Às duas e trinta da manhã, do dia sete de agosto, próximo a zona leste de São Paulo uma ocorrência chegou as mão da polícia. A vizinhança do local em massa denunciaram o acontecimento de tiros, alguns afirmando ser um assalto a banco e outros, menos confiáveis, falavam de um suposto massacre e que haveriam vários corpo espalhados pela calçada, porém essa denuncia foi desmentida com a chegada das primeiras viaturas e ambulâncias. Horas mais tarde daquela madrugada e toda rua estava fechada, ninguém entrava ou saía sem passar por uma revista. Os prédios comerciais ao redor eram iluminados com sequências de vermelho e azul, ofuscando até mesmo as luzes brancas dos postes, e com o constante chiado das sirenes. Faixas amareladas com listras pretas foram postas de uma ponta a outra da rua e nas ambulâncias, socorristas se preparavam para entrar, já com macas montadas.
Os policiais, que ali estavam, tempos antes foram avisados pelo rádio sobre uma explosão repentina, minutos depois dos primeiros chamados e ao chegarem no local, além dos estilhaços espalhados na rua, avistaram a poeira levantada. O pisar cauteloso das autoridades se tornou impossível ao pisarem nos cacos de vidro espalhados. Já com armas em punho, adentraram os primeiros agentes, prontos para agir se preciso.
A primeira vista, mesmo com a poeira esbranquiçada, conseguiram ver ao pisar em notas de diversos valores, espalhadas no chão, que o ali se tratava de uma tentativa de roubo a banco. Os caixas estavam em ruínas e alguns dos munitores estavam a metros do seu lugar original, todos quebrados e com rombos em suas barrigas metálicas. Vendo com mais precisão, conseguiram notar as sobras de um aparelho, na qual tinha um dispositivo de ativação. Alguns dos agentes que seguiram para o centro do lugar, reclamavam e alertavam os outros para tomarem cautela, já que algumas partes do teto estavam expondo sua afiação e, algumas partes, fios e mais fios estouravam em faíscas, junto com algumas da lâmpadas led, que, surpreendentemente, continuavam acessas e ajudavam a iluminar o local carente de iluminação.
Mais pro centro do edifício de quatro andares, depois da porta giradora destruída, havia a área da agência, onde os funcionários resolviam os frequentes questionamentos dos clientes. O local estava intacto, protegido pela divisão do vidro e os caixas na parte da frente.
Iriam continuar a investigar a parte posterior, se não fosse um repentino disparo e gritos irritados no andar de cima. Uma troca de olhares entre os oficiais no térreo durou até um dos homens, o mais jovem em apareciam, explanar a ida de um agente para o andar de cima. Paulo, um dos homens na parte de gerenciamento do banco, percebeu a ausência de seu companheiro, segundos depois do primeiro disparo e notificou os outros, outros disparos foram disferidos, e um montante de estilhaços caíram na rua, fazendo os pessoal recuar para longe, dentro da agência, rapidamente foi achada a porta da escadaria de emergência, um pouco entreaberta. Um grupo de seis agentes subiram apressados, todos com as armas levantadas na altura dos ombros. Pararam enfrente do que seria o local de origem dos tiros e, após um deles fazer uma contagem, entraram alertando quem quer que fosse para que se rendesse e colocasse as mãos na cabeça. No entanto, quando todos olharam ao redor, perceberam ao canto oposto a porta, o oficial sumido, encolhido e com a arma apoiada nos joelhos. Paulo pediu um tempo com uma das mãos, ao ver os outros se aproximando e seguiu sozinho para próximo do colega de trabalho. Abaixou a arma por alguns segundos, porém voltou ela a posição original ao ver algo na sua visão periférica. Os outros não conseguiam ver o que o policial estava apontando, pois na direita da arma era bloqueada por cabines de trabalho, porém notaram a mudança de uma sujeito focado, para um olhar trêmulo e assustado. Paulo recusou-se a abaixar a pistola, porém ficou alternando entre olhar para seu colega e... Aquilo.
- Chamem os outros, parece que o Marcos acertou um... - hesitou em continuar, mas com um tom baixo de voz continuou - Várias vezes.
Enquanto o resto do grupo contactavam pelo walktalk, Paulo tentou chamar a atenção do colega, batendo com a bota levemente em sua perna e chamando-o com: "psiu!", Ou até: "Ei, cara!", Porém de nada adiantou, o sujeito continuavam encolhido, com a cabeça retraída por entre os joelhos, talvez encarando o próprio calçado. As coisas se tornaram mais confusas ao notar o mesmo murmurando, coisa que não havia percebido antes, porém não conseguia discernir uma palavra. Olhando uma última vez para aquilo, abaixou a pistola e, se aproximando com cautela, ergueu e, com a palma da mão, tocou o ombro do sujeito.
