– Como assim você vai se casar? Você é muito nova! – disse a mãe de Ana no segundo que ela contou a novidade.
– Nem pensar! – disse o pai.
– Isso não é discutível! Eu já disse para vocês mil vezes que a Isabelle é a mulher com quem eu vou passar a vida! Está na hora de vocês aceitarem isso! – disse Ana.
– Mas você ainda pode mudar de ideia, filha – disse a mãe mais amena.
– Tira essa ideia maluca da sua cabeça, Ana Luiza! – disse o pai bravo – Eu paro de te sustentar nesse segundo! Você nem sai mais de casa! Tiro tudo de você! – ele disse tão irritado, como ele nunca estivera antes.
Ana Luiza se sentia exausta. Ela poderia gritar, espernear, mas tudo que ela teve forças para fazer foi chorar. Não porque os pais poderiam impedi-la de ficar com Belle, nem porque eles poderiam parar de sustentá-la. Nada, abusolutamente nada disso funcionaria. O motivo pelo qual ela realmente chorava era porque os pais não faziam parte de sua vida, e parecia que nunca fariam.
Ela chorava como nunca antes. O pai, surpreso, até reduziu o estresse, sem saber o que fazer. A mãe, com o coração no peito, sentou ao lado da filha e tentou amenizar a situação.
– Eu e seu pai só queremos o que é melhor para você, minha filha.
– Vocês querem o que é melhor para vocês! – disse chorando ainda mais, uivando de tanto chorar, gemendo de tanto chorar.
– Ana, a gente não quer que você sofra! – disse o pai sentando-se do outro lado de Ana Luiza.
– Vocês não entendem! Vocês são as únicas pessoas que me fazem sofrer! – respirou fundo e tentou prender o choro para continuar a falar - Vocês vivem dizendo que querem me proteger do preconceito, mas o único lugar onde eu sofro preconceito é dentro da minha propria casa!
Os pais se entreolharam e pela primeira vez admitiram dentro deles que ela estava certa.
– Meus amigos me aceitam como eu sou, minha namorada e meus sogros me aceitam e me ajudam a ser feliz enquanto meus próprios pais me criticam, brigam comigo, me impedem de fazer as coisas. Tudo que eu faço para vocês é ruim! Vocês não aprovam a faculdade que eu escolhi, a profissão que eu escolhi, a namorada que eu escolhi! Nada é suficiente! Tudo é ruim!
Nesse momento o pai e a mãe começaram a chorar, sentindo a culpa que lhes pesava. Pela primeira vez sentiam o sofrimento tão claro na própria filha, o qual eles mesmos estavam causando.
– Será que eu sou tudo que vocês não querem que eu seja? Será que eu sou mesmo essa filha tão horrível que só causa desgosto? – Ana perguntou, já chorando bem menos.
– Não é isso, filha... Nós te amamos e temos muito orgulho de você – disse a mãe.
– Não parece! Todas as minhas conquistas vocês desprezam! – disse irritada – Ontem foi um dos dias mais importantes da minha vida! Eu pedi a mulher que eu amo em casamento! Foi lindo e eu venho compartilhar com vocês e vocês me criticam! – Ana volta a chorar pouquinho – Mês passsado consegui a bolsa que eu queria e vocês criticaram minha faculade mais uma vez, a mesma coisa quando eu passei para a faculdade...
– Não é isso, filha... É que você pode tão mais! – disse a mãe, enquanto o pai continuava calado, com lágrimas nos olhos.
– Mas eu não quero mais! Eu quero extamente o que eu tenho! A única coisa que eu queria era o apoio de vocês... Será que vocês não podem fazer um esforço e gostar um pouquinho de mim?
– Nós te amamos! – disse a mãe.
– Não parece que me amam, já que não gostam de nada na minha vida... Tem anos que eu não ouço um elogio... Eu não aguento mais! – disse Ana se acabando de chorar novamente – Eu não aguento mais!
O pai a abraçou a filha, sendo verdadeiramente um pai. Chorava compulsivamente, como Ana nunca havia visto. A mãe aproveitou para abraçar também e os três ficaram em silêncio por algum tempo, até João quebrar o silêncio.
– Me perdoa, filha... Me perdoa... Você merece mais de nós... Nos perdoa – ele disse muito emocionado.
– A gente está feliz por você, minha filha – disse a mãe – É muito difícil para a gente aceitar, mas eu não quero mais te fazer sofrer. Vou me esforçar, está bem?
– Obrigada! – disse Ana muito emocionada – Eu preciso muito de vocês! Quero que vocês façam parte da minha vida!
– Vamos fazer, filha – disse o pai.
Depois de alguns minutos em silêncio, ainda abraçados, eles foram parando de chorar, se recompondo. E ao final do abraço, João olhou para Andréia e então falou para Ana.
– Nós queremos fazer parte da sua vida e vamos nos esforçar. Parabéns pelo casamento, minha filha, vamos ficar felizes por vocês!
– Obrigada, pai! Isso é muito importante para mim!
– Conta para a gente, filha... Como foi esse pedido? – pediu a mãe, tentando se esforçar para melhorar o clima – Vamos recomeçar, está bem?
Ana Luiza sorriu e começou a narrar a cena. Sentiu que os pais estavam desconfortáveis e contou de maneira resumida. Depois todos decidiram sair para jantar e durante a refeição Ana narrou seu trabalho como pesquisadora, dizendo o que gostava de fazer e em como sentia vontade de começar a trabalhar como professora. Dessa maneira, pela primeira vez em anos, a família teve uma boa conversa, sincera e aceitável.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Estrelas Verdes
RomanceIsabelle é nova na cidade e tem um passado doloroso que a impede de sorrir livremente. Isso até conhecer Ana Luiza, que muda a sua vida completamente.