Uma Sombra Sob o Luar

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Juliette desapareceu numa segunda-feira.

Na terça de manhã, ao ligar o celular e se deparar com a enxurrada de notificações divulgando o ocorrido, Sarah só conseguia pensar em uma coisa.

40 dias desde que o programa acabou de vez.

Após alguns minutos navegando pelos surtos e informações confusas da tag ONDE ESTÁ JULIETTE no twitter, ela encontrou uma matéria de um site de notícias confiável. Com o coração na boca, ela clicou no link.

40 dias que eu não falei com ela porque estávamos na "correria".

Seus olhos passaram correndo pela notícia, mas captaram o essencial. O sumiço foi percebido mais cedo naquele dia, depois que Juliette não apareceu para uma sessão de fotos. Entretanto, acreditavam que ela havia desaparecido na noite anterior, entre 23h30 e 00h – horário em que as câmeras do hotel em que estava hospedada em São Paulo pararam de funcionar. Fontes afirmavam que havia sinais de luta no quarto. E sangue.

O celular escorregou dos dedos de Sarah, colidindo com um baque na mesa de centro antes de cair no chão.

40 dias que fui covarde para mandar uma mensagem. Para tentar resolver as coisas. Para reafirmar que eu queria conversar com ela. Que eu me importava.

E agora posso não ter mais chance.

Ela não queria pensar isso. Juliette estava viva. Algo em seu coração lhe dizia que saberia se o pior tivesse acontecido.

Desaparecida entre 23h30 e 00h.

O mesmo momento em que tivera um mal estar horrível. Aconteceu a mesma coisa quando o avião da morena tinha arremetido três semanas atrás, embora bem mais leve. Sarah não admitiria isso para ninguém por receio de parecer louca, mas sentia uma conexão profunda com Juliette. E com Gil também – não era à toa que o G3 havia se formado. No entanto, havia uma diferença na sua relação com os dois. Gil era um porto seguro, estava acostumada a ter a amizade de pessoas como ele, enquanto Juliette era território inexplorado, no qual ela foi entrando devagarinho sem ao menos notar e, quando deu-se por si, já estava perdida. Sarah odiava estar perdida tanto quanto odiava ser feita de trouxa. E Juliette a olhava como se soubesse de algo que ela ignorava, como se percebesse a mesma conexão, mas, ao contrário de Sarah, entendesse exatamente o que significava. Isso a assustou mais do que qualquer coisa dentro daquela casa e a fez retrair-se em disparada de volta para um ambiente mais familiar, erguendo uma bela cerca de arame farpado ao redor de si numa vã tentativa de não se machucar.

O toque insistente de seu celular a despertou do torpor com um sobressalto. Sarah recuperou o aparelho do chão num impulso, sem se preocupar em checar o chamador.

— Alô?

— Amiga, tu viu as notícias? — a voz de Gil a cumprimentou e ela imediatamente soube que o amigo estava tão angustiado quanto ela.

— Vi. — ela murmurou, com a voz embargada. De repente, falar com Gil tornou tudo muito real e lágrimas quentes começaram a brotar em seus olhos, sem esperar por permissão. — Isso não pode tá acontecendo.

— Eu sei. — ela ouviu seu suspiro trêmulo do outro lado da linha. — Pior que tava com um pressentimento horrível ontem, um aperto da muléstia no coração o dia inteirinho... Agora só resta orar. Tenho fé que vai ficar tudo bem.

— Cê também não acha que ela...? — Sarah não completou o pensamento, temendo até mesmo pronunciar a palavra com "m".

— Não. — Gil foi rápido em responder. — Não. É terrível falar assim, mas a bicha tá rica e famosa, a probabilidade maior é que tenha sido um sequestro e logo vão ligar cobrando o resgate.

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