ATO 1

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A inteligência torna a pessoa infeliz e solitária.

     O frio fora do instituo era tanto que Cristinne por um breve momento de lucidez pensou em voltar

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     O frio fora do instituo era tanto que Cristinne por um breve momento de lucidez pensou em voltar. Infelizmente se voltasse, não seria tão bem recepcionada como foi no dia em que nasceu, por exemplo. O nascimento de uma criança é sempre o momento mais importante de suas vidas, e não é porque estão nascendo, é porque a partir disto, começarão suas jornadas para servir. Cristinne foi muito bem cuidada mas agora percebe-se que cuspia no prato que comia a cada passo que dava distante do instituo. 

     Ela atravessou um matagal extenso, que mal dava para ver acima. Seu coração palpitava forte e seu corpo já não sentia frio de tanta adrenalina. As instalações não faziam parte da grande Metrópole, era isolada da urbanização justamente para manter o foco na educação das crianças. A garota não conseguiu ver muito além, mas avançava cada vez mais, com seus braços na frente para proteger seu rosto das vigas e de folhas mais cumpridas e afiadas. Quando Cristinne saiu daquele emaranhado de matos ela se deparou com uma grande floresta. Era a primeira vez em seus doze anos em que ela apreciava uma paisagem como aquela. Lugares como este só eram vistos e explicados nos grandes livros de enciclopédia do ensino fundamental. 

     Por um momento Cristinne ficou parada, vislumbrando tudo a sua volta. Ela também pode olhar para o céu com mais apreço mas o céu, como já conhecia não era nada mais que um manto negro infinito, e era graças a ele que aquela floresta parecia ainda mais sombria. Não havia outra escolha se não continuar avançando. 

     — A essa hora eu estaria deitada na minha cama, debaixo das minhas cobertas... Como fui burra — reclamou para ela mesma enquanto andava de passos pesados, franzindo a testa e esfregando suas mãos em seus braços. O silencio dominou o local. A única coisa que Cristinne escutava era o som do farfalhar de galhos e o barulho das gramas sendo amassadas por seu calçado. Em sua pequena mochila amarela haviam alguns acessórios que roubara do instituto, como uma lanterna, roupas, utensílios de higiene pessoal e biscoitos velhos em um pote de vidro para caso a fome gritasse. 

     Quando algo, além dos barulhos já mencionados surgiu por ali, Cristinne arregalou os olhos e parou de se mexer. Rapidamente sacou a lanterna de sua bolsa e acendeu com as mãos tremulas, podia ser do frio, como podia ser da tensão. 

     — Quem está aí? — dizia não querendo ouvir resposta. Ela jogava a luz da lanterna para todas as direções, mas tudo o que via era grandes troncos velhos por toda parte — estou armada! — mentiu. 

     — Eu sei que você não está, sua babaca — Uma voz ecoou do fundo da floresta. Quando Cristinne iluminou ali, pode ver uma menina com vestes maltrapidas, descalça e encapuzada que a encarava. Ela se aproximou de Cristinne enquanto a luz da lanterna tremia. Ao retirar o capuz, ela pode ver seu rosto, totalmente sujo, com algumas cicatrizes. Seus cabelos negros e grandes eram a única coisa bem cuidada.

     — Quem é você? Está me seguindo? — perguntou Cristinne.

     — Vou seguir você para quê? Esse território pertence ao meu senhor. É bom dar meia volta e cair fora! 

     — Senhor? 

     — Sim, estou servindo um senhor de idade. Já fazem cinco anos. 

     — Ah... meus parabéns. 

     — Cai fora da floresta antes que sofra as consequências. Cadê o seu adulto? Ele te deixa perambular por aí? — Questionou, olhando Cristinne dos pés a cabeça. No entanto, ela não respondeu. Não poderia dizer que era uma fugitiva da principal instituição da cidade, ninguém a ajudaria.

     — E o que você faz aqui? Não era para estar lá com o seu velho? — contornou, mas antes que a garota pudesse responde-la, outro barulho estranho ecoou pela floresta. Parecia vir na direção delas.

     — Essa não... — dizia a garota olhando para trás. Uma criatura de quatro patas, com dois metros de altura veio em sua direção. Era coberto por pelos negros e olhos amarelos. Parecia um lobo, mas suas orelhas eram pontudas e compridas. Quando avistou as meninas, começou a emitir um rosnado que eu tenho certeza, arrepiou todos os pelos de seus corpos. Era um sinal. Ele não veio para recepcionar as crianças.

     A garota de capuz saiu em disparada dali e deixou Cristinne sem muitas opções se não correr também. A criatura avançou e as perseguiu floresta adentro. O pulmão de Cristinne foi invadido pelo ar gélido daquela corrida mortal. Faltava ar, já que mal havia descansado da corrida anterior. Cristinne seguiu a garota, que pelo visto sabia exatamente para onde ir, e quando conseguiram sair da floresta, uma grande fazenda foi vista em um campo aberto. 

     Quando Cristinne viu a garota indo para a entrada do casarão, ficou mais aliviada por ter um local de refúgio mas era só um pensamento otimista da pobre criança, porque naquele momento, ao entrar pela porta, a garota de capuz não permitiu a entrada de Cristinne e a fechou quase em imediato. Cristinne bateu na porta inúmeras vezes e implorou para que pudesse entrar, enquanto a criatura rasgava o ar em sua direção. 

     Ao contrario dela, a garota de capuz obedecia as regras que lhe foram impostas desde que nascera. Jamais crie vínculos com ninguém. 

     Cristinne estava sozinha nessa. 

 

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Todo Monstro que Há em NósOnde histórias criam vida. Descubra agora