Peônias

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Quando Jisoo entrou no refeitório segurando aquele buquê de rosas vermelhas, ela francamente não esperava uma reação tão exagerada da namorada Rosé. Primeiro ela levantou em um salto, sorrindo para a amada como se não pudesse acreditar no que seus olhos viam. Depois abaixou o olhar, tímida e corada. E por fim, quando Jisoo entregou o buquê para Jennie, que estava sentada ao seu lado, Rosé finalmente entendeu tudo.

- São do seu namorado, ele me encontrou na entrada do campus e me pediu para te entregar - explicou ela, ignorando os olhares curiosos das pessoas ao redor e até mesmo o da própria namorada. - Aqui está o cartão.

Rosé deixou-se cair na cadeira com um som brusco, recuperando-se daquele momento ilusório. Jisoo nunca lhe daria flores, é claro.
Jennie largou seu sanduíche de atum, sem ao menos ligar para as rosas e focou sua atenção no cartão, sussurrando para si mesma:

- Típico...

Ela estava tendo problemas com o namorado atualmente. Ele sempre pisava na bola e depois tentava se redimir com mimos como aquele. Às vezes, nos meses em que o cartão de crédito ainda não havia estourado o limite, ele até a levava para jantar em lugares caros ou iam ao shopping para comprar tudo que ela queria. Portanto, ela já estava mais do que acostumada. Ou mal acostumada, como as amigas costumavam dizer por suas costas.

Mas o que acontecia com Jennie e seu namorado não importava. A questão era Rosé ter achado que as flores que Jisoo trazia eram para ela.
Jisoo, alheia ao quão chateada ela estava, sentou ao seu lado e a abraçou pela cintura carinhosamente, cheia de segundas intenções.

- E aí, vai estar livre mais tarde?

- Não. Tenho treino de vôlei depois da aula e depois vou sair para beber algo com o time. - Rosé mal olhou para ela enquanto dizia aquilo, apressou-se em terminar o seu smoothie e levantou para ir embora. - A gente se vê.

Jennie também foi embora um tempo depois, despedindo-se da amiga e deixando o buquê na mesa do refeitório. Aquilo era um desperdício de dinheiro, é claro, e Jisoo se pegou encarando as flores por tempo demais, até desviar o olhar, subitamente desconfortável.

Ela nunca dera flores a Rosé, embora elas já estivessem juntas há mais de um ano e Jisoo soubesse o quanto ela amava flores.

Ela nunca dera aquele tipo de presente para a namorada não porque não gostava dela o bastante para tamanho gesto, mas sim porque não entendia o propósito daquilo. Porque para Jisoo, não fazia sentido algum dar um buquê para alguém que não estivesse morto, afinal, era algo tão efêmero e que logo iria murchar, morrer e se decompor. Na opinião da jovem, que nunca se considerara romântica, era até um insulto dar um presente como aquele para alguém de quem gostasse tanto, independente se Rosé iria gostar ou não.

Mas Rosé pensava diferente. Elas eram opostos extremos. Enquanto Jisoo era uma pessoa mais prática e racional, ela fazia o tipo romântica e sensível. Vivia com a cabeça nas nuvens. Esse contraste até poderia ser considerado como um equilíbrio perfeito, a não ser em momentos como aquele, quando a diferença de personalidade era tão gritante ao ponto de causar desavenças.

Rosé não dissera nada a respeito, mas Jisoo sabia muito bem o motivo pelo qual ela estava chateada: as malditas flores de Jennie. Jisoo voltou a encará-las, desta vez com um desprezo aparente, até finalmente se levantar e deixá-las para trás. Talvez alguém no refeitório as pegasse ou até mesmo postasse uma foto delas na internet com uma legenda ridícula de rejeição, mas para ela pouco importava.

Contudo, Jisoo não conseguiu tirá-las da cabeça, muito menos a expressão de Rosé ao vê-las com elas nas mãos. Ela havia achado que o presente era para ela e, mesmo que não concordasse com aquele gesto considerado tão simbólico para uns, Jisoo não conseguiu não ficar mal por decepcioná-la. Rosé era a garota mais doce e amorosa que ela já conhecera e era um privilégio tê-la como namorada, então Jisoo se apavorou somente com a possibilidade de um dia ela duvidar de seus sentimentos por causa da ausência de um mísero buquê até aquele momento da relação.

