Capítulo XXXII

983 95 0
                                    

Júlio já estava alguns dias internado, e pela previsão do médico a alta não demoraria, até aquele momento não havia recebido nenhuma visita da polícia, o que estranhou, mas agradeceu aos céus por isso, no entanto, a sua calmaria estava prestes a transformar-se em turbulência.

Dormindo, era o que fazia quando foi informado de que a polícia queria vê-lo, além da irritação ao ser desperto tão abruptamente, também havia medo em seu peito, e não tinha vergonha nenhuma de sentir isso, sabia que não conseguia ser frio em momentos como aquele assim como seu irmão fazia, então apreensivo, aguardou que os agentes entrassem.

– Bom dia. Fui enviado para ouvir o seu depoimento. – Henrique disse, cumprimentando discretamente Júlio, que não conseguia fazer o mesmo, definitivamente não era de sua natureza.

Que merda é essa? O que um federal tá fazendo aqui? Não era pra ser a polícia civil colhendo meu depoimento?! E logo você!

Com o maxilar tensionado, era visível o desconforto de Henrique. – De fato. A investigação realmente se iniciou na PC, mas o delegado da PF percebeu a importância que o seu caso tinha pra uma operação que estamos realizando.

– Você quer dizer com "operação", a perseguição que estão fazendo com o meu irmão.

– Isso aí é demais. Tu sabe tanto quanto eu, que não é perseguição! Ele realmente é tudo que a polícia diz ser, não há nada de ilusório nisso.

E tu sabe tanto quanto eu, que isso deverá continuar sendo apenas uma perseguição... – Sussurrou. – Pelo menos se quiseres se manter na polícia. Apesar da dor que eu tava sentindo, meus olhos continuavam funcionando perfeitamente bem, e lembro com nitidez de certas coisas.

– Se tu falar qualquer coisa sobre aquilo, tu vai prejudicar o teu próprio irmão.

– Isso! E o mesmo vale pra você, só queria te fazer lembrar disso. Manter a coisa em sigilo também interessa a você.

– Tu não nega o sangue mesmo... – Comentou Henrique, com escárnio. – Eu sei exatamente o peso do que eu fiz, mas o Kael não é como vocês, ele tem uma alma boa, só tá envolvido com as pessoas erradas.

Júlio o olhou surpreso. – Tu é a fim do cunhadinho! – Concluiu. – Nossa! Tem dor de cotovelo envolvida nisso tudo, né? – Definitivamente, Júlio não conseguia manter-se quieto.

– Vai se f... – Henrique começou a dizer, mas no último momento lembrou-se de que estava ali em condição de agente de polícia, e aquilo não seria o certo, não é porque a poucos dias havia feito algo extremamente errado, que a partir de agora quebraria todos os protocolos, então respirou fundo e acalmou-se. – O depoimento de Kael já foi conferido, agora precisamos apenas do teu, para confirmarem a história. Eu espero que tu não dificulte as coisas, já que foi uma grande sorte pra nós que tenha sido eu a ser enviado.

– Ok. – Disse Júlio, revirando os olhos em desdém. – Bem... nós estávamos perto de casa... – O contexto era o mesmo de Kael, e Júlio dedicou-se a contar o que haviam combinado antes, e por fim, na ultima pergunta, Henrique teve de questiona-lo sobre o conhecimento da morte de Alberto.

– O Alberto morreu? Como isso aconteceu? – Júlio disse sem qualquer lamento, suas palavras pareciam mais como uma atividade de ditado na escola, apenas para que Júlio inserisse a informação em suas anotações, o que provocou um estreitar de olhos de Henrique. – O que foi?

– Como é que tu consegue? Parece que não tem sentimento algum...

– É difícil criar bons sentimentos quando tu é ameaçado pelo o irmão, então não, não tenho sentimento mesmo, pelo menos agora não tenho que me preocupar até com a minha sombra... me sinto bem com a minha cabeça onde está. – Exclamou Júlio, mais querendo chocar Henrique, do que sendo sincero com seus sentimentos, já que mesmo que sua vida tivesse sido inúmeras vezes ameaçada por Alberto, não conseguiu evitar lamentar sua morte, ainda que tenha sido discreto, não queria que ninguém percebesse, sentia-se tolo por ainda nutrir qualquer afeto por ele.

Destinado a vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora