• Capítulo 5

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Kah on·
Era um dia lindo, daqueles de céu azul sem nenhuma nuvem. Olhei pela janela tentando entender que merda tinha acontecido comigo. Já havia conhecido homens atraentes antes, saído com alguns, até. Então, por que estar perto de Ruggero Pasquarelli me deixava nervosa como se eu tivesse voltado aos treze anos e o menino fofo sentasse na minha frente na cantina do colégio?
Odiava a reação do meu corpo a ele. A química era natural, impossível de segurar. Não conseguia lutar contra o que me dominava, da mesma forma que não conseguia forçar a química inexistente com Jason, o último cara legal que namorei.
Peguei o trem mais cedo hoje, por isso, estava despreocupada para ficar frente a frente com Ruggero. Quando nossos olhos se encontraram, as pupilas dele dilataram e por uma fração de segundo pensei que ele tivesse a mesma reação física que eu à nossa proximidade, mas depois ele desviou o olhar completamente indiferente. O fato de mal ter notado a minha existência era um rejeição física, mas minhas mãos ainda tremiam quando a mensagem dele chegou. A única coisa boa foi que, aparentemente, o choque provocado pelo encontro não devia ter se estampado em meu rosto. Ele nem imaginava quem eu era e eu planejava manter as coisas assim.
Ida interrompeu meus pensamentos. Ela jogou uma pilha de envelopes sobre minha mesa. Quem escreve cartas e as manda pelo correio para uma coluna de conselhos hoje em dia? Oi, e-mail? Você está por aí? Sou eu, o século XXI.

Ida: acha que consegue responder a algumas para a coluna na internet?
Kah: é claro que sim.
Ida: talvez consiga dar conselhos adequados dessa vez- eu me sentia bem in adequada essa manhã.
Kah: vou tentar.
Ida: tentar não é o bastante. Faça direito dessa vez- ela bateu a porta da sala e mostrei o dedo do meio. Eu avisei. Passei cerca de uma hora examinando a pilha até achar algumas cartas a que me considerava capaz de responder no estilo da Ida. Os primeiros rascunhos resultaram em bolas de papel amassado que não caíam dentro da lata de lixo. Então, percebi que havia um truque para dar conselhos ruins. Primeiro, eu redigia a resposta como achava que deveria ser lida. Depois mudava cada frase para transformá-la no oposto do que seria meu conselho. Incrível, o processo de duas etapas realmente criou o jeitão da Ida.
-
Querida Ida, no ano passado peguei meu namorado me traindo. Ele disse que foi um erro terrível e jurou que havia sido uma vez só. Depois de muito sofrimento concordei em continuar com o relacionamento, mas não consigo superar. Tem um homem no trabalho por quem me sinto muito atraída. Acho que dormir com ele pode me ajudar. Dois erros podem salvar um relacionamento?-  Paula, Morningside Heights.

Primeira etapa:
Queria Paula,
Sim! Dois erros não criam um acerto, mas servem como uma tremenda desculpa! Vai nessa! É claro, um relacionamento requer comprometimento, mas a insanidade também. Trair não é um engano, é uma escolha. Cai na real. Uma vez traidor, sempre traidor. Dá o troco, pega o gostosão e dá um pé no seu namorado antes que ele faça isso de novo.

Segunda etapa:
Querida Paula,
Não. Dois erros nunca criam um acerto. Se você está realmente disposta a salvar seu relacionamento evite a tentação a todo custo. As pessoas cometem erros, mas também podem aprender com eles e mudar. Errar é humano, perdoar é divido. Seja divina. Confie nele, acredite que não vai trair de novo. Se realmente o ama esqueça essa história.

Kah on·
Depois que peguei o jeito da coisa produzi o equivalente a dois dias de respostas antes de entregá-las a Ida para revisão. Quando meu celular vibrou por volta do meio-dia fiquei empolgada achando que era Ruggero. Por mais ridículo que fosse estava ansiosa pelas mensagens revoltadas e cheias de tesão. A decepção foi inevitável quando vi que a mensagem era de Aspen. Tinha esquecido completamente nosso encontro hoje à noite. Minha reação imediata foi cancelar, mas em vez disso menti e respondi dizendo que estava ansiosa para aquela noite. Ele era o amigo de um amigo que conheci em uma festa e achei que era legal. Além do mais, ficar sentada em casa esperando a mensagem de um homem que nunca teria interesse em uma mulher como eu era muito triste.
Depois do trabalho fiz um esforço extra para ficar bonita torcendo para que isso mudasse meu humor. Vesti um jeans justo e uma blusa roxa que exibia meus seios abundantes. Calcei a sandália preta de tiras com rebites e me olhei para o espelho. Estava ótimo. Vai se ferrar, Ruggero Pasquarelli, que achava que eu não era digna de uma segunda olhada. 
Eu morava no Brooklyn e normalmente encontrava os carinhas no local onde íamos. O transporte público não era extremamente favorável a buscar as pessoas em casa, o que funcionava bem para mim, já que eu não gostava de dar meu endereço a desconhecidos, mas Aspen queria me levar a um lugar em Long Island, por isso foi me buscar.

