O grito de Aurora cortou o ar como uma faca, enquanto o corpo da garotinha simplesmente ia de encontro ao chão. O ursinho agora com seu sangue jazia ao seu lado, e Clarissa não conseguiu se mexer.
Foi como se todos fossem arrastados para o mesmo filme, em que ninguém mais tinha qualquer tipo de reação a não ser olhar para a garotinha no chão. James encarava fixamente a cena que se desenrolava na frente dos olhos deles, tendo parado por um instante de lutar contra o soldado.
Aurora saiu de onde estava e correu até a menina. A irmã gêmea chorava sem entender, ao lado da irmãzinha.
Clarissa viu Beatrice e Jake, sem conseguir entender como eles estavam no mesmo ambiente e partilhando de um mesmo trauma.
Então James foi quem gritou, um som de fúria emanado de seus pulmões quando ele imobilizou o soldado e começou a esmurrá-lo.
O barulho dos socos ecoava pelo corredor, e Clarissa simplesmente não conseguiu fazer nada. Talvez ela pudesse ter mirado e atirado na cabeça do soldado mas naquele momento parecia que James estava descarregando tudo que o consumia.
Desde que eles se encontraram até o momento em que chegaram ali, em uma sucessão de desordem e medo, Clarissa viu a determinação nos olhos dele ao se envolver em uma narrativa que não lhe pertencia.
Ele simplesmente estava ajudando uma mulher com suas filhas, e se envolveu de uma maneira que levou Clarissa para aquilo, mesmo sem querer.
James apertou o pescoço do soldado com as duas mãos e levantou até bater o crânio dele contra o piso e repetir o processo várias e várias vezes.
Enquanto isso, o som da cabeça do soldado sendo completamente despedaçada no piso entrava em conflito com o choro de desespero de Aurora.
E tudo parecia um borrão. Como se a adrenalina no corpo de Clarissa estivesse se dissipando, e todas as suas dores físicas e mentais viessem à tona como um tsunami.
Ela se retraiu, abaixando a arma finalmente ainda em torpor.
Clarissa se lembrou do que tinha acontecido horas antes daquilo, e pensou se poderia ter evitado.
Sim, ela poderia. Poderia ter matado o Barry e acabado com aquilo. Talvez poderia ter ouvido James.
(...)
HORAS ANTES
Enquanto Barry estava com o braço em seu pescoço, Clarissa começou a revirar sua mente atrás de alternativas.
James acabava de abaixar sua arma, e a risada de Barry ao seu ouvido quase a fez vomitar.
— Então, onde estão as minhas filhas? — perguntou Barry, e Clarissa teve a ideia mais absurda quando viu James cerrar os punhos e sua mandígula se contorcer.
É ela ainda se lembrava bem dos tiques dele quando estava prestes a fazer burrada. James sabia quando estava encurralado como em um jogo de xadrez prestes a receber um xeque-mate.
E ele sempre fazia a maior burrada quando ia entregar o jogo.
— Ele não sabe — Clarissa falou com a voz tão firme e expressiva que James imediatamente arqueou as sobrancelhas e Barry afrouxou o aperto em seu pescoço. — Eu sei.
— Mas o que...? — James começou a falar, mas Clarissa lançou um olhar tão mortal que ele imediatamente se calou no meio da frase.
— Esse policial Walker aí adora bancar o herói. Aliás, obrigada por ter me tirado daquele carro, Barry. Você não sabe o sufoco que eu estava passando.
VOCÊ ESTÁ LENDO
ACHADOS & PERDIDOS
HorrorNinguém esperava que a ordem estabelecida durante séculos pudesse desabar em um piscar de olhos. A mortandade dominou a sociedade de antes e implementou suas próprias regras: ache sua esperança ou se perca para sempre na dor! E em meio ao caos, um g...