lá... Esqueci da psora, da aula, da Sakura, de tudo, só não esqueci do Sasuke, acho: enfiei a bolinha de papel bem amassadinha, redonda, na boca do Kimimaro. Ele? Sem reação, vermelho e boca aberta que só. Quer dizer, agora mais, pra poder caber o papel. A psora?... Me mandando sentar, me pedindo por favor pra não fazer, e eu, educado de sempre, dizendo pra ela esperar só um pouquinho, pro Kimimaro terminar de comer.
Fui pra direção sem escala: suspensão por um dia! E fiquei o resto das aulas fazendo cópia na biblioteca: um texto sobre "Violência na adolescência", que eu achei o mó legal, mas fiz que nem curti, só pra não dar o gostinho.
¹⁹Na volta, a Sakura, me olhando, parecia não entender nada.¹⁹ Eu, me entendendo menos ainda, voltei pra carteira do Sasuke. Só que agora ninguém me jogava bolinha alguma.
Sakura: O que vc queria?
Quando o sinal bateu, cumprimentei os camaradas, tentei cumprimentar o Kimimaro, que evaporou no ar, e entreguei um bilhete pra Sakura, saindo depois sozinho.
No papel: "Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo o entendimento".
Ela, pelo menos na hora, não entendeu, mas se preocupou, sim: veio atrás de mim:
— Naruto? - eu me virei, esperando uma bomba sakulíngia...
Ela veio mais perto, balançou a cabeça fazendo que não, suspirou, beijou meu rosto com carinho, pegou a minha mão e... Não falou nada. Saímos juntos, de mãos dadas, até o carro da mãe dela. Ainda acariciou meus cabelos e se foi...
— Eu acho que entendi... - disse, antes de entrar no carro.
Sabe, Putão, parecia até cena de filme. Mas tive vontade de fazer uma pergunta pra Saky, só não fiz pra não estragar o clima. Sabe qual?
— Sakura, cê entendeu? Então, por favor, me explica, ²⁰porque eu não entendi nadinha do que aconteceu comigo hoje.²⁰
Sakura: Vc tava me tirando, né, Naruto?! Vc não tava???
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Essa Tal Timidez
ФанфикDetesto ser tímido! Detesto! Ser tímido é ter um monte de coisas pra falar, de tudo, pra todos, e sentir, quase mudo, com uma vontade gigante de gritar, que roubaram sua voz. E mais, sua língua. E mais, sua boca. E mais, seu corpo. E mais, sua vonta...