Capítulo 1

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Acordo com o alarme tocando, me sento na cama e como de costume, coloco a minha música predileta "I Will Never Let You Down - Rita Ora" para tocar e me energizar. Abro a cortina e me deparo com um lindo dia de sol lá fora, além da belíssima vista da ponte Oakland Bay.

Danço emitindo boas energias, ao mesmo tempo que tomo cuidado para não cair, pois ainda estou morrendo de sono. Na sequência, sigo para o banheiro com a intenção de realizar a minha rotina matinal de sempre.

— Que espinha é essa? — resmungo. Falhei com a skin care.

Debaixo do chuveiro, a água morna escorre pelo meu corpo, levando todo o meu sono embora. Tomo o meu banho com calma, porque ainda estou de férias da universidade, e quando termino, vou em direção ao meu closet, paro e penso no que vestir. Normalmente em casa, eu costumo usar camisetas básicas, shorts de alfaiataria ou algum moletom. Opto então por vestir um short branco cintura alta, com uma blusinha folgada e mais caída no ombro, na cor azul-escuro. Solto o cabelo que eu resolvi não lavar hoje, o penteio para alinhar os fios e, como de costume, vou tomar café da manhã com o meu pai; mesmo de férias, acordo cedo para vê-lo, depois disso só consigo vê-lo a noite.

— Bom dia, pai. Deve ter um bom motivo para não ter me esperado hoje. — Dou um beijo na sua cabeça e me sento à mesa com ele.

— Filha, bom dia. Hoje me antecipei, tenho reunião na empresa e não posso me atrasar. O Eduardo está à minha espera. Quer café?

O meu pai, Dimitri Hills como é conhecido, é advogado e possui um escritório de advocacia, onde Eduardo Greenwood, pai do meu namorado, é sócio. Tentando ser bem modesta, ele possui o melhor escritório de advocacia de São Francisco. Ou melhor dizendo, de toda a Califórnia. Mas, ser tão notório assim, tem o seu lado negativo. O meu pai sempre anda muito ocupado e, também, sem muito tempo livre para nós como antes.

— Quero sim, pai, obrigada.

Maria entra na sala, trazendo morangos porque sabe que amo. Ela é a nossa governanta desde que eu me entendo por gente, mas, para mim, vai muito além disso, é como uma mãe. A minha mãe, Caroline, morreu quando eu tinha apenas seis anos, em um acidente de carro. Ela estava voltando de uma consulta médica, e Maria, que já trabalhava conosco dois anos antes, deu todo o suporte necessário ao meu pai.

Observo-a colocando os morangos sobre as panquecas em meu prato e me olhando com aquele olhar doce de sempre. Seus olhos castanho-escuros entregam o cuidado que tem comigo. Maria hoje tem cinquenta e cinco anos, é viúva assim como o meu pai, e tem dois filhos casados que já não moram mais com ela. Ela vive só, em um bairro do outro lado da cidade e, apesar de já termos conversado sobre aposentadoria, Maria não aceitou. Ela ama estar aqui, ama cuidar de mim e do meu pai, e sei que fazemos muito bem a ela.

Enquanto serve mais café para o meu pai, recordo-me do quão forte ela é, mesmo depois de tudo o que passou, mas Maria sempre soube superar os obstáculos e assim me ensinou, que a vida não é fácil, mas devemos sempre caminhar com otimismo e fé. Ela também tentou passar esse ensinamento ao meu pai, que até hoje não superou bem a perda da minha mãe e nunca mais se relacionou com ninguém.

— Maria, bom dia! — digo, enquanto lhe dou um forte abraço.

— Bom dia, meu amor! — Sinto suas mãos acariciando o meu cabelo enquanto tomo um gole do meu café. — Dormiu bem?

— Dormi sim — Apoio a caneca sobre a mesa. — Achei que não viesse hoje, Maria, você disse que tinha consulta com o clínico... — menciono, com um semblante preocupado e curioso.

— Foi remarcado, talvez na semana que vem, mas não se preocupe, Nique, é apenas uma consulta de rotina.

— Está bem, assim fico tranquila.

