Juliette Freire.
Eu não sabia como me portar agora ou o que esperar dela. Sentia o seu cheiro almiscarado impregnado em mim e o seu corpo colado ao meu.
Era incrível, mas eu ainda a desejava. Parecia vício, que ia me dominando cada vez mais. Fiquei com medo daquele sentimento, ainda mais sabendo o que ela pensava sobre mim.
Fui envolvida pela vergonha ao pensar nas acusações que ela fizera. Devia achar que eu traía Bil com vários homens, que era experiente e aproveitadora. Se ela soubesse que era a única além de meu marido, com quem eu já fui para a cama e que era a primeira a me tocar em mais de dois ano, com certeza não acreditaria.
Sarah moveu-se na cama e eu afastei-me quando ela se levantou. Correu os dedos entre os cabelos loiros desajeitados e me olhou. Encarei-a de volta, ela não falou nada sobre o modo como me tratava ou de quando quase me estuprava. Seu olhar era sério e sem expressão.
- É melhor a gente tomar um banho e comer alguma coisa. Estou faminta.
Não esperou a resposta e foi para o banheiro. Fiquei quieta, ela estava fria novamente.
...
Tomamos banho separadas e depois fomos para o terraço. Sarah havia encomendado comida francesa em um delicioso restaurante e nós jantamos em volta de uma pequena mesa, perto da piscina. Eu estava com a minha roupa de quando cheguei ao apartamento e ela apenas de cueca boxer, que a deixava maravilhosamente sexy e uma camiseta branca larga.
Comemos quase sem conversar, com uma frieza palpável entre nós. Eu nunca havia experimentado uma comida e um vinho tão bom, mas a tensão me fez até perder a fome. Eu queria saber a verdade, eu precisava saber se ela havia mesmo estuprado aquela garota. Eu tinha que saber com quem eu estava lidando, para ao menos poder preparar o meu psicológico.
- Sarah... - Chamei ela baixinho. A loira levantou o olhar para mim, levando uma garfada de comida a boca.
- Hum? - Ela disse mastigando.
- É verdade? - Sarah me olhou confusa, com o cenho franzido.
- O que exatamente? - Engoli em seco, nervosa, mas eu não conseguia ver outro momento para perguntar isso.
- Você estuprou aquela garota? - Vi ela soltar os talheres sobre o prato imediatamente, me olhando com uma feição indecifrável.
- Você não acredita em mim? Eu não menti quando disse que nunca estuprei uma mulher na vida. - Ela disse me olhando nos olhos, aparentemente triste.
Ela parecia estar falando a verdade. Eu conseguia ver nos olhos dela que havia se arrependido do que tinha feito comigo mais cedo. Eu consegui ver a feição dela mudar no instante em que eu fiz a pergunta. Sua pose superior tinha dado lugar para uma mulher frágil, que precisava de atenção e carinho, algo que eu acho que ela nunca tenha ganhado.
- Você realmente quer saber o que aconteceu? - Ela disse em voz baixa, quase em um sussurro.
Fiz que sim com a cabeça, com um pouco de medo das coisas que eu poderia ouvir.
- Bom... - Sarah falou antes de limpar a boca com o guardanapo e ajeitá-lo novamente na perna. - Eu e Vitória realmente nos envolvemos. Ficamos juntas por uns três meses eu acho, não sei direito. - Ela deu de ombros. - Mas eu não queria expor o nosso "relacionamento". - Sarah fez aspas com os dedos. - Porque na época ela tinha apenas dezesseis anos e eu trinta. Na verdade eu não queria expor ela, por conta das nossas diferenças de idade, só que ela não compreendia isso. E queria que queria assumir nosso namoro. Então em uma certa noite nós acabamos discutindo mais uma vez por causa disso, e eu acabei concluindo que a melhor coisa a ser feita era romper qualquer laço com ela. Ela ficou louca, transtornada, quebrou várias coisas daqui de casa. - Sarah ergueu os lábios em um sorriso mínimo. - Foi uma noite muito louca.
Fiquei olhando Sarah atentamente, que observava algum ponto atrás de mim, como se estivesse lembrando de alguma coisa.
