A noite se passou tão vazia de eventos grandes quanto poderia.
Não sabia bem onde deveria pôr a tela para secar, mas o próprio Fallacy havia ido conferi-la consigo antes de a levar para onde quer que deveria ficar.
A arte realmente interessante sobre o breve encontro não foi exatamente o breve julgamento em si - principalmente porque foi quase todo silencioso -, mas que enquanto o olhava pronunciou dois ou três versos que lhe soaram familiares e perguntou sobre.
-- É um poema. Me admira que o conheça.
-- Bom... -- mais uma vez, teria que ter cuidado com as palavras, hm? É claro, deslizes são jeitos bobos de ter a máscara arrancada -- ... acho que devo ter ouvido em algum lugar. Não me lembro onde agora.
Pareceu dar o resultado esperado, pelo olhar de "ó doce rapaz verde" que recebeu. Podia não ser nobreza, mas foi burguês por bastante tempo, e sabe o tipo de olhar que um conhecedor entrega a alguém que se entrega como ignorante. Ou, no caso, se passa por.
-- Ter ouvido já é um rompimento de expectativas. Mas imagino que minha média se tornou subterrânea quando comparava. Nem todos têm acesso às linhas assim que surgem.-- Mas, para tal, não teria que ter conhecido o autor?
-- E é exatamente isso que estou dizendo.
As expressões que o de ossos negros formavam, eram sem dúvida fascinantes. Era incrível como um ser podia expressar tanto apenas com um leve movimento da boca ou dos olhos. Talvez estivesse a maioria da expressividade justamente nos olhos. O pensamento lhe dava sentimentos mistos, que pareciam se tornar norma quando perto do homem.
Ele voltou depois de a pintura ser deixada Deus-sabe-onde, aparentemente interessado no que tinha para compartilhar. Houve um ponto em que o encorajou a falar sobre si mesmo, e embora tivesse receio, havia um estranho conforto em sua presença, então se permitiu.
Houveram mentiras, para não desmanchar a teia que moldou, mas uma parte razoável era verdade, sobre crescer em um burgo. A tristeza que expressou ao falar sobre o "ex marido" não precisou ser simulada. Talvez fosse uma tolice, mas mesmo que só o tenha encontrado uma vez, ainda era o pai do seu filho, e o ponto de partida para a mudança de toda a sua vida.
Talvez tivesse se aprofundado demais, pois só havia se dado conta do quanto a distância havia se reduzido quando sentiu um toque gentil em seu rosto. Era a mão de Fallacy.
-- Possui minha total simpatia. Vem de alguém que também conhece a dor de uma viuvez precoce.
Merda! Merda! Merda! Merda!
-- É errado eu me sentir melhor com isso?-- É natural sentir conforto em não estar sozinho.
Sim... talvez fosse isso, mesmo que no fundo se sentisse mal por mentir sobre a natureza da separação.
Suspirando, pôs sua própria mão por cima da que tocava seu rosto.Esqueletos mágicos eram no mínimo estranhos, se permitisse dizer, em como os corpos funcionavam. Embora um esqueleto normal, tirado de um animal, seria rígido, apenas resistente ou frágil, a mão que lhe tocava parecia macia.
-- Imagino que esteja certo.
Mas, havia algo mais lá, podia ver naqueles olhos tão impressionantemente expressivos, algo o incomodando, que de certo não se atreveria a compartilhar com um qualquer como a si.
A retirada da mão, mesmo com aviso, deu a sensação de súbita que a postura havia dado antes.
-- De todo modo, continua igual foi nas outras noites.
-- Agradeço outra vez, mas receio que hoje não me juntarei. Peço que não veja como um descaso, simplesmente me sinto indisposto esta noite.
Talvez "incomodado" não fosse a palavra certa, mas não tinha certeza de qual outra usar. "Frustrado" lhe cruzou a mente, mas parecia inapropriado, pois insinuava uma hostilidade que não conseguia encontrar.
-- Compreendo. -- foi a única resposta que o mais velho ofereceu antes de começar a se retirar; mas, antes de sair, parou à porta e o fitou novamente, aquela emoção que não conseguia exatamente descrever nunca abandonando seu olhar -- Se estiver cansado, durma, mas somente aqui. Silêncio é tão incomum entre estas paredes que se pode ter mais medo dele do que da ausência, exceto em um espaço que é para alguém em específico e nenhum externo tem assunto algum dentro.
A última parte, Encre estaria mentindo se dissesse que entendeu, mas presumiu que significasse simplesmente que aquele era o único lugar onde teria garantido algum sossego, então concordou.
Foi só depois de ser deixado sozinho que ouviu outro som de passos tímidos, e para a sua surpresa, era Langer! Ele havia saído e não notara?! Parecia sorridente, no entanto, então parte das suas preocupações foram acalmadas.
Foi para perto da porta e se abaixou para levanta-lo.
-- Quando você saiu? Para onde foi? Menino, que susto.-- Eu fiquei perto. -- foi sua resposta, no tom manso que lhe era tão familiar -- saí enquanto estavam conversando, mas fiquei perto. Achei um moço bacana...
-- "Conheci", Langer. Um moço não é uma coisa para você achar.
-- Conheci um moço bacana.
-- Há mais gente aqui?
-- Não vimos antes, porque ele fica o tempo todo com outro moço ou no quarto dele. Pelo que ouvi, o nome dele é Suave.
-- Entendi. Mas sem andar sozinho por aí de novo, viu? Não se pode saber como uma pessoa vai agir se ficar sozinha com você, mesmo que na frente de outros seja bacana, entendeu?
-- Sim, mamãe.
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Vampire Verse - Sun and Moon
FanficEm uma área longe da capital, em um país essencialmente mandado pela igreja, festividades não cristãs eram o próprio fruto proibido. Mas, seria inocência demais achar que quem quer não daria um jeito. Encre podia não ter crenças, fossem cristãs ou...