The narrator's point of view.
— Você precisa comer um pouco, amor. — Lauren disse pela quarta vez. Camila dormiu por toda manhã e uma parte da tarde, já a mais velha só conseguiu dormir duas horas e depois não conseguiu mais.
— Não estou com fome, Lise. — Murmurou com a cabeça coberta pelo edredom.
— Por favor, Camz. — Pediu mais uma vez, sua voz trêmula. — Eu fiz espaguete a carbonara para você, come só um pouquinho.
— Não quero.
— Tudo bem, vou descer com a bandeja então. — Lauren anunciou com a voz trêmula, despertando a atenção de Camila. A hispânica queria que sua namorada se alimentasse pelo menos um pouco, vê-la tão triste e se negando a tudo a machucava por demais.
— Lise, você está chorando? — A mais velha parou perto da porta, respirou fundo antes de responder.
— Não princesa. — Lauren retirou-se do quarto, desceu com a bandeja intocada e a levou para cozinha, Normani que estava organizando a bagunça na cozinha, retirou a bandeja das mãos de sua amiga e a abraçou apertado.
— Laur... — Sussurrou ao ouvir o choro baixo da mais nova.
— Não quero que ela vá pelo mesmo caminho que eu, Mani. — Sua voz embargada era de cortar o coração.
— Ajude ela, então. Mostre o melhor caminho a ela, Laur. Seja a luz dela, assim como eu fui a sua, a ajude se recuperar.
Ao perder o avô, poucos meses após conhecer Normani, Lauren afastou-se de todo o seu mundo, não saia de seu quarto, não se alimentava, dava apenas respostas curtas, não tocava mais piano. Sua perda fora dolorosa demais, seu avô era a pessoa que mais amava, era a única pessoa no mundo que a entendia, isso antes de Normani entrar em sua vida e, alguns anos depois, Camila. Seu avô fora a inspiração para tantas composições, composições que nunca fora mostrada a ninguém, são seus tesouros que devem ser mantidos em segredo. Para Lauren, assistir Camila fazer as mesmas coisas que ela fez ao perder o avô, doía demais. A hispânica não queria perder sua namorada, não queria que sua namorada se perdesse de si mesma, como ela um diz fez, precisava ajudar Camila, mas precisava que Camila se permitisse ser ajudada também.
— Lise... — Lauren afastou-se um pouco da negra, limpou as lágrimas e virou-se em direção a Camila. A mais nova tinha o cenho franzido, sabia que sua namorada estava chorando, que ela havia mentido ao sair do quarto.
— Oi Sol. — Forçou um sorriso.
— Eu vou deixar vocês duas a sós. — Kordei comentou já se retirando da cozinha.
— Por que está chorando? Por que mentiu para mim, Lise? — Lauren suspirou. A morena recostou-se na ilha da pia.
— Foram algumas lembranças, nada de importante, querida.
— Está mentindo, Lise! — Acusou fazendo a mais velha suspirar.
— Eu já passei pelo mesmo que você está passando, Camila... Sei o quanto tudo isso a deixa perdida, sei das noites de sono que ainda irá perder, dos dias em que passará sem comer e de como vai se fechar para o mundo. — A hispânica comentou encarando os próprios pés. — Eu já passei por isso, eu já senti a mesma dor que está sentindo, sei que não é fácil. Mas também sei que você não deve se deixar dominar por ela, é claro que deve viver o seu luto o tempo que for necessário, mas não deve deixar essa tristeza aí para sempre.
— O que eu faço Lise? E-Eu nunca perdi ninguém, nunca tive ninguém além da mamãe. — A cubana agarrou a cintura da mais velha, sentindo suas lágrimas voltarem a seus olhos.
— Fique apenas com as memórias boas, amor, com o amor que sentia por sua mãe. Isso vale mais do que qualquer outra coisa. Transforme essa tristeza em amor, viva, seja feliz, do jeito que sua mãe sempre quis.
— Você acha que ela vai ficar feliz por mim?
— Sim, eu acho. — Sussurrou. — Camila, eu não disse essas coisas para que saísse de seu luto agora, você deve vivê-lo, mas sim, para que você não se deixe perder por causa dessa dor e desse sentimento de solidão que se instala.
— Tudo bem, Lise. — Camila murmurou para mais velha ouvir, a menina afastou-se um pouco de Lauren, pulou para se sentar no balcão da ilha da cozinha e ao estar acomodada, pegou o prato com o espaguete na bandeja e começou a comer.
— Se não estiver com fome, não precisa comer.
— Minha barriga está doendo, Lise. — Comenta, Lauren se aproxima e se coloca entre as pernas da mais nova.
— Está gostoso? — Observou Camila anuir positivamente. — Deixa eu provar um pouco? — A mais nova recolheu um pouco do espaguete com o garfo e o levou a boca de Lauren.
— Está bom!
A cubana se alimentou enquanto era observada pela hispânica, que analisava minuciosamente cada traço de Camila, cada movimento e tinha a suma certeza de que a amava mais do que deveria, que aquela menina sentada sobre a ilha de sua cozinha, era a menina mais importante de sua vida. Após Camila terminar sua refeição, Lauren arrumou a cozinha e junto da mais nova, foram para sala, a mais nova observou o piano de longe, seus olhos marejados de lágrimas ao pensar que sua mãe nunca a verá tocar o instrumento tão nobre, sua mãe não estará mais ao seu lado. Pelo canto do olho, Camila viu a movimentação de Lauren que ia em direção a escada, disposta a mudar um pouco o dia de sua namorada, a mais velha decidiu que tocaria uma de suas composições, a que mais gostava até o momento. Curiosa, Camila seguiu Lauren até o quarto de Normani, onde a mais velha pegou o violão da negra e em seguida fora para seu quarto, repousando o violão sobre a cama, indo direto para o closet em busca de sua pasta repleta de composições. A Cabello observava tudo da cama, tentava entender o que sua namorada iria fazer, mas nada bom o suficiente passava por sua mente tão conturbada. Jauregui retornou ao quarto com a pasta em mãos, sentou-se na cama, buscou pela composição que queria, retirou o violão de sua capa protetora, checou se estava bem afinado e tocou as primeiras notas.
— She was given the world, so much that she couldn't see and she needed someone to show her, who she could be... — A mais velha iniciou, prendendo ainda mais a atenção de Camila em si. — And she tried to survive, wearing her heart on her sleeve and I needed you to believe...
— You had your dreams, I had mine. You had your fears, I was fine. You showed me what I couldn't find, when two different worlds collide. — Camila abriu uma pequeno sorriso. Ouvir sua namorada cantar sempre a deixava feliz e com o sentimento de leveza. E foi assim até o final da música, seu coração mais leve, aliviado de uma dor sufocante, graças ao encantador poder de Lauren sobre o mesmo.
— When two different worlds collide. — Lauren finalizou, sob o olhar atento de Camila.
— É linda, Lise. — Murmurou engatinhando pela cama até a mais velha, que retirou o violão do colo e abrigou Camila. — De quem é?
— É minha... Eu escrevi todas que estão nessa pasta. — Murmurou acariciando as coxas de sua namorada. — Essa é uma das que mais gosto.
— Eu gostei dela. — A Cabello murmurou deitando a cabeça no ombro de Lauren.
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AUTISM (Concluída)
RomanceCamila possuí Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e não permite que ninguém, além de sua mãe, sua melhor amiga ally e sua ovelhinha de pelúcia Cindy, se aproximar de si. Mas tudo muda com a chegada de sua nova vizinha, que com a sua curiosidade...