dejà vú

aquarela

quatro e quarenta da madrugada, e seus olhos não saíam da minha mente...
me remexia sobre a cama enquanto olhava o pequeno relógio na escrivaninha, quase não conseguindo fechar os olhos por sua causa, pelos seus olhos, aqueles olhos de toda a minha vida.
sentei impaciente sobre a beira da cama suspirando, eu sabia que quando se tratava dela, eu não conseguia dormir, coloquei as sandálias e caminhei até o studio.
preparando as telas e tintas enquanto o pincel se misturava entre cores aquarelas formando a cor do seus olhos, e eu só conseguia pensar, pensar o quanto mais a pintava, mas vivida ela ficava em minha mente.

— de novo?— yelena bocejou se aproximando.
—não conseguia dormir, então por que não?
— eu não sei de onde tem tanta criatividade, você não para um noite sequer pra descansar direito, eu sei o quanto você é ambiciosa, o quanto sonhou com toda essa fama, mas é só por isso mesmo?— exclamou sentando-se em meu lado enquanto observava o pequeno rabisco sobre a tela.
suspirei fundo enquanto ainda lançava o pincel — sabe, talvez nunca fosse ambição, você se lembra de quando éramos pequenas e eu sempre acordava assustada no meio da noite?
— com seus pesadelos diários?
—talvez não fossem, talvez fossem somente um aviso ou premonição seja lá o que eu acreditasse naquela época
— naquela época você só sonhava com aquela mulher e...— suspirou assustada. — espera ai, seus quadros.
—exatamente! é e sempre foi ela o motivo de "ambição" os sonhos ficavam mais reais a cada ano que se passava, eu não conseguia pensar em nada além dela, então foi o ano que papai me deu minha primeira tela, e eu pude..
— pintar aqueles olhos claros, eu lembro nat, eu lembro muito disso — sorriu ainda assustada.
—quem é ela? você acha que ela é real?
— na verdade eu não sei, eu viagem um ano inteiro a procura dessa pessoa, eu sentia a cada lugar que ia que ela estava mais perto do que imaginava, eu também queria saber se era realmente real.
—sei lá se não for, você a criou, acho que seria interessante se criasse um livro sobre isso? " a moça misteriosa" — brincou yelena.
gargalhamos por alguns minutos. — certo, eu vou dormir porque como uma boa empresaria da minha irmã, tenho que fechar contrato com a sua fotografa, pra exposição de amanhã , acho que devia ir dormir também e parar de pensar na misteriosa— sorriu dando as costas, permaneci ali, ainda entre os rabiscos imaginando se realmente pudesse existir... será que eu não procurei o suficiente? eu queria somente a oportunidade de apenas conhecer-la.
não sabia o porque ainda fechava os olhos no silêncio a só, pedindo pra alguma força superior a sorte de conhecer os olhos que tanto me fizeram sonhar acordada

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—puta merda você tá muito atrasada— Harley me acordou rapidamente.
—que???? onde eu tô?— ainda sonolenta quase não entendendo nada me levantei bocejando.
— cara, a exposição... Yelena está furiosa!!! você ta uma hora e meia atrasada porra!
pulei rapidamente correndo até o closet do meu quarto e trocando de roupa, Harley preparou minha bolsa e cuidou das ligações perdidas enquanto me arrumava
em seguida corremos de pressa até o carro enfrentando uma série de congestionamento de trânsito o que só piorava minha situação.
—porra com certeza os árabes não vão querer fechar contrato agora, que merda eu tinha na cabeça de ir dormir tão tarde.
— eu não sei não é? se você ouvisse sua irmã e sua secretária aqui — apontou para si mesma se gabando.
— sua baba ovo! só fala assim da Yelena porque quer dormir com ela.
— e você nem pra me ajudar não é? pensei que me amasse um pouco mais— fez bico.
—cala a boca e estaciona— rimos enquanto rapidamente saí do carro, correndo até o studio.
ao entrar todos os holofotes se viraram apara mim, com uma grande quantidade de fotógrafos e repórteres em minha direção ficava cada vez mais difícil de chegar até os quadros.
cumprimentei alguns, pedindo um tanto de espaço, os seguranças vieram ao meu encontro me ajudar a chegar até uma superfície segura.
— você é muito idiota, te liguei desde as sete e você só me ignora — yelena bufou cruzando os braços.
— vamos relaxar, o que adianta agora?— sorri lhe dando uma taça de champanhe.
— sua sorte que me tem na vida, resolvi tudo com os empresários, agora é só fechar contrato!
seguimos enquanto ainda continuávamos a tirar fotos, logo o resto da imprensa chegava.
tudo estava o mais perfeito possível até o pequeno momento...

não sei ao certo como aconteceu de meus olhos por tanto procurar aquele salão se cruzaram bem a frente, a frente do meu quadro mais precioso, ele estava ali, apenas esperando para ser admirado, junto com a sua presença.
tudo se tornou escuro quando se virou para a minha frente, tão distraída apenas observando e captando cada momento ali, ela era séria e um tanto cautelosa mas eu sabia o quanto seus olhos eram familiar.
de repente se esquivou, bem em frente do quadro, onde naquele segundo eu tinha a certeza, era ela!
os seus olhos, os olhos de tantos anos que vinham a me inspirar, seus lábios e tom albino da sua pele, seus cabelos loiros e a fora que sorria ao observar o momento.
rapidamente me afastei, como se tudo se tornasse escuro, como se não conseguisse ouvir nada além de um silêncio, sentia meu coração bater o mais rápido possível ao por a mão sobre meu peito.
eu não podia acreditar que depois de tantos anos a procurando justamente iria encontrar ela ali, era ela... com seus olhos que me tiravam a concentração.