Parando para pensar, tal insegurança era até ridícula, mas ela ficou tão preocupada com Rosé ter se chateado que acabou deixando-se levar. E quando se deu conta, lá estava ela na mesma floricultura onde o namorado de Jennie comprara o causador de toda aquela situação, horas atrás. "Que maldito" , pensou ela.

Rosas vermelhas eram muito caras, como ela constatou. Jisoo encarou a etiqueta com o preço por longos minutos, sem conseguir deixar sua praticidade de lado e pensando no quanto o valor era absurdo para gastar com algo que duraria menos de uma semana. Talvez a funcionária da floricultura a achasse avarenta, mas ela tinha amor ao seu suado dinheirinho.

🌷🌷🌷


Quando a noite chegou, Rosé se preocupou por não encontrar a namorada no dormitório. Ela nem se importava mais com o acontecimento daquela tarde, mas se culpava pela forma como agira. Elas não tinham brigado nem nada, mas mesmo assim ela se sentiu mal por ter dado um gelo em Jisoo durante as últimas horas. A possibilidade de tê-la deixado triste era o suficiente para fazê-la querer chorar. Era mesmo uma manteiga derretida.

Ela decidiu pedir uma pizza e ir tomar banho. Quando Jisoo chegasse, ela a encontraria de pijamas e com sua comida favorita esperando-a. Ela não sabia se devia um pedido de desculpas mais apropriado, mas aquela era a sua forma de dizer que estava tudo bem entre elas. Na verdade, Rosé sentia-se até meio idiota por todos os pensamentos que tivera a respeito do episódio...

A pizza ainda não tinha chegado quando Jisoo retornou ao dormitório. Rosé foi ao seu encontro, já com um sorriso de orelha a orelha por poderem jantar juntas em meio a uma semana tão corrida. Foi quando a encontrou com uma sacola enorme com produtos de jardinagem.

- Você chegou - ela a cumprimentou com um selinho rápido, ajudando-a com a sacola e encontrando dois vasinhos de planta enfeitados com laços de presente. Ela sorriu instantaneamente ao vê-los.

Jisoo não era de fazer discursos e estava cansada, mas mesmo assim se esforçou para elaborar algo que ao menos fizesse algum sentido para explicar suas convicções à uma romântica incorrigível.

- Não vejo sentido em dar algo que eu sei que vai morrer para alguém que eu amo tanto. Você sabe, né? - Rosé assentiu, sentindo culpa por expor a namorada aquela situação desconfortável. - Mas eu sei o quanto você ama flores...

- Amor, eu sinto muito, eu...

Jisoo a interrompeu, colocando o dedo indicador delicadamente em seus lábios e beijando-a carinhosamente na testa. Só isso foi o suficiente para fazê-la suspirar.

- Então eu não vejo problema nenhum em cultivá-las - ela continuou, retirando dois pacotinhos de sementes da sacola e entregando-os para Rosé. - Podemos plantar juntas e cultivá-las, assim como a cada dia cultivaremos o nosso amor.

Por mais que ela não fosse muito romântica nem fizesse declarações a todo momento, Rosé nunca duvidara do amor da namorada e naquele momento teve ainda mais certeza de que escolhera a garota certa para entregar seu coração.

Ela segurou o pacote de sementes como se fosse um tesouro precioso, o melhor presente que já havia ganhado na vida, e sorriu.

E Jisoo sorriu de volta. E os sorrisos se transformaram em risadas, depois em beijos seguidos de olhares profundos, que diziam um "eu te amo silencioso". Jisoo quis poder congelar aquele momento para sempre.

E mesmo agora, quando elas já estão comemorando cinco anos de um casamento sólido construído à base de muito amor, Rosé olha para o vaso de peônias sabendo que a esposa nunca esteve errada. É muito melhor dar algo vivo aos vivos e, principalmente, cultivar cada vida, flor, ou relacionamento com amor.

Cultivar | chaesoo Onde histórias criam vida. Descubra agora