Aspen:

Aspen: espero que não se incomode

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Aspen: espero que não se incomode. Só preciso fazer uma parada rápida.
Kah: é claro, não tem problema.- ao contrário de quando nos conhecemos na festa, a carona foi recheada de conversas desconfortáveis. Eu tinha que fazer perguntas para não deixar o assunto morrer- Então, aonde vamos? Você falou de uma boate.
Aspen: é um clube de comédia. Só abre às nove.
Kah: você se apresenta?
Aspen: sim.- ele deu de ombros- Pensei em matar dois coelhos com uma cajadada só.- alguma coisa nessa resposta me incomodou. Sugeria que nosso encontro era uma obrigação, mas tentei tirar o melhor da situação. Fazia muito tempo que eu não ia a um clube de comédia e talvez ele estivesse tentando se exibir para mim. Quando o celular vibrou na minha bolsa espiei para ver o que era. Odiava admitir, mas uma parte minha queria que fosse Ruggero.
Aspen entrou no estacionamento e parou o carro.
Aspen: só vou demorar alguns minutos- ele ia me deixar no carro?
Kah: aonde vamos?- olhei para a escuridão lá fora. Tinha uma 7-Eleven à esquerda e a funerária White's Funeral Home à direita.
Aspen: preciso passar na White's. Minha tia morreu.
Kah: sua tia morreu?
Aspen: sim. Não vou demorar mais que dez minutos.- ele se preparou para sair do carro- A menos que queira ir comigo.
Kah: hummm... espero aqui- mas que porra? Fiquei ali sentada e perplexa no estacionamento. Em resumo ele estava me levando ao funeral da tia e depois ao trabalho. Quando o celular vibrou de novo decidi que estava precisando da distração.
Rugge: como está a língua?
Kah: melhor. O inchaço diminuiu.
Rugge: passei o dia todo preocupado com você.
Kah: é mesmo?- sorri. A conversa com o gato pervertido poderia ser o ponto alto do encontro com Aspen.
Rugge: o que está fazendo agora, Karol?- li a mensagem como se ouvisse a voz sexy falando em meu ouvido. Os pelos dos meus braços arrepiaram. Meu corpo reagia intensamente a esse homem, apesar do que meu cérebro dizia.
Kah: estou em um encontro, na verdade- meu celular ficou quieto por um bom tempo. Comecei a pensar que a conversa tinha acabado, mas ele vibrou de novo.
Rugge: posso deduzir que não é um dos melhores se está mandando mensagem no meio do encontro?
Kah: seria uma dedução óbvia.
Rugge: como ele se chama?
Kah: por que quer saber?
Rugge: para ter um nome para associar ao homem por quem sinto uma antipatia repentina- sorri de novo para o telefone.
Kah: Aspen.
Rugge: ele é um idiota.
Kah: e você sabe disso por causa do nome dele?
Rugge: não. Sei disso porque você está trocando mensagens com outro homem durante o encontro.
Kah: suponho que não estaria mandando mensagens se estivesse com você.
Rugge: se estivesse comigo não ia nem lembrar do celular.
Kah: é mesmo?
Rugge: pode ter certeza- era estranho, mas eu concordava com ele. Suspirei e decidi contar os detalhes do meu lamentável encontro.
Kah: ele me levou a um funeral.
Rugge: no encontro?
Kah: isso.
Rugge: espero que esteja escrevendo para mim e andando para a estação de trem mais próxima.
Kah: o funeral é em Long Island. Estou meio presa, vou ter que ficar com ele até o fim da noite.
Rugge: tem mais, além do funeral?
Kah: sim. Depois ele vai me levar ao trabalho dele.
Rugge: como é que é?
Kah: hahaha.
Rugge: onde você está? Eu vou te buscar- isso era... uma gentileza do sr. Grande Babaca?
Kah: obrigada, mas está tudo bem- ele parou de mandar mensagens depois isso. Pior, Aspen voltou ao carro. As coisas declinaram progressivamente depois disso. Quando chegamos ao clube de comédia meu acompanhante bebeu duas vodcas com tônica. Quando mencionei que ele estava dirigindo e ia me levar para casa respondeu que conhecia seu limite. Aparentemente, não conhecia o meu. Três minutos depois de ele subir ao palco e contar as primeiras piadas ruins fui ao banheiro e de lá saí pela porta dos fundos. Onze dólares de táxi mais tarde, estava esperando o primeiro dos trens que teria que pegar para voltar para casa. Talvez eu tivesse que dar um tempo nessa coisa de encontros.

An Unforgettable Love [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora