Capítulo I - Não me toque.

108 22 8
                                    

Hwang Hyunjin estava vivendo sua vida normalmente, como um adolescente normal que não faz nada que não seja normal. Ele vai ao colégio, tem pelo menos um amigo e notas medianas. Viu? É apenas um adolescente como qualquer outro.

Ou ao menos seria pelas próximas cinco horas.

─ Minha vida é tão... entediante ─ Olhou para as nuvens que se formavam no céu azul, os últimos raios solares do dia longo e cansativo de segunda-feira iluminaram o rosto pálido das noites mau dormidas de Hyunjin. Ele era bonito, mas precisava descansar.

─ Entediante? Como? ─ Seo Changbin, seu único amigo e companheiro de aventuras riu baixo, terminando de amarrar seu tênis.

Ambos estavam na quadra, já que não era usada nos dias de segunda. Os amigos gostavam de ficar lá. Afinal, foi ali que se conheceram.

─ Sua vida é bem normal, Hyunjin ─ Deu de ombros. ─ O que você faz no seu dia a dia?

─ Bom... ─ Não seria necessário pensar tanto, mas mesmo assim, ele pensou. ─ Acordo, faço o caminho até o colégio, estudo, volto pra casa, tomo banho... ─ Ele perdeu a contagem assim que seu dedo indicador esquerdo saiu do lugar. Tudo bem. Vamos começar outra vez. ─ Onde eu parei?

─ No "tomo banho" ─ Changbin respondeu.

─ Aaaah, sim ─ Sorriu fraco. Seus sorrisos desapareceram há muito tempo. ─ Preparo o jantar, limpo a casa, leio alguma coisa e... Fico esperando meu pai até tarde ─ Um suspiro. ─ Ele não chega, então eu assisto alguma coisa. Entre uma e meia ou duas da manhã eu durmo. Mas depende. Tem dias que eu venho pra cá virado ─ Outro suspiro, esse parecia de arrependimento. ─ Que nem hoje.

─ O que você tem com seu pai? A última vez que o viu, que eu me lembre, foi no início do mês passado ─ E ele estava certo. Nem parece que Hyunjin tem realmente um pai.

─ É verdade... ─ Um olhar incrivelmente genuíno saiu do Hwang. ─ Ele só me vê para entregar o dinheiro das despesas. Depois? Ele some, mas sempre promete voltar na noite seguinte... Por isso, eu espero.

Uma mão acariciou suas costas e ele abaixou a cabeça. ─ Sim, era difícil.

─ Mas e a sua irmã? A Yeji? ─ Changbin tentou animá-lo, lhe mostrando um sorriso caloroso; Ah, como Hyunjin amava quando ele sorria.

─ Ela tem nojo de mim. Me evita. Parece que, sei lá, eu tenho uma doença contagiosa que vai matar metade do planeta ─ O terceiro suspiro. Esse? De tristeza. ─ Não sei se você sabe, mas, minha mãe morreu quando eu ainda era criança. Ela sofreu de câncer e, sim, foram tempos difíceis.

A Sra. Hwang desenvolveu um câncer de pulmão que, rapidamente a matou. Algumas desvantagens de ter uma mãe que fumava desde os 12 anos de idade.

─ Menos de uma semana após a morte da mamãe, meu pai apareceu com uma mulher e... ─ Uma pausa, Hyunjin olhou para o chão. ─ Uma filha. Ela era dois anos mais velha que eu e eramos muito parecidos, iguais ao papai. Juntei as peças e descobri que meu pai começou a trair a mamãe pouco tempo depois que ela descobriu o câncer maligno e... É, ele é um babaca.

Hyunjin lembrava com clareza o dia em que entrou naquela casa repleta de objetos esnobes, com pessoas esnobes e mobílias esnobes. Os olhos azuis cruéis pousaram sobre ele e, naquele dia, o Hwang percebeu que eram de mundos completamente diferentes, mesmo sendo irmãos.

"Eu não sabia que tinha outra família, querido".

Foi o que ela disse, ela e seus Belos Olhos Azuis.

─ Depois disso nunca mais encontrei a senhorita Belos Olhos Azuis, pra' falar a verdade ─ Confessou, dando de ombros. ─ Yeji diz que fui um erro, assim como a "puta com câncer", como chama minha mãe ─ Fez aspas com os dedos, encarando Changbin.

