A nossa história (One-shot - Sabito)

Capítulo Único

  Era um típico dia de inverno no Monte Sagiri. O local servia como um espaço ao ar livre para o treinamento de futuros caçadores de onis, sendo instruídos por Sakonji Urokodaki, um ex-Pilar da Água, que possuía uma simples residência ao pé da montanha e cuidava de três crianças como se fossem seus filhos.

  Em um lugar mais afastado, em uma altitude mais elevada, a dança delicada que os flocos de neve executavam com perfeição era interrompida pelo farfalhar quase agressivo do tecido de um haori branco encardido, sujo de terra e úmido por conta da mesma neve que caía do céu.

  O som do vento uivante e glacial, que percorria aquela montanha e auxiliava para que a temperatura caísse ainda mais, era cortado pelo ritmado som de uma espada sendo brandida no ar com força e precisão.

  A imagem de uma imponente rocha, de tamanho considerável, de formato circular, envolta por uma única grossa corda e levemente coberta pela neve, contrastava com a figura de um garoto, menor e mais delicado, que parecia quase irritado pela presença da rocha ao seu lado.

  O semblante desse garoto se destacava no ambiente que o cercava, mas não era pelo fato de estar manejando uma espada de verdade mesmo sendo tão jovem, com apenas treze anos, mas sim pela sua aparência primaveril em meio a um dia invernal como aquele.

  Seu cabelo caía como uma cascata sobre seus ombros. A vívida cor de pêssego contradizia com as árvores congeladas, desfolhadas e quase mortas ao redor.

  Seus olhos carregavam consigo uma pradaria inteira de lavandas e formavam uma incompatibilidade perfeita com o solo coberto por uma espessa camada de neve, impossibilitado de germinar nada além de alguns musgos parcialmente congelados.

  Uma cicatriz maculava sua bochecha direita, que estavam levemente coradas por conta do frio. Além do seu haori branco, o garoto usava um kimono com estampas de hexágonos verdes e amarelos, e um umanori negro, uma espécie de calça larga.

  Mesmo sendo inverno, as baixas temperaturas não o impediram de continuar treinando para alcançar seu objetivo, que era cortar aquela enorme rocha na metade. Ele estava tão concentrado no que estava fazendo que não notou uma segunda figura se aproximando sorrateiramente atrás de si.

  Essa segunda pessoa era uma menina que provavelmente tinha uns três anos a menos que o garoto. Ela parou alguns metros atrás dele e pareceu ficar esperando por algo durante vários segundos, o que claramente não aconteceu. Inflando as bochechas, ficou levemente emburrada quando percebeu que sua presença não fora notada.

  De repente, um sorriso sapeca tomou conta do seu rosto. Ela colocou as mãos ao redor da boca como se fossem um megafone e gritou a plenos pulmões:

  -- BOA TARDE, SABITO!

  Sua voz saiu tão alta que ecoou umas três vezes por entre as árvores daquela montanha antes de desaparecer por completo.

  O menino levou um susto tão grande que deu um berro, deixando a espada escorregar por entre os dedos e sair voando vários metros para frente, atingindo a rocha com um baque metálico e aterressando na neve logo em seguida.

  Sabito virou-se na direção da menina, que estava curvada para frente enquanto ria da reação do amigo, e gritou:

  -- S/n! Quantas vezes já conversamos sobre não assustar pessoas que estão carregando espadas?! É perigoso!

  S/n estava ocupada demais rindo para escutar o que ele estava dizendo, o que o deixou levemente irritado.

  -- E o que você está fazendo aqui? Está frio, você vai pegar uma gripe igual o seu irmão.