13. A nova diretriz

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A escuridão da madrugada já havia tomado conta das ruas de Ballycastle quando Gustavo chegou à casa de sua mãe, que ficava num pequeno vilarejo de pescadores na costa norte da Irlanda do Norte. O silêncio da noite só era interrompido pelo farfalhar de asas e pelo pio de corujas que haviam saído para caçar. Sem anunciar a sua presença, ele entrou na casa e encontrou tudo, como tudo o mais na distante vizinhança, escuro e silencioso.

Não quis chamar atenção; sabia que, em seus quartos, sua mãe e irmã dormiam tranquilamente sem esperar pela chegada do terceiro membro da família. Silenciosamente se acomodou no sofá da sala de visitas e custou a pegar no sono. Ficou lembrando que, cerca de um ano atrás, sua mãe o fizera prometer que voltaria para casa em todas as noites de Lua cheia para que ele pudesse se transformar sem causar perigo a outras pessoas, e ele, lógico, não conseguiu cumprir a promessa. Aliás, já não voltava para a casa dela desde que partira para Hogsmeade em outubro do ano anterior, e também não havia mais falado com a sra. Branstone desde então.

O único motivo que o fez voltar àquele lugar era justamente a aproximação da Lua cheia — sem dinheiro e sem ter onde se esconder, a casa de sua mãe era o único lugar no mundo onde ele podia se transformar em lobisomem sem levantar suspeitas. Ele só não sabia que tipo de reação a sra. Branstone teria diante disso.

Ele se despertou com os primeiros raios do Sol; sabia que a mãe acordava cedo e não queria que ela desse de cara com o filho desordeiro dormindo no sofá.

Tinha acabado de lavar o rosto e enxugá-lo com uma toalha quando se deparou com a sra. Branstone em pé na porta do banheiro, de braços cruzados e uma cara nada agradável.

— Está tudo bem? — Gustavo perguntou.

— Como poderia estar tudo bem? — disparou ela, parecendo exageradamente preocupada. — De uma hora para outra você parou de me atender e de responder as minhas cartas! Eu sabia que não devia ter deixado você ir trabalhar naquele jornal... Primeiro, a Marca Negra na Copa Mundial de Quadribol; depois, dragões! Dragões! Eu sempre soube, aquele pesadelo com dragões no dia do seu aniversário do ano passado só podia ter sido um aviso...

Gustavo respirou fundo e olhou para ela, já imaginando o que vinha pela frente; estava realmente disposto a conversar com a mãe sobre tudo o que tinha acontecido, mas por algum motivo lhe pareceu que ela não compartilhava dos mesmos pensamentos.

— Você não pode mais voltar para Londres — declarou ela, ao que Gustavo revirou os olhos, entediado. — Esse emprego não está lhe fazendo bem, de repente você parou de se importar com a família, nem ao menos voltou para casa nas Luas cheias!

— Eu estava trabalhando, mãe — defendeu-se Gustavo. — A senhora devia estar feliz por mim; afinal, eu consegui um emprego, e até conheci alguém...

A sra. Branstone ergueu as sobrancelhas, atônita.

— Estou namorando, mãe, é isso — Gustavo falou de uma vez. — Uma garota chamada Penélope Clearwater.

— Eu sabia que isso iria acabar acontecendo... — A sra. Branstone sacudiu a cabeça. — E agora, o que vai ser quando ela descobrir?

— Ela já sabe de tudo — Gustavo explicou. — E não, ela não se importa com isso.

— Será que você não entende? Essa moça pode dizer que não se importa agora porque não assimilou as coisas ainda, mas um dia ela vai se dar conta de tudo, e o que vai acontecer? Eu só estou tentando lhe abrir os olhos!

O barulho da discussão acordou Léa, a irmã de Gustavo, dez anos mais nova do que ele, e ela veio andando até eles com meias e pijamas, reprimindo um bocejo e afastando os cabelos do rosto.

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