3. Uma noite difícil...

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Clarisse estava deitada na sua cama ao lado de Silena, as duas ficaram acordadas até tarde e a garota achou melhor a filha de Afrodite dormir lá pra não ser pega pelas harpias.

E lógico, os irmãos aproveitaram pra fazer suas piadinhas sem graça de sempre:

-Silena tem certeza que quer dormir com ela? Você pode acabar sendo empurrada da cama de noite. -Nicholas, um dos mais velhos, disse rindo.

-Quer que eu chame a Aurora pra dormir com você? -e no mesmo momento ele se calou.

Não era segredo nenhum pros dois chalés que eles se gostavam, mas nem ele e nem ela pareciam querer admitir.

Estava escuro e todos estavam dormindo, exceto Clarisse. Que não tinha resquício nenhum de sono.

Decidiu ir pro banheiro e ficar fazendo alguma coisa até o sono chegar. Desceu com cuidado da beliche pra não acordar a amiga e entrou no banheiro, e assim que trancou a porta acendeu a luz.

Se sentou na banheira e se cobriu com uma manta qualquer que estava jogada lá. Ok, não estava jogada. Mas escondida num lugar que ninguém sabia onde estava.

Não era a primeira vez que fazia isso. Sempre que estava com insônia se trancava no banheiro e ficava lá atoa até que conseguisse dormir. E no outro dia acordava magicamente na sua cama. (Ou seu pai a levava pra cama, nunca saberemos.)

Passado alguns minutos decidiu ficar olhando as coisas do banheiro. Abriu o armário e olhou a bagunça que estava lá dentro. Desodorantes jogados, escovas de cabelo, e alguns curativos soltos. E como um bom chalé de guerra, uma faca estava no meio também.

Remexeu o armário até que encontrou um papel rosa dobrado em baixo de várias coisas, abriu e viu que era uma letra muito bonita, portanto não seria de nenhum dos seus irmãos.

"Nick, me encontra atrás do pinheiro da Thalia. Ass, Aurora"

Deu um riso baixo, seu irmão com certeza era um idiota apaixonado. Aurora e ele chegaram juntos ao acampamento sendo guiados por Hécate. E desde então se aproximaram, até que o garoto se viu completamente apaixonado pela menina.

Aurora era uma filha de Afrodite diferente de suas irmãs, estava sempre de preto. Mas não de um jeito "rebelde", ainda era uma filha de Afrodite. Usava roupas de grife escuras e quase nunca estava com os irmãos.

Clarisse não estava no acampamento na época que os dois chegaram, e nem boa parte do acampamento. Pois chegaram no inverno. Mas correm boatos de que quando Aurora foi reclamada, Afrodite a vestiu com roupas pretas e jóias douradas, ao invés do clássico branco.

Continuou remexendo pelo banheiro até que viu alguns papéis amassados dentro de uma gaveta. Quando os pegou não acreditou que eram os mesmos papéis que tinha mandado os irmãos incinerarem: as cartas de sua mãe.

As duas nunca tiveram uma boa relação. A mãe de Clarisse era delegada, o que facilitou seu encontro com Ares mas isso é história pra depois, e por isso acabava não dando tanta atenção para a filha. Que acabou passando a infância com a avó.

Sempre que estavam juntas acabavam brigando, e isso já estava enchendo a paciência da garota. Que aos dez anos fugiu de casa, e assim encontrou Coach Hedge. O sátiro que a levou até o acampamento.

"Por que isso ta aqui?" Ela já tinha lido aquela carta, onde sua mãe dizia em meio a chantagens emocionais e xingamentos que se ela escolhesse ficar o ano inteiro no acampamento, era porque não a amava.

E olhando aquele papel ela sentiu. Sentiu o ar deixando o seu corpo, suas mãos começando a tremer e uma sensação muito ruim invadindo seu corpo.

Estava tendo outra crise.

Jogou o papel dentro do vaso e deu descarga, em seguida se sentou dentro da banheira se enrolando na manta, desejando que aquele pesadelo acabasse.

Lágrimas caiam incessantemente dos seus olhos, e ela tentava a todo momento não fazer barulho para não acordar ninguém.

"Pai, se tiver me ouvindo, me ajuda por favor." rezou baixo.

Ficou longos minutos na mesma posição, esperando tudo aquilo passar, até que viu Silena entrar no banheiro e imediatamente ir até ela.

-Clarisse! Ai meus deuses, o que aconteceu? -ela abraçou a maior, que continuava a tremer muito.

-Eu... Eu achei Silena. -só de lembrar das palavras escritas no papel começava a tremer de novo.

-Achou o que?

-Aquela carta, aquela maldita carta. -se separou e encarou a amiga.

Silena fez um sinal para que Clarisse se deitasse no seu colo e quando o fez, passou a fazer carinho em seus cabelos. Coisa que sabia que a acalmava.

E assim se passou mais uma das longas noites em que Clarisse não dormia direito, e Silena por um acaso também não.  O que gerava um terrível mau humor na guerreira pela manhã.

-

Clarisse estava indo em direção a Casa Grande, mas foi interrompida pela dupla de demônios do chalé 11: os irmãos Stoll.

-Clarisse querida, como você ta? -Travis disse com um sorriso típico de filho de Hermes.

-O que vocês dois querem? -cruzou os braços e olhou para os dois. - Aliás cadê as lanças que estavam na frente do meu chalé?

-Não foi a gente. -Connor disse levantando os braços numa falsa rendição.

-Aham, e eu sou Afrodite. Desembucha logo que eu não to com cabeça pra vocês dois.

-Como o Chris ta? -Travis assumiu uma expressão séria.

-Eu não sei, ele parece melhorar uma hora e depois piora de novo. -assumiu uma expressão séria para não demonstrar seus sentimentos.

-Ele pode ter traído o acampamento mas ainda é nosso irmão.

Clarisse acenou com a cabeça para os irmãos e foi para a Casa Grande. Quando chegou foi direto pro porão e se aliviou ao ver o seu garoto dormindo calmamente.

Acendeu uma vela e começou a arrumar as coisas no porão. Tinha algumas roupas ao lado da cama e mais outras na poltrona.

Quando as pegou estranhou elas estarem sujas de sangue. A blusa estava rasgada e ao redor do rasgo tinham manchas de sangue.

-Me machuquei ontem tentando ajudar o Quíron na cozinha. -olhou pro lado e Chris estava a olhando calmamente.

-Foi muito feio? -se levantou desviando o olhar, talvez um pouco corada.

-Não muito.

Naquele dia, Clarisse passou a manhã inteira no porão com Chris. Não queria ver ninguém, e nem aturar perguntas intrometidas.

Não era um bom dia, o único momento de lucidez se transformou em um longo dia de tormentos e medo.

"She fell for the traitor..."Onde histórias criam vida. Descubra agora