Um conto de Dia dos Namorados do Caio...

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Noite de Sábado. Dia de aproveitar o melhor que a noite carioca tinha a oferecer na agitada Zona Sul. Principalmente se você fosse gordo, peludo e ornamentasse uma barba impecável. Pois para a tribo dos ursos, aquele sábado era dia ou melhor, noite de Caos na Toca, edição especial de Dia dos Namorados. Era a festa ursina mais badalada da cidade, que acontecia na Cielarko, uma boate aconchegante com um ar antigo, no bairro de Catete, no Rio de Janeiro.

Próximo dali, um Fiat Uno branco modelo 2010 terminava de manobrar, estacionando próximo do local. Dentro dele, um casal, que ocupava os lugares de motorista e carona, soltava seus cintos de segurança enquanto o terceiro ocupante, atrás deles, parecia querer se fundir com o banco do carro.

— Chegamos! Disse o rapaz magro sentado no banco do carona, virando-se animadamente para o passageiro no banco de trás. Pronto para beijar umas bocas e abrir umas camisas?

— Eu não acho que seja uma boa ideia, Max. retrucou o amigo, temeroso.

— Caio, há quanto tempo você está no Rio?

— Um ano, oito meses e dezessete dias.

— E nesse meio tempo, quantas vezes você saiu para dançar?

— Nenhuma. Porém...

— Exatamente! cortou Max, antes que o amigo desse qualquer justificativa. Sua vida tem sido casa, trabalho, casa, repeat, casa, trabalho, casa, repeat, casa, trabalho, casa, repeat. Ainda mais depois que passou a morar sozinho. Isso é vida?

— Eu... estou confortável.

— Miga, isso não é vida. Aposto que o outro lá está superbem, passeando muito e trepando horrores com o Squirtle de bolso dele.

— Meia Tartaruga Ninja.

Whatever, Caio! esbravejou Max Você ficar regando essa plantinha da mágoa e rejeição não vai fazer aquele traste se sensibilizar e voltar pra você.

Caio se mantinha em silêncio. Ainda era difícil esquecer Alberto. A voz rouca, porém suave. O cheiro. O mar de pelos no peito começando a ficar grisalhos. A declaração de que amava outro e não ele. Ouvir que o sentimento mudou. Até que seus pensamentos foram interrompidos por Max:

— Façamos assim, então: eu vou pegar meu marido de poucas palavras e vou dançar a noite toda como se não houvesse boletos. – disse o amigo apontando para Pedro, que ouvira toda a conversa em silêncio, como de costume. E continuou:

— Você tem duas opções: ou sai do carro e vai se divertir ou fica tomando conta dentro daqui para nós. Mas já vou avisando: se roubarem o carro não vou pagar resgate nenhum.

Caio riu da situação. Momentos depois encontrava-se junto ao casal de amigos, na fila da entrada para a Cielarko, torcendo para que não estivesse tocando Ed Motta.

E não estava. O ritmo inconfundível de uma versão de "Holiday" da Madonna ecoava ao fundo do hall da boate, onde algumas pessoas se reuniam no bar e algumas mesas. Max cutucou o amigo.

— Olha só quanta coisa boa para você de divertir! disse, apontando discretamente para a quantidade de ursos, de todos os tamanhos e cores, presentes na boate. Pegue uma bebida e vai se divertir! E não se esqueça de me contar tudo amanhã.

Antes que Caio respondesse, Max sumiu com o marido em direção à pista de dança. O rapaz então foi até o bar, pediu uma água tônica com limão e se dirigiu até uma das pequenas varandas, onde planejava passar uma hora apreciando a paisagem e depois pegar um táxi para casa. Ao fundo, podia-se escutar o DJ tocando uma versão remix de "What Have I Done to Deserve This?", do Pet Shop Boys, quando alguém lhe dirigiu a palavra:

Um conto de Dia dos Namorados do Caio...Onde histórias criam vida. Descubra agora