─ Wow ─ Foi tudo o que conseguiu dizer.

─ É. Wow.

─ Bom, agora tenho que ir pra casa, sério, se não minha mãe me mata ─ Ele riu um pouquinho, pegando sua mochila e acenando para Hyunjin. ─ Até mais! ─ Piscou, subindo para a saída.

Em silêncio, o garoto bebeu um gole d'água, observando Changbin sumir de seu campo de visão. Particularmente, ele não queria voltar para casa, não teria ninguém o esperando lá. Se erguendo, pegou suas coisas e entrou na escola mais uma vez, para pegar emprestado mais alguns livros na biblioteca.

Caminhando pelos corredores ele viu a imagem da irmã mais velha sorrindo cruelmente, assim como sua mãe; A senhorita Belos Olhos Azuis. Desconfiado, Hyunjin a seguiu, vendo que ela não estava sozinha, e sim acompanhada por dois garotos que... empurravam outro? Cerrou os olhos e se escondeu atrás da porta, podendo ouvir a conversa.

─ Por que não fez minha lição de casa, Han Jisung? ─ Falou Yeji, se aproximando lentamente do garoto prensado na parede. ─ Não sabia que preciso de notas boas para ir para a faculdade?

─ Estude sozinha ─ Retrucou ele, sem levantar a cabeça.

─ É assim que fala comigo? ─ Deu um tapa em seu rosto, tão forte que fez o garoto cuspir no chão; Na verdade, ele queria cuspir na cara da Hwang. ─ Rapazes, podem se divertir.

Em um instante, Han foi jogado no chão, recebendo socos e chutes por todo o corpo. A ruiva soltava gargalhadas dignas de filme de terror, já que apreciava aquela cena como se fosse um tela com a mais pura e divina arte. Estalando os dedos, ambos os dois pararam e, tremendo, Jisung pegou sua câmera, que por pouco também não teria sido espancada.

─ Acho melhor fazer da próxima vez, isso foi um aviso, querido ─ Sorrindo, ela abriu a porta, sendo seguida por ambos os brutamontes que tinham suas mãos sujas com o sangue do loiro que, apenas ficou ali, se concentrando em não apagar.

Com as mãos sobre a boca Hyunjin tentava não gritar de horror. O que foi aquilo? Como Yeji seria capaz de tal maldade? Era certo que sua irmã era ruim mas, nesse nível?

Aquilo foi o suficiente para ele ter certeza de que viviam em mundos diferentes.

Em passos desengonçados e rápidos ele entrou na sala, vendo a situação deplorável em que aquele rapaz se encontrava. Se aproximando devagar, Hyunjin ameaçou toca-lo, mas logo recebeu um tapa na mão.

─ Não.... Me toque.

Foi tudo o que Han Jisung disse para ele. Em pouco tempo, estava de pé, saindo dali como se nada tivesse acontecido. O moreno apenas permaneceu atônito, ficando de joelhos cercado por sangue.

O que tinha acontecido ali?

Entrou em casa e tirou os sapatos, lavou as mãos e preparou o jantar. Comeu em silêncio, apenas ouvindo o barulho do relógio. Tomou um banho e pegou qualquer livro na estante, sem nenhuma intenção de lê-lo. Dessa vez não esperou por seu pai e foi direto para cama com um único pensamento em mente:

Afinal, quem era Han Jisung?

Acordou ouvindo passos no andar de baixo. Talvez fosse seu pai, ele não ligava mais; "Quero que ele se foda", pensava Hyunjin, tentando voltar a dormir. A porta de seu quarto foi aberta com brutalidade e ele caiu da cama, arregalando os olhos com o que estava vendo; Uma outra versão dele mesmo, só parecia mais velho.

Seu eu do futuro falava alguma coisa, só que o Hwang não era capaz de ouvi-lo. Fazendo leitura labial, o garoto desvendou a charada.

"Leia a carta"

Hyunjin acordou suando frio, olhando para todos os lados apenas para confirmar que aquilo era um sonho, ou um pesadelo. Quando foi pegar seu celular na cômoda, sentiu algo estranho em suas mãos. Coçando os olhos, trouxe mais para perto.

Era uma carta.

𝐃𝐞𝐚𝐫 𝐌𝐞 - HyunsungOnde histórias criam vida. Descubra agora