Minha mente sobrevoa até os mais altos nefastos lugares, mas agora, desconheço o meu eu.
Eu não sei se estou de quarentena, ou se a quarentena está em mim.
Quarto, parede, o som da cafeteira apitando lá no fogão, e a mesma música todo dia, o dia todo.
Eu já me descobri, me redescobri, já criei hobbies, já percebi que também não sou boa com eles, enfim, a quarentena.
Quem eu sou?
Sou a última peça de um fim apocalíptico ou sou apenas eu nesse mundo em autodestruição?Desligo a cafeteira, pego um pouco de café, e sento para assistir a TV.
Desligo em exatos 65 segundos, pois logo a dor bate em meu peito.
São tantas mortes
Eram tantas vidas
Cada vida, uma história
Cada história, um marco
De em cada marco, um fim.Não sei se é porque sinto o peso demais em tudo, mas ultimamente venho sentido o peso de cada vida que se vai partindo.
A quarentena nos afeta desde a hora de acordar, até a hora de irmos dormir.
E até nisso, quando conseguimos.Mas...
E se não estivéssemos em plena pandemia?Teríamos saúde mental?
Teríamos medo a cada fração de segundos para a Dona Morte não nos levar com com ela, ou levar alguém que está em nossa volta a qualquer tempo?São tantos "E se..."
Percebo também que nos tornamos refém do medo.
O medo do ponteiro do relógio que não sabe a hora de parar. Da vida que nasce e se evapora em nossas mãos, o medo que nos une para um mesmo inimigo, a Morte. Ainda ouço as preces, as preces ainda ecoam pelos mais altos murmúrios da fé humana.
Mas que esse momento que estamos vivendo, aprendemos apenas uma coisa: O relógio do ponteiro não para.
Mas a nossa vida sim,
Ela para.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sobre a Quarentena
Short StoryUm pequeno texto reflexivo sobre a vida após a Quarentena