Capítulo 10

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Eduardo Toledo

Depois de deixar Jordana em casa, encontrei Ravi, um velho amigo, em um bar que costumávamos frequentar e bebi. Não deveria, estava dirigindo, mas o estresse e frustração em mim exigiam que eu os afogasse.

— Embriagai-vos! Deveis andar sempre embriagados. Tudo consiste nisso: eis a única questão. Para não sentirdes o fardo horrível do tempo, que vos quebra as espáduas, vergando-vos para o chão, é preciso que vos embriagueis sem descanso — Ravi recitou e eu me escorei na cadeira, depois de virar o resto do uísque — tá mal, hein, cara? — neguei com a cabeça. Estava bem, no entanto, frustrado, embriagado e contrariado.

Ficamos até quase quatro da manhã no bar, bebi mais do que devia e fui para casa. Dirigi devagar, pensando que poderia estar com Jordana, fazendo nosso passatempo preferido dos últimos tempos. Mas logo me convenci de que era melhor assim. Ela acabaria nos levando para a emoção e sairia machucada. Eu não poderia dar para ela mais do que isso, jamais conseguiria ser o que ela queria que eu fosse.

Colocar um fim definitivo nessa coisa com Luísa era a minha maior certeza no momento. Saí do elevador e entrei na sala do meu apartamento. Tropecei na tentativa de tirar os sapatos com os pés e os deixei pelo caminho. Subi as escadas enquanto desabotoava a camisa social e fui tirando a roupa no caminho para o banheiro. Parei, inflamado por Luísa estar sentada na cama.

— Já terminou o seu show? — ela perguntou e eu fechei os olhos por um momento. Comecei a rir. Eu deveria estar no meio do meu carma, pagando ele com as tramoias de Luísa.

— Show? — perguntei, cambaleando, mas tentei manter o equilíbrio — você fez aquele escândalo, me chamou de traidor, insultou quem não estava pra se defender e que não merecia, e eu que fiz um show?

— Sim. Negou nosso relacionamento, saiu e me deixou com cara de taxo naquela mesa, com nossos pais esperando uma explicação.

— Luísa — eu falei, a interrompendo e levei as mãos para a cabeça, tentando manter o foco — eu não quero brigar. Já disse pra você procurar outro cara, alguém que queira isso aí que você quer, porque comigo não vai rolar.

Como ela ficou quieta, eu fui para o banho. Fiquei sob a água por um longo tempo. Sabia que essa maluca não iria embora, então queria voltar para o quarto e encontrá-la dormindo.

Vesti uma calça de pijama e fui para a cama. Suspirei, com essa agonia, esse inconformismo me corroendo, mas ao mesmo tempo, eu conseguia me convencer que era melhor assim. Deveria comemorar Jordana não ceder, não ter vindo comigo, assim evitou o estresse por Luísa estar aqui. E eu acabaria arrumando outro problema, se ela se envolvesse demais.

Não consegui pegar no sono, fiquei olhando para cima, milhões de pensamentos incoerentes me dominando. Quis enviar pelo menos uma mensagem, pedir para conversarmos melhor e com calma, que eu queria continuar a vendo, mesmo que não fôssemos ter algo mais.

Luísa veio para mais perto, começou carícias maliciosas, mas segurei sua mão, levantei da cama e saí do quarto.

Pela manhã seguinte, ela me procurou no quarto de hóspedes, mas me levantei e fugi dela. Soltei o ar de uma vez e cobri o rosto com as mãos. Ela queria sexo apenas para insistir nessa encenação.

Quando saí do banheiro, já de banho tomado, ela estava sentada na beirada da cama.

— Vai me levar ao noivado da Chiara? — perguntou.

— Não. Não quero você e Chiara brigando no noivado dela.

— Não vamos brigar. E eu quero que as pessoas vejam que estamos juntos — ela fez um beiço — vou me trocar, almoçamos juntos?

Doce Tentação - volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora