Capítulo 2

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Francine estava andando sozinha em um corredor já fazia algum tempo. Ela sentia que ela conhecia aquele lugar de seus outros sonhos enquanto olhava para as paredes brancas amareladas e descascadas. Parecia o corredor de um hotel velho. Papel de parede gasto, portas velhas, e em cima de cada porta, uma identificação, mas ao invés de números para cada quarto, havia desenhos. A maioria era desenhos borrados, ela conseguia identificar que ela tinha desenhado aquilo, mas não se lembrava quando. Ela parou para analisar um dos desenhos de cima da porta. Era o desenho de uma adolescente parecida com ela com um macacão e um sorriso bonito. Ela estava na frente do que parecia ser uma escola, e então, Francine percebeu que o desenho era ela sorrindo na frente da escola que ela costumava ir. Quando tentou abrir a porta, ao invés de ver a sua escola, sentiu-se abrindo os olhos e acordando daquele sonho.

Não era a primeira vez que Francine sonhava com aquele corredor de memórias. Ela sabia que dentro de cada porta, havia uma memória que não lembrava direito de seu passado. Ela poderia observar cada desenho e toda vez, o desenho em cima da porta estava mais embaçado ou menos desenhado, e toda vez que ela tentava entrar para lembrar-se da memória, ela acordava ou se encontrava de volta no mesmo corredor. Ela acordava sentindo que seu subconsciente estava tentando conversar com ela, mas ela não sabia exatamente o que ele estava querendo dizer.

Agora era quatro horas da manhã de uma segunda feira e Francine não conseguiria mais voltar a dormir. Ela suspirou fundo e ficou encarando o teto, sua mente antes calma durante o sonho, agora que estava acordada, voltou a fazer ela se preocupar. E, com a preocupação e pensamentos acelerados, veio a dor de cabeça de novo. De olhos fechados, Francine pensou em Adeline, tentando se lembrar da vida que costumava ter com a amiga tanto tempo atrás. Não importava o quanto Francine se esforçava, ela não conseguia se lembrar de ter visto o rosto de Adeline no passado. Tentou lembrar-se das criancisses que sua mãe disse que elas faziam trancadas em seu quarto, sem sucesso.

Francine não conseguia parar de pensar na vida que Adeline teria que enfrentar agora. Ela já tinha visto outras histórias como a dela. Histórias em que uma criança tinha sumido com dez anos, e, anos depois, a mesma criança aparece novamente em outro canto do mundo, sem ter envelhecido um dia. Mas claro, ela tinha visto essa história em uma série de ficção, a mesma série de ficção que mostrava, na mesma temporada, um caso de uma mulher que engravidou e entrou em trabalho de parto na mesma noite. Ficção cientifica.

Francine precisou pegar seu celular para ver outras histórias parecidas na internet, para, não somente se convencer de que aquele tipo de coisa poderia acontecer, mas também para poder ter uma noção de como que seria a vida de Adeline agora. Porque, sendo honesta consigo mesma, Francine percebeu que estava confusa. Era uma coisa completamente diferente ver essa notícia sem conhecer a criança, mas Francine (supostamente) conhecia Adeline. Conheceu. Pelas histórias de sua mãe, elas eram grudadas como unha e carne. Então, como que uma sumiu e a outra simplesmente continuou a viver, sem nenhuma lembrança da outra? Será que Adeline na verdade nunca existiu e era apenas uma fabricação da verdade? Mas se fosse o caso, elas não teriam tirado fotos juntas.

O que assustava Francine era a possibilidade de ela ter visto o que aconteceu com Adeline por estar sempre com ela e como forma de seu cérebro se proteger, ele simplesmente "deletou" todas as memórias que Francine tinha de Adeline. Mas quanto mais Francine pensava em sua infãncia, percebeu que seu cérebro não deletou somente Adeline, mas sua infância inteira. Ela lembrava apenas de cenas curtas, imagens fracas e borradas. Não deu importância para isso, afinal, era isso que acontecia quando alguém envelhecia.

No momento em que Francine pegou o celular, viu que tinha mensagens no seu grupo de faculdade. As mensagens tinham sido mandadas para ela depois que já estava dormindo, as dez horas da noite, quase onze. Elas perguntavam, mais uma vez, se ela já tinha terminado a parte dela do trabalho. Francine resmungou consigo mesma e desligou o celular e virou-se para o lado. Ela odiava quando suas colegas de faculdade a enchiam o saco por causa daquela porcaria de trabalho. Elas eram o motivo do porquê que Francine estava fazendo questão de faltar aquela semana inteira de aula. Toda vez que ela via Barbara e as outras vindo até ela, Francine se escondia no banheiro. Antes de começar a fazer o trabalho junto com elas, Francine até gostava de Barbara, mas agora, o desgosto tinha aumentado. Ela não fazia mais questão nenhuma de ter ela no grupo.

FrancineOnde histórias criam vida. Descubra agora