Sigo tomando o meu delicioso café enquanto o meu pai leva mais tempo que deveria para tomar o dele, afinal de contas não sai do telefone. Ele trabalha com vários advogados do país, mas alguns clientes, o meu pai se encarrega de tratar pessoalmente. Sem que perceba, o observo enquanto penso no porquê de ele até hoje não ter se envolvido com mais nenhuma outra mulher. A perda é difícil de superar, mas é preciso. Devemos seguir em frente porque faz parte da vida. A minha mãe sempre estará em meu coração, mesmo que eu tenha vivido tão pouco ao seu lado.

O meu pai é um homem muito bonito, charmoso e ainda bem jovem; tem quarenta e cinco anos. O seu cabelo repleto de fios loiro-escuros está igual ao de quando eu era pequena, com a diferença de que hoje está curto e com um leve topete para cima, deixando-o ainda mais jovem e atraente. Os seus olhos verdes brilham à luz do dia e a pele clara, é levemente bronzeada pelo sol. O seu rosto bem definido possui algumas marcas por falta de cuidado quando jovem, mas a barba fininha disfarça algumas delas. Não posso esquecer que ele, apesar de trabalhar muito, sempre cuidou da saúde e do físico, conquistando assim o famoso tanquinho, arrancando diversos suspiros das minhas amigas Anna e Nina, sempre que estamos na piscina.

— Filha, preciso mesmo ir. Queria que você não saísse hoje à noite, quero conversar com você.

Sempre que o meu pai diz que quer falar comigo, fica uma incógnita no ar. Nunca dá para saber o que vem por aí, ele sempre está ocupado e com pressa, mal consigo ver as suas expressões faciais.

Ele se levanta e pega a pasta.

— Algo que eu preciso me preocupar? — pergunto, mas ele nem me ouve; simplesmente abre a porta e vai embora. — Ele precisa de férias! — esbravejo, ainda sentada à mesa.

— Eu sei o que ele quer falar — ouço Maria dizer da cozinha. De imediato, corro até ela e pergunto do que se trata.

Preciso admitir, Maria me mima muito, sempre me conta as coisas que ouve e, claro, me ajuda demais. Dessa forma, eu já me preparo para argumentar, embora quase sempre eu perca. Devo esquecer que ele é bom nos argumentos, não é?

— Por favor, Maria, o que você sabe?

— Nique, vou te falar, mas já sabe, não é? Cuidado para o senhor Dimitri não desconfiar que eu te contei, caso contrário estou frita.

Ela fala bem sério neste momento.

Confesso que, dependendo do que seja, preciso fazer muito esforço para não querer resolver as coisas no mesmo momento, mas isso a entregaria e o meu pai sacaria na hora.

— Você sabe que eu não falo, sempre disfarço e me faço de boba. — digo, rindo das minhas técnicas ridículas de tentar enganar o meu pai, enquanto enrolo com a pontinha do dedo alguns fios brancos do seu cabelo.

— O escutei hoje cedo no telefone. Parece que vão mandar um rapaz lá no escritório para o seu pai entrevistar. Pelo que eu entendi, é para ser motorista.

— Sério? — Franzo o cenho, estranhando a situação. — Motorista para quem?

— Na verdade, para você, Nique. — Maria afirma, me encarando e, acredito que está pensando que é agora que eu irei surtar e ligar para o meu pai, irritadíssima.

— Ele está louco?! É o fim! Não preciso de um motorista! — Me recosto à pia e cruzo os braços, bufando chateada. — O meu pai sempre tenta controlar os meus passos!

— Ele se preocupa, menina. As aulas vão retornar e o seu namorado tem uma moto, não é? Desta vez, estou do lado do seu pai, Nique.

— Maria, esse ano eu completo vinte e um anos, mas tenho a impressão de que o meu pai nunca vai admitir que eu cresci.

Retorno para o meu quarto e tento pensar com calma nos prós e nos contras de ter um motorista. Não gosto nem um pouco da ideia, me sinto sempre dependente e vigiada, mas tento compreendê-lo; tem medo, não suportaria perder a filha também.

Decido não questioná-lo, aceitar a ideia e ver como funciona isso na prática. O meu pai é super protetor, às vezes exagera, mas ele costuma me ouvir e debater, mesmo que normalmente nunca aceite as minhas condições.

Solto um longo suspiro, deitada em minha cama.

Batidas na porta invadem o meu quarto, me roubando dos meus pensamentos; a mesma se abre, e logo vejo aquele lindo sorriso e um olhar penetrante.

Noah, meu namorado.

Você Me Pertence - DEGUSTAÇÃO.Onde histórias criam vida. Descubra agora