A ÚLTIMA GUARDIÃ | AS SAFIRAS LUNARES

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         — ONDE ESTAMOS? — perguntou Sarah, forçando sua perna a dar mais um passo à frente. Mesmo que a terrível preguiça que costumava lhe assombrar tivesse desaparecido, seu corpo ainda não estava totalmente ajustado com a rotina de corridas, lutas ou qualquer exercício físico. De todo o jeito, ela não parecia sentir que tinha qualquer escolha sobre seu destino desde que atravessara aquele maldito portal, então não reclamava.

          Aquilo tinha um lado bom, no entanto. Sarah se sentia mais forte, ágil e mais viva do que em qualquer outro momento de sua vida; sentia-se como uma onda indomável, mesmo que ainda tivesse muito a aprender. Ela agora era mais capaz de realizar pequenos movimentos e ataques sozinha. Sentia-se confiante, como uma verdadeira jedi em treinamento. O único problema era que Lino não chegava nem perto do Mestre Yoda ou de Luke Skywalker. Ele era como o Darth Vader. Insuportável.

          Aquela caminhada, no entanto, limpava sua mente de qualquer raiva contra o elfo. Em sua volta, ela observava todos os detalhes que seus olhos conseguiam captar sem deixar seus olhos se concentrarem nos breves pontos da paisagem por mais de dois segundos. Carros zarpavam ao seu lado em um intervalo irregular, lentos o bastante para que ela conseguisse ler todas as placas que surgiam em seu campo de visão. 

          Alguns pedestres e condutores de bicicletas dividiam a calçada alguns metros à frente. As casas e prédios de diferentes tamanhos preenchiam o perímetro, criando um padrão de colunas que estavam longe de serem familiares.

          — O que quer dizer? — perguntou Lino, torcendo o cenho. Em seguida, ele apontou para a placa ao final da rua. — Não sabe ler? — o tom em sua voz era de sarcasmo, mas seu rosto fez parecer que estava genuinamente curioso. — Rua Boulevard Michelet. — Ele leu, e Sarah quis acertá-lo com um chute na barriga.

          Ela revirou os olhos, determinada a ignorá-lo por todo o restante do percurso. A beleza rústica das construções ao redor serviriam-lhe de boa distração. Voltou, então, a observar o entorno; desde as pedras no chão até os tijolos das paredes; desde o asfalto pintado com linhas coloridas até o céu cinzento acima de suas cabeças, qualquer coisa era melhor do que lidar com a presença irritante de Lino.

          — Agora estamos andando pela Avenue de la Républica. — dizia ele, distraído enquanto afundava as mãos nos bolsos da calça. Ele estava vestido como um típico morador francês; o cabelo estava preso em um rabo de cavalo trançado e duas mechas caíam, uma de cada lado, sobre as bochechas rosadas. Os olhos azuis brilhavam sob o sol e era extremamente impossível negar sua beleza ou até mesmo se concentrar em qualquer outra coisa que não fosse o movimento compassado de sua respiração enquanto andava.

         Sarah, no entanto, parecia imune aos charmes. Ou tentava com muito afinco não se deixar abalar.

          — Você vai narrar o nome de todas as ruas e avenidas? — Sarah ergueu uma de suas sobrancelhas de modo inquisitivo, batendo os pés com ainda mais força, aumentando o espaço entre eles. — Achei que iríamos treinar hoje mais um vez. Por que estamos aqui fora?