- Cara... Eu sei que é difícil de ficar calmo nessas situações, mas...
Paulo foi interrompido e puxado pelos ombros, atirado contra o chão por uma força que não sabia de onde veio, porém não conseguiu raciocinar, pois seu colega havia se colocado em pé em um piscar de olhos, de um jeito desconcertado e de uma forma abrupta. Os outros agentes, ao perceber o ocorrido, apontaram suas pistolas para o sujeito, orientando-o para que largasse a arma imediatamente. Paulo, que na queda havia perdido sua arma, agora a um metro de distância, se viu ameaçado, seu colega o encarava com uma frieza que abertou seu peito, enquanto seu coração palpitava em desespero, não acreditava que aquilo poderia estar acontecendo e cogitou por alguns instantes que aquilo se tratava de um sonho. Porém o olhar frio se avermelhou e lágrimas rolaram do rosto pardo do sujeito, até pintarem da ponta de seu queixo. Com uma voz trêmula, tentou juntar palavras, ainda murmuradas e indecifráveis.
- Não faça algo que vai se arrepender, Marcos... - Murmurou Paulo sem se mexer.
A arma na mão de Marcos começou a tremer e aos poucos ele deixava sua guarda baixa, escutando com mais atenção, Paulo conseguiu entender algo.
- ...Não... Era apenas... Garoto...
Olhando de relance para o corpo estirado a sua esquerda, percebeu levemente uma tentativa de se manter vivo, tento uma respiração forçada, porém fraca. Novamente focando em Marcos, notou que o mesmo não o encarava, aquele olhar não estava focado nele e, sim, em nada ao redor. Paulo viu ali uma brecha para convencer o amigo.
- Essas coisas acontecem, mesmo que não deviam, elas acontecem...
No momento em que falava, um cheio acre e um ar denso o acometeu, trazendo uma breve náusea. Parou por um momento, mas logo voltou a falar.
- Lembra daquele dia lá em casa, no churrasco? Você ficou revirando e revirando uma notícia no jornal... Aquela que os polícias invadiram um lugar lá e... Eu não lembro o resto, mas... Você ficou pensando: "O que vai acontecer quando for minha vez e tals" e a sua mulher, a Nati, ela falou para você não se preocupar, porque aquilo, se acontecesse, deveria ser pensado com calma e cautela, você lembra?
No meio do discurso, Paulo perdeu o foco no rosto de seu amigo, mas percebeu logo em seguida que o mesmo agora o encarava. No entanto o cheiro acre continuou ainda mais forte e o olhar de Marcos voltou a se desprender. Paulo pensou em continuar, mas Marcos, em sua surto, colocou o revólver apontando debaixo do queixo. Em reflexo, Paulo se pôs a agarrar os braços de Marcos, puxando para si a ponta do revólver, o gatilho fora pressionado e um clarão, seguido do som ensurdecedor do disparo, fez os dois caíram em lados opostos, já desorientados. Percebendo que não havia tomado um tiro e vendo a uma poeira fina esbranquiçada cair do teto, tentou se colocar de pé, mesmo com um zumbido muito forte nos ouvidos. O cheiro da pólvora polúia suas narinas, ao mesmo tempo que o cheiro acre sumia aos poucos. Suas pernas o abandonaram, fraquejando e o fazendo cair, sem muito o que fazer, gritou para os outros homens não atirarem, ficando, ou pelos menos achando, parado na frente de Marcos. Os agentes passaram e, com algemas, o prenderam. Paulo se levantou com ajuda de dois homens, se apoiando em seus ombros. Implorou para que levassem seu amigo com calma, enquanto levavam ele para o camburão. Algo confuso tivera acontecido logo depois, pois, ao descer as escadas, Marcos desembestou a dar gargalhadas, até ser jogado para dentro do carro e levado. Por que isso tinha que acontecer no primeiro dia dele? Refletiu Paulo, ficando parado no meio do grande escritório. Tudo em sua cabeça ficara mais confuso quando, de repente, um dos oficiais ao seu lado o notificou, pedindo para que descesse e visse com os próprios olhar. Antes de sair, olhou uma última vez para o corpo baleado do jovem, mas seguindo segundos depois. O estranho fraquejo de suas pernas o fizera ficar aflito e com um leve medo de ser permanente, seus ouvidos ainda continuavam a doer, porém o zumbido havia diminuído até ficar suportável. Desceu as escadas com cautela e, seguindo seus outros colegas, chegou onde o concelharam a ir.
