A predadora

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Era sexta feira por volta das 18 horas e eu voltava para casa depois de uma semana pesada de trabalho. Meus cabelos já insistiam em sair do coque milimetricamente calculado para segurar todos os fios, minha farda branca já pedia uma lavanderia quando entrei no ônibus lotado.

O veículo de, com certeza, mais de 10 anos já tinha partes de ferrugem nas paredes e corrimão, e os assentos acolchoados possuíam pontos de corte no estofamento. Fiquei parada, em pé, logo após a catraca, uma das mãos na barra acima da minha cabeça e a outra no encosto da poltrona à frente.

O motorista fez uma curva longa saindo da avenida Brasil em direção a linha amarela, precisei segurar com tanta força que minhas mãos ficaram doloridas. Logo após isso um ponto de ônibus, algumas pessoas entraram e me vi obrigada a chegar um pouco mais para trás.

No próximo ponto, saída 7 da linha amarela, muitos desceram, consegui me sentar, sozinha em um banco no meio do carro. Não havia mais pessoas em pé. O veículo acelerou, próxima parada agora só na gardênia, e isso, por sorte, levaria uns 30 minutos, relaxei e encostei minha testa no vidro turvo com a poeira.

Olhei para o lado e vi um rapaz me olhando, moreno com os cabelos castanhos claros muito bem cortados, olhos cor de mel e pele queimada do sol escaldante do rio de janeiro, aparentava ser bem alto e muito musculoso, os botões de sua blusa branca lutavam para ficar no lugar, os primeiros pareciam não terem resistido e abriram até a altura inferior do esterno. Não tinha mais de 30 anos.

Quando nossos olhos se cruzaram ele fez o movimento de jogar as pernas para a esquerda e endireitou o corpo para ficar quase de frente para mim. Baixei a cabeça mas não resisti e fiz o mesmo movimento, ficando frente a frente com ele. O livro que levava nas mãos já não tinha mais a mesma graça e cada centímetro do corpo daquele rapaz me chamava mais a atenção do que qualquer trocada de marcha errada que o motorista dava.

O trânsito parou perto da cidade de Deus. Não chegaria tão cedo em casa, mas sinceramente, com a paisagem que eu via, não estava nem um pouco afim que isso acontecesse.

Foram mais 20 minutos até o veículo virar na avenida Abelardo Bueno. Sabia que estava chegando perto de onde deveria descer mas por alguma razão torcia para um trânsito pesado ou a quebra do veículo.

Acho que eu estava com sorte naquele dia. No primeiro ponto da avenida ao tentar reiniciar a trajetória o motor do ônibus parou. Uma, duas, três tentativas de ligar o carro sem sucesso. O motorista abriu todas as portas e pediu que nós desembarcassemos. Peguei em minha bolsa um pedaço de papel e uma caneta, anotei o meu telefone e dobrei o papel segurando-o na mão. Fui a última a descer. Os passageiros se amontoavam perto do motorista que parecia ansioso no celular.

Desci e com os olhos procurei o rapaz. Ele estava perto da parte traseira do veículo se preparando para fumar o que parecia um cigarro de palha. Cheguei perto e estendi minha mão com o pequeno pedaço de papel: 

-Qual o seu nome?

-José. - ele guardou o cigarro e o isqueiro no bolso.

-Quantos anos você tem, José?

-Vinte e nove.

-Nossa, tão novinho. - cheguei mais perto e colei meu corpo ao dele. 

Sua jugular pulsava forte e seu cheiro era amadeirado, de um perfume nacional famoso.

José segurou os meus braços com as duas mãos e me apertou contra seu corpo. Sentia sua ereção evidente em minha virilha e meu corpo já se acendeu.

Ele me empurrou para a parte de trás do veículo me encostando na lataria suja e me beijou.

Suas mãos passeavam pelas minhas costas até encontrar minha bunda. As minhas mãos estavam entrelaçadas com os seus cabelos facilitando eu puxá-lo mais para mim.

Alguns minutos se passaram e escutamos o grito do motorista anunciando um novo carro parado no ponto. 

Ele deu um passo atrás com a respiração ofegante e olhou para minha mão, a fim de procurar o pequeno papel que eu iria entregá-lo. 

-Posso? Disse ele apontando para minha mão.

Segurei forte em sua camisa, o puxei e dei um selinho.

-Acho que já tive o que eu queria.

O rapaz baixou a cabeça e foi em direção ao veículo parado poucos metros a frente. Fiquei ali, fiz sinal para um táxi que passava.

Cheguei em casa, arranquei minhas roupas e fui para o banho, terminei o serviço ali mesmo, embaixo d'água. Foi um final de dia memorável. Nunca mais vi aquele rapaz. 

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⏰ Última atualização: Jun 20, 2021 ⏰

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