As cores de Kim Junmyeon

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[Sehun]

Sehun já não suportava mais ouvir o sino da Dream Bean soando a cada vinte segundos. Mesmo que a cafeteria fosse famosa, o movimento hoje estava particularmente agitado, o que obrigava-o a ficar mais tempo para ajudar os colegas visto que justo hoje Baekhyun faltara e no estabelecimento estavam apenas o Oh, Zitao e Yixing.
Qualquer um que passe pelo centro comercial sabe exatamente onde fica a Dream Bean; a pequena estrutura de tijolos com janelas brancas e um toldo verde com a logo do café desenhada se destacava entre os prédios de concreto cinza e sem vida que a rodeavam. Talvez por isso estivesse tão cheia nessa segunda-feira: as pessoas buscam uma fuga desse cenário pacato e entediante. Um lugar onde vendem café, doces, livros e possuem até uma música agradável ao fundo é perfeito para essa ocasião, que embora ótima para os negócios, era detestada pelo pobre barman.
Mesmo que muitos clientes resultem em um dinheirinho extra no final do mês, Sehun odiava ter que equilibrar várias xícaras de café para lá e para cá, desviando de pessoas distraídas ou arrogantes demais para assumirem a culpa de um copo quebrado. O garoto de cabelos laranjas era estabanado e já havia sujado seu avental marrom com algumas manchas extras de café. Dessa vez, levava cinco xícaras de cafeína pura e amarga para um grupo de homens importantes - a julgar pelos ternos caros - do edifício da frente... Monet's? Müller? Meanie? Ele não fazia questão de saber o nome, mas implorava para o colega Zhang atendê-los.

- Não posso, Sehun, tenho que atender a mesa sete agora, é apenas uma mesa, não ligue para as pessoas nela. - Yixing conhecia o coreano e sua implicância com pessoas sérias.

- Por favor, Lay! - O Oh choramingava, arrancando risadas do moreno. - Aish, hyung, até você consegue ver a aura cinza deles! -

- Eu consigo ver a aura rica deles, Hun, creio que eu não sou o único que precisa de dinheiro aqui, hm? - As sobrancelhas arqueadas enquanto organizava os copos de chocolate quente e pratos de bolo sobre a bandeja enfatizavam o tom sugestivo e sarcástico na frase do chinês.

- Eu te odeio, chinês dos infernos - Sehun esbravejou e o Zhang riu, indo em direção aos adolescentes que lhe aguardavam.

Sehun segurou sua bandeja e respirou fundo, tentando não derrubar nada nem ninguém enquanto se dirigia à entrada da DB, chegando até a mesa quinze inteiro. Com cautela, entregou as cinco bebidas para todos os homens evitando contato visual, fez uma reverência e se retirou, voltando quase correndo para o balcão. O caixa loiro riu de sua atitude e riu ainda mais quando recebeu um olhar ameaçador do mais novo.

- Qual é, Sehun, se tá ruim pra você que já terminou seu turno, imagina pra mim e pro Xing que terminamos às onze e meia? - Huang caçoava com uma verdade encobrida: ele realmente tinha sorte de terminar o turno cedo.

- Obrigado pela motivação, hyung, ajudou muito. - Seu tom era sério, mas Tao sentiu a ironia na oração.

- Vá embora antes que Chanyeol te obrigue a fazer hora extra. - O coreano não precisou ouvir mais nada para sair correndo dali e fugir de mais horas extras, nem ao menos pegando a gorjeta que os homens lhe deixaram. Talvez o chefe Park o odeie.

-X-

Deitado sobre sua cama de solteiro, Sehun encarava seus desenhos colados no forro. Ele sabia que a senhora Lee o expulsaria imediatamente caso ele pintasse o teto, então essa foi a ideia de tampar o branco tedioso acima de sua cabeça.
Sehun é um jovem muito complexado; além de carregar uma grande paixão por obras de arte, admirava quadros dos séculos XVIII e XIX e até se arriscava criando os seus baseados no estilo Expressionista*, usando das cores e das formas para expressar toda sua emoção em quadros. Costumava criar vários durante o período livre, mas mesmo agora com suas férias chegando ele se sentia exausto, física e psicologicamente. O estresse diário do trabalho com Chanyeol lhe dando broncas ora ou outra, as provas da faculdade, os períodos mais longos e difíceis, as tarefas acumuladas... Ele se sentia sufocado e sua mente em branco - não conseguia pensar em nada. Necessitava de um descanso, uma distração. A primeira coisa que pensou foi pintar, mas nenhuma ideia surgia e por um momento se desesperou. Estaria ele se tornando cinza? Sua garganta trancou; sua mãe sempre dizia para nunca esconder seus sentimentos e jamais se esconder, mesmo que o quê sentisse pudesse ser julgado como errado ou constrangedor, mas para ele "ser cinza" significa além disso, significa literalmente "não sentir". Depois de tanto esforço, ele havia a decepcionado? Não. Ele precisava buscar entender o verdadeiro significado daquelas palavras. Sehun sentia medo. Medo de decepcionar a falecida mãe, medo de ser julgado pelos colegas, medo de ser demitido pelo chefe, medo de ser expulso de sua faculdade ou de seu apartamento alugado. Ele tinha medos e estava tudo bem, afinal ele não é uma máquina. Mesmo quando sua cabeça e suas mãos estão cinzas e/ou roxas, seu peito sempre seria colorido. Naquela noite, Sehun pintou ele mesmo com as mãos tampando o rosto. Tanto elas quanto sua cabeça intercalavam entre o cinza e o roxo, contudo seu peito guardava uma explosão de cores. Esse é quem ele é de verdade. Oh Sehun, uma obra de arte.

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