O muitos murmúrios de dúvida e os frequentes flexes das câmeras disparando lhe provocaram uma dor de cabeça futura, além do que daquela cenário terrível. Algo anormal aconteceu em uma das salas fechadas, separada do resto da agência, suas paredes, assoalho e teto, ambos estavam manchados com borrões de sangue não coagulado, todos levando para um pequeno corpo, onde todos ali tiveram pesadelos por noites e noites, durante alguns meses. Quatro corpos, ambos amontoados um encima do outro, com marcas assustadoras de balas. O cheiro da morte era presente e Paulo até podia notar uma leve semelhança. Menutos depois, através dos legistas, foram informados que, claramente, os sujeitos haviam sido alvejados sem ao menos conseguir se defender, porém não conseguiam descobrir o que provocou as diversas marcas de arranhões, em um dos corpos, e o que causou a desmembracão de dois outros, dos quatro corpos. Ainda continuava um mistério o motivo pelo qual sua decomposição fora tão acelerada, pois ao encontrar o corpo os mesmo tinham características de semanas a frente e a infestação de moscas entre um intervalo de uma ou duas horas, lavas amareladas que fizeram alguns dos fotógrafos frequentar o psicológico pelos meses que se seguiram.
A madrugada chegou ao fim, com os primeiros raios de sol no horizonte. O céu azul escuro, mudava para um tom mais claro gradualmente e as nuvens tomavam uma coloração alaranjada. Horas mais tarde daquele mesmo dia, em um tempo recorde, os jornais locais teriam como capa o tal "Noite de terror" e o anormal acontecimentos. Ao começar do dia e com as primeiras pessoas indo trabalhar se deu início a diversas especulações, alguns com base em religião e outras, mais céticas, diziam ser um alarde desnecessário e que aquilo era mais uma notícia sensacionalista.
Voltando no banco de trás de outra viatura, pensativo com o ocorrido, entrou em uma confusão. Não sabia quem o puxou para trás e o do porquê daquela repentina ação de se colocar de pé de Marcos, principalmente no momento em que o mesmo lhe apontou a arma. Não reconhecia o colega e ficou decepcionado pelo fato de tudo ter acontecido no seu primeiro dia. Um sentimento de culpa o tomou, o que aconteceria com ele? Talvez fosse apenas um crise, ou um surto repentino. De qualquer forma, não conseguia pensar em algo mais terrível que podesse ter acontecido com seu colega, sua consciência não o permitia imaginar isso.
O carro parou em um sinal e, em um diálogo entre o motorista e o sujeito no banco do carona, conversaram sobre coisas casuais, tentando de alguma forma esquecer o ocorrido. Um ônibus parou ao lado da viatura e, como uma distração, Paulo olhou os poucos passageiros, uma passada rápida de olho qualquer. De repente, sua mento o levou até o momento em que viu o corpo pela primeira vez e de como seus pernas paralisaram. Haviam lhe contato, tempos depois, que o nome do sujeito baleado e morto era Luis Henrique e que tinha completado dezoito anos há quase uma semana. A informação lhe pareceu confusa, não pelo fato de ser um jovem, mas pelo fato de não ser Luis. No momento em que apontava a arma para o corpo, tinha a certeza de que se tratava de Marcos ali, seu amigo estava morto com diversos buracos de bala. Em um breve momento pensou estar louco, pois a minutos atrás Marcos estava com ele no carro, nervoso com o chamado. Teve certeza ao notar as roupas diferentes e assim notificar os outros para que chamassem reforço. No momento em que ficou no chão, sem a defesa de sua arma, notou nos olhos de Marcos de que se trava do original, mas não conseguir entender o que sua mente o fez enxergar. Em todo momento, desde que viu o corpo estirado até o último momento em que o viu, notou o subir e descer letárgicos de seu peito, mesmo o informando de que tinha morrido no momento dos disparos. Não conseguiu dormir bem pelas noites que se seguiram, pois em seu sonhos, uma figura meramente visível ficara ao lado de Marcos. Também não tirava da cabeça o que tinha visto e que todos diziam ser uma ilusão, por estresse ou algo do tipo, porém tinha certeza de que os olhos de Luis-Marcos o seguiam em todo momento, encarando no fundo dos seus olhos antes de sair dali.
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Ruídos Paranóicos
Mystery / ThrillerUm assalto a banco termina em várias mortes e perguntas que nem mesmo a ciência pode solucionar. Pânico e Angústia, frutos de traumas passados, trouxeram a tona um mal adormecido nos primórdios da humanidade. Paulo, um policial de uma cidadezinha, s...