- Até que dois dias depois eu recebi uma intimação para aparecer na delegacia, porque estava sendo acusada de estupro. Eu na hora não conseguia acreditar naquilo. Eu fiquei possessa. A minha vontade era de ir até a casa de Vitória e fazer ela desmanchar toda a merda que ela fez, mas eu sabia que isso iria me causar ainda mais problemas, então fui para a delegacia com a minha advogada, dei meu depoimento, falei tudo que aconteceu naquela noite, tudo na maior calma possível, mas eles não falaram nada das coisas que a Vitória tinha dito, não mostraram laudo médico, nada, eu estava no escuro. - Sarah suspirou pesado. - Fui liberada umas três horas depois, a frente da delegacia estava cheia de repórteres, paparazzis querendo saber a minha versão do caso, mas minha advogada disse para não falar nada na hora e assim eu fiz.
Fiquei escutando tudo atentamente, apenas concordando tudo que ela dizia com a cabeça, como se eu fosse aqueles cachorrinhos de enfeites que ficavam balançando a cabeça.
- Como eu sei que a lei geralmente fica do lado da vítima nesses casos, logo contatei uma empresa de detetives particulares, e eu acabei por descobrir por mensagens de textos e ligações do celular dela, que Vitória estava grávida, só que o filho não era meu.
- Como não? - Perguntei um pouco intrigada e chocada.
- Eu fiz vasectomia. - No momento em que ela terminou de falar meus olhos se arregalaram e minha boca se abriu em um perfeito O.
Puta que pariu! A Vitória traía a Sarah.
Eu estava em choque com a revelação que ela acabara de fazer.
Sarah com certeza não devia ter gostado nenhum pouco disso.
Eu tenho certeza que seu ego tinha sido ferido.
Sarah riu da provável careta que eu fiz.
- Ela não sabia disso, na verdade ninguém sabia além do meu médico. Aí eu entendi o que ela realmente queria, ela não queria apenas assumir um compromisso comigo, ela queria que eu assumisse o filho dela, porque o rapaz com quem ela se envolvia era um pobre coitado que não tinha onde cair morto. - Um riso anasalado foi solto por ela, enquanto balançava a cabeça em negação. - Descobrindo isso, logo os detetives foram investigar como os laudos tinham comprovado o abuso. Os pais de Vitória, que são advogados, haviam comprado os médicos do IML. No minuto em que eu fiquei sabendo disso, entrei em contato com Vitória e fiz uma proposta para ela, que se ela não parasse de continuar mentindo, de ficar me incriminando para a mídia, eu iria jogar toda a verdade no ventilador. A carreira dos pais dela seria destruída, ela iria parar em um colégio interno ou então até mesmo em uma clínica psiquiátrica, porque uma pessoa que faz isso é louca.
Sarah levou a taça de vinho à boca com um pequeno sorriso no canto dos lábios e com muita calma.
- Como ela não é boba nem nada, ela aceitou de primeira. Ela sabia que eu podia destruir a vida dela em um simples estalar de dedos. - Ela disse devolvendo a taça à mesa. - Depois disso foi muito fácil fazer as pessoas esquecerem sobre o caso, eu paguei os investigadores do caso para darem um fim no processo e arquivarem ele e paguei também alguns jornais influentes para dizer que o caso foi arquivado por falta de provas. - Sarah dizia na maior naturalidade, como se ela dissesse que pagou por algo bobo e sem importância.
Dizer que eu não estava em choque com todas as coisas que Sarah me contara, eu estaria mentindo. Queria poder entender como alguém podia agir tão friamente como Vitória. Trai-la e acusá-la de algo que nunca fez e ainda por cima colocar os pais no meio da própria bagunça, fazendo eles lidarem com todo o trabalho sujo para ferrar ainda mais com Sarah.
Sarah não é nem um anjo, mas seria muito melhor se Vitória tivesse dito sobre sua gravidez à ela. Pelo pouco que conheço de Sarah, percebi que ela não gosta de mentiras, e isso com certeza provocou ainda mais a sua ira. Tudo poderia ter sido diferente se Vitória tivesse dito a verdade, Sarah até mesmo poderia assumir um filho que não era dela, porque eu conseguia sentir que Sarah ainda tinha um certo carinho pela garota, pois mesmo ela sendo rude e grosseira na maioria do tempo, eu percebia também que ela tinha seu lado carinhoso, quando queria, é claro.
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CHANTAGEM - SARIETTE
RomanceJuliette encontrará o ódio e o amor na figura de uma mulher do passado.