Zagylmizd sem dúvida possui um território de proporções colossais, e isso explica o porquê de nós, os magos da capital, estudarmos arduamente este nosso incrível planeta. Como um dos superiores e discípulos de Mathex, sempre fui intrigado com a existência da "existência". No entanto, dentre tantos estudos a campo que realizei, nunca vi algo igual ao que estou prestes a contar. "Um dos cavaleiros ancestrais de Zortrius persiste caminhando por toda a Zagylmizd em busca de algo que jamais saberemos." Isso foi o que me disseram quando cheguei às Planícies Neutilians, localizadas no território do reino Lorevark. Como tenho muita curiosidade pela natureza, sabia claramente que aquele lugar era de difícil acesso a visitantes (a não ser que tenham um bom domínio em magia ancestral), pois todo o relevo se moldava com forças aplicadas no chão, formando as formas mais estranhas que você possa imaginar. É como se ondas de terra fossem realizadas sem direção de fluxo algum, atingindo alturas muito irregulares. Andar nesse lugar era perigoso pois essas "ondas" podiam soterrar qualquer um para sabe-se lá onde e depois se estabilizar. Não há relatos de seres que retornaram. Até mesmo Lorevark alega não haver sobreviventes de visitantes que foram vítimas do soterramento das planícies. De fato um lugar muito hostil, mas não para o cavaleiro ancestral.
Ele andava arrastando sua espada quebrada pelo chão. Sua armadura negra estava extremamente deteriorada e carregava consigo o símbolo da antiga Zortrius. Entretanto, apenas seu esqueleto estava ali. Sua anatomia era muito peculiar e gerou dúvidas para classificá-lo. Sua espécie evidentemente deveria estar em extinção. Pela análise de seu cadáver, podia ter sido de uma raça robusta de demônios. Mas o que o mantinha ali? Quais suas razões para vagar por aí? Ele fez isso mesmo por tantos anos assim? Hum... muitas perguntas. Eu o avistava de longe. As ondas estavam violentas mas nada o afetavam. Realmente era imune aos efeitos Neutilians, apenas andava olhando para frente, com dificuldades devido a espada que arrastava pelo chão. Depois de alguns dias, ele havia saído das planícies, indo para um relevo neutro com vegetação arbustiva. Notei o caminho que fizera com a espada. Coletei algumas amostras do chão para testes de causas, nos quais eu mesmo fiz no mesmo momento, mas nada foi detectado. O cavaleiro seguia mais a frente andando da mesma forma. Por onde passava todos o olhavam intrigados, alguns já sabiam de quem se tratava mas outros... bem... alguns tinham o azar de estarem em seu caminho e... serem mortos.
Segundo relatos, o tal andarilho pegava pelo pescoço suas vítimas e as matava com sua espada, as transformando em pó, que era absorvido por ele. Isso não implicava em um aumento de energia mágica, sendo um mistério a razão dessa absorção. Enfim... um ser completamente morto com uma maldição muito rara. O Conselho Regularizado Legal dos Magos (CRLM) já declarou que ninguém cruzasse o caminho do tal guerreiro. Além disso, mesmo sua existência ter causado mortes e ainda ameaçado outros indivíduos, o conselho não se pronunciou a respeito de sua neutralização, encerrando o caso mais rápido do que eu pensava. Havia uma pequena vila na planície neutra e era pra lá que o amaldiçoado guerreiro seguia. Utilizei o teleporte para avisar aos habitantes que deixassem o andarilho passar, não bloqueando seu percurso. Todos colaboraram pacificamente... quase todos. Dois indivíduos afirmaram que o andarilho não passava de um Reguskul que vagava fugindo de seu imperador. Disseram que derrotá-lo seria tão fácil quanto esmagar um kockrill, (que cruel). De nada adiantou minha fala, os dois guerreiros (pelo menos é o que diziam ser) partiram para o ataque com suas espadas simples, sem encanto, sem aprimoramento de dano, sem resistência mágica... enfim... sem nada. Eu os impedi conjurando a naikabe (barreira mágica invisível) e então os dois caíram no chão. Nesse momento o guerreiro parou de andar. Ele estava parado encarando a barreira invisível que eu acabara de fazer. Em seguida este pegou sua espada e destruiu a barreira, logo depois prosseguiu seu caminho. Me admirei com seu feito, pois não era nada fácil destruir minha barreira, era necessário pelo menos ter um ELEM de 40.000. O andarilho caminhava em nossa direção.
Os dois indivíduos, irritados comigo, se levantaram e partiram novamente ao ataque. No momento em que os protegeria o guerreiro amaldiçoado agiu mais rápido, decapitando a cabeça dos dois com sua espada, os transformando em pó. Fiquei surpreso com sua imprevisível reação. Neste momento ele absorvia o pó dos dois guerreiros. Me senti muito triste pelo que aconteceu com eles. Eu perguntava consigo: por que a capital deixaria uma ameaça como essa a solta? Ele precisava ser neutralizado imediatamente. Invoquei meu cajado mágico com um estalo de dedos. Queria confrontá-lo, mas tinha que seguir as ordens do conselho. Fiz uma magia de teleporte para uma região mais isolada junto com ele. O andarilho permaneceu parado me encarando. Estávamos nas Ruínas Ancestrais, lugar assolado pela antiga guerra, cuja descrição seria apenas... destruição. Cadáveres e destroços físicos e ambientais se misturavam ao longo deste tenebroso lugar, onde estava sob efeito de uma magia extremamente poderosa, além de uma névoa obscura que cobria absolutamente tudo. "Quem é você?" perguntei. Ele olhou ao redor e depois para cima. Depois deu as costas pra mim e voltou a caminhar. Não conseguia entender. Não hesitei e o lancei uma poderosa magia. O andarilho se destroçou em várias partes. Me aproximei cautelosamente de seu crânio e não senti sinais vitais mágicos. No entanto, sua espada havia desaparecido. Isso já era o suficiente para entender. A espada possuía algum feitiço mágico que a permitia ser usada eternamente pelas vítimas dela mesma, invocando o esqueleto e sua respectiva vestimenta. Sabia disso porque havia estudado inúmeras maldições. Outro mago pode ter feito o mesmo que fiz e certamente ter concluído a mesma coisa. Agora mesmo a maldição continuava em algum lugar de Zagylmizd, permanecendo o mistério inquietante... a lenda de um andarilho necromante.
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Contos de Zagylmizd - VOLUME 01
FantasyEste livro reúne os mais diversos contos clássicos de Zagylmizd. Escritos pelos magos da capital, os contos de Zagylmizd narram lendas, relatos, mistérios e mensagens de diversos seres ou acontecimentos que se destacam pela sua peculiaridade.