Tudo estava bem... não é?

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        — Você ficou sabendo? Ontem, na Casa dos Gritos...

        — Ouvi dizer que fumaça vermelha que nem sangue saía das janelas...

        — A história que eu ouvi foi que ela pegou fogo do nada. Aí, escutaram os berros das almas torturadas...

        — Eu ouvi dizer que viram criancinhas entrar. Falaram que os fantasmas da Casa pegaram esses alunos. Todo aquele barulho foram eles agonizando... até a morte.

        — Realmente... As mesas parecem mais vazias hoje...

        Marcus e Lia espiavam as fofocas dos alunos ao passarem pela mesa da Grifinória. Quando se sentaram junto ao grupo, puderam largar as gargalhadas que tanto prendiam. O café da manhã de domingo começara com o pé direito, Lia pensava. Reascender a fama nacional da casa mal-assombrada não era pouca coisa. Ainda com os resquícios de risada tranquila em seu rosto, a menina se servia. Céus, aquilo era bom. Lia mal se lembrava da última vez que seu humor não era contaminado pelo risco de morte eminente.

        Entretanto, Rose se levantou e interrompeu toda a paz do café da manhã.

        — Vocês não vão acreditar! — O grito indignado da menina fez com que os primeiranistas saltassem do banco e que Lia quase se engasgasse com seu pão na manteiga. Rose pigarreou, preparando-se para ler a carta estendida em suas mãos. — "Querida Rose. Após toda sua participação, achei justo te dar uma satisfação. Está tudo bem, na medida do possível. Ele já foi enviado para onde deve. Avise seus primos. Vocês já podem ficar tranquilos. Foquem nos estudos! Com amor, mamãe".

        Rose deixou que suas mãos batessem na mesa e amassassem a carta. Sua careta possessa fuzilava os amigos silenciosos. "Lá vamos nós...", Lia pensou.

        — Eu não entendi... O que eu não iria acreditar? — Alvo cochichou sobre a mesa. — Vocês esqueceram de me contar alguma coisa?

        — Não, cara, eu te contei tudo — Marcus garantiu no mesmo tom de voz.

        — Depois de quase morrermos várias vezes, é só isso? É só isso que eu ganho?! — Rose balançou no ar a carta destroçada. Alguns segundanistas próximos à mesa a entreolharam com curiosidade, talvez devido à violência transpirando por seus poros. Os amigos, no entanto, não pareciam tão impressionados.

        — Você já não esperava que fosse assim? — Iv questionou, as cheias sobrancelhas franzidas em cautela. Ela tinha um quê de irritação em sua postura, mascarado pela voz fina e gentil. Lia precisou se segurar para não rir de nervoso. A menina tinha a impressão de que Iv ainda guardava mágoa pelas mentirinhas que ela e Rose contaram sobre Hogsmeade, a Ordem e o Homem Encapuzado.

        — Eu... eu concordo. Com a Rose. — John subitamente se fez ouvir. Ele umedeceu os lábios e se ajeitou no banco. O garoto parecia ter perdido todos os nutrientes que tinha no corpo, de tão pálidos que seus lábios estavam. Em voz apática, mal mantendo contato visual, John continuou: — Acho que merecemos saber mais. Sobre aquele cara.

         Lia franziu os lábios, não conseguindo achar mais tanta graça das mentirinhas. John fora pego completamente de surpresa no dia passado, tendo sido um baita primeiro encontro com um bruxo das trevas. Não podia culpá-lo por parecer tão abatido, anêmico, capenga e xoxo. Lembrando-se de como fora seu primeiro encontro em Hogsmeade com o Encapuzado, a menina estremeceu.

        — Ai, gente... — Lia franziu o rosto entre uma mordida e outra em seu pão. — Vocês já não estão cansados, não? Isso aí já acabou, história encerrada. Me dá um descanso, a temporada de Quadribol tá aí. Tem tanto assunto mais feliz... Espatifamento, ossos quebrados, balaçada na cabeça...

O Invasor de Hogwarts - ano 1Onde histórias criam vida. Descubra agora