𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 𝖙𝖗𝖎𝖓𝖙𝖆 𝖊 𝖙𝖗𝖊𝖘

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Seul, Coreia do Sul - 20:04 p.m.
Jane

Desci as escadas, observando os garotos bebendo juntos enquanto assistiam a algum jogo de paintball na televisão. Um suspiro pesado escapou de meus lábios ao avistar Raika sentada ao lado de Jungkook. Ela tinha a perna sobre a coxa dele, acariciando seus cabelos enquanto dividiam uma cerveja.

Talvez não seja tão ruim passar por isso. Talvez seja necessário para finalmente perceber que não posso ultrapassar certos limites, pois quando partir daqui, tudo ficará para trás.

Passei por eles, percebendo que ninguém me notou ali, e segui até a cozinha. Algumas empregadas estavam organizando as novas contas. A fala de Raika continuava ecoando em minha mente.

Como assim Jungkook tinha falado mal de mim para ela? Eu era tão horrível assim? Mesmo após tudo o que fiz para ajudá-lo e entender antes de julgar?
Peguei uma latinha de Fanta na geladeira e voltei, apoiando-me na porta entre a cozinha e a sala, prestando atenção na voz do narrador do jogo.

— Não quer se sentar? — Ouvi a voz de Raika.

— Não, obrigada — respondi com um sorriso forçado, percebendo Jungkook me observar.

— Deixa ela, está naqueles dias — ele soltou.

Senti o rubor subir às minhas bochechas. Como ele sabia disso? Ouvi a risada de todos na casa e bufei.

— Como você sabe disso?

— Suas expressões nos últimos dias, você pediu novos absorventes para as empregadas, seus seios incham um pouco e sua cintura fica um tanto mais larga. Além disso, você odeia dormir de barriga para cima, mas quando está menstruada, acha essa posição confortável — Jungkook não fez questão de me encarar enquanto respondia.

Fiquei surpresa ao perceber que parte do que ele disse foi observado durante todos os meses que passei aqui. Como ele conseguia prestar tanta atenção?

— Ela sempre tem essa expressão fechada ou é só na TPM? — A sarcástica pergunta de Raika me deixou nauseada, especialmente por ser sobre mim.
Como ela podia ser tão idiota? Jane... Sua inútil.

Ouvi meu nome ser chamado e me sentei na grama fria, abraçando minhas pernas e deixando as lágrimas caírem.

Desabei pela décima vez nesta semana. Não conseguia ser forte o tempo todo, mas pelo menos conseguia não desabar na frente das pessoas. No entanto, acabei desabando na frente da última pessoa que queria ver meu estado vulnerável.

Não imaginava que me envolver dessa forma com a vida de Jungkook pudesse causar tantos efeitos colaterais, como essa dor no peito desnecessária e as inseguranças que não costumava ter... Por que ele não me defendeu? Por qual motivo ele não disse nada?

— Jane? — Ouvi a voz dele se aproximando, com um tom estranho e preocupado que não combinava com aquele jeito ridículo dele.

Alguns seguranças me encaravam de forma estranha, sem saber o que tinha acontecido. Não que a preocupação deles fizesse diferença.

— Sai daqui — vi as pernas dele e virei o rosto para o outro lado, esticando minhas pernas e apertando meus dedos com força, até sentir a pele frágil das minhas mãos se rasgando sob minhas unhas.

— O que aconteceu? Por qual motivo saiu daquele jeito? — Ele tentou questionar, mas me levantei, sentindo o ar faltar, e continuei a encará-lo, com um desejo quase insaciável de gritar com ele.

— Você é um idiota, Jungkook. Você nem me defendeu... Quantas noites passei sem dormir depois de te ouvir daquela forma ou até mesmo pesquisar para poder te ajudar com alguma coisa? E na primeira primeira oportunidade que um colega seu tem de me humilhar você deixa — respirei fundo, tentando controlar as emoções, mas a raiva borbulhava dentro de mim. — Não encosta em mim.

— Me desculpe, Jane — encarei seus olhos arrependidos, sem ficar surpresa com seu pedido de desculpas. Se fosse em outro momento, talvez ficasse surpresa e até achasse graça, mas agora era o mínimo que ele podia fazer. — Me desculpe, eu não medi as palavras e...

— Você nunca mede as palavras! — Fui interrompida quando ele tentou se aproximar, mas eu recuei, querendo distância.

— Pare! — Gritei, vendo uma confusão se formar ao redor. — Pare com isso!

— Eu vou te matar, filho da mãe! — Jungkook gritou, jogando meu corpo para o lado enquanto logo em seguida agredia um homem, que gritava e cuspia sangue.

Senti braços segurarem minha cintura, mantendo-me parada enquanto assistia à cena. Por que ele estava fazendo isso? Não bastava tudo o que já havia feito, agora ele mataria meu pai? Lutei contra a pessoa que me segurava, percebendo que era Hoseok, que também tentava me acalmar.

— Pare com isso, Jungkook. Não mate meu pai! — Gritei, sentindo minha garganta arder com a intensidade do grito.

— Seu pai? Esse homem estava apontando uma arma nas suas costas para nos acertar, Jane — Jungkook se virou para mim, trazendo o outro homem até meus pés como se fosse um saco de batatas. Chorei, caindo no chão ao perceber o estado em que meu pai estava, e acariciei o rosto dele, coberto de sangue. — Este idiota não é seu pai, Jane. Você é fruto de uma traição.

Encarei os olhos de Jungkook, vendo a raiva ali. Não sabia se podia confiar em suas palavras. Mas, ao olhar para o homem caído, percebi seu olhar raivoso contra mim enquanto tentava se soltar. Então era verdade. De todos aqueles olhares mentirosos que ele já me deu, nenhum outro parecia tão real.

Ele não era o meu verdadeiro pai.

DANGER | Livro I • JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora