Capítulo único

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Escrevi essa fanfic para um desafio XôCupidoFNS do grupo FNS no Facebook, onde o foco é não ter romance.

Meu tema era: crianças sendo crianças e eu escrevi essa one.

Não sei se está boa, então vou postar na miúda hahaha enfim não tem casal.

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Kakashi estava sentado em frente de casa, como sempre solitário e pensativo para um garoto de apenas sete anos de idade. Desde que perdera o pai para um aneurisma, passou a falar cada vez menos.

 Na verdade não falava.  

Naquela manhã, colocou uma cadeira pequena em frente ao portão e ficou olhando o nada. O pensamento distante e o olhar vago, de quem não encontrava alegria em coisa alguma ao redor.

Nesse ponto um outro garoto de óculos chamativos se aproximou sorrindo. 

— Ei, você é meu novo vizinho? — perguntou curioso e animado.

Kakashi nem se preocupou em responder, a alegria daquele garoto o incomodava. Em silêncio, desviou o olhar para o outro lado, desejando internamente que o menino sumisse de seu campo de visão. Assim poderia continuar pensando em nada como fazia até aquele momento.

Obito não se deu por vencido, sentou no chão e começou a olhar para o nada também.

— O que tem de tão interessante para ser visto nessa rua? — refletiu, não esperando resposta de Kakashi.

Então os dois ficaram por bastante tempo, apenas observando o nada e assim foi por vários dias. Obito continuou indo todas as manhãs encontrar Kakashi, sentado sozinho em frente de casa. 

Não conversavam, pelo menos Kakashi não respondia. Obito costumava falar sozinho, dizendo que a vizinhança era chata e que não tinha muitas crianças para brincar. Que ficou feliz por Kakashi ter se mudado para lá, pois esperava que fossem amigos.

Kakashi costumava ignorá-lo. Como um resfriado, esperava que Obito cansasse e fosse embora. Mas ele não foi.

Durante duas semanas a rotina permaneceu, até aquela manhã. Kakashi sentou em frente ao portão, mas Obito não veio encontrá-lo. Ele não daria o braço a torcer nunca, no entanto, estava começando a gostar da companhia do garoto. A insistência em continuar aparecendo todas as manhãs, mesmo que Kakashi não interagisse com ele, o fazia reconhecer que talvez Obito não fosse tão chato quanto imaginava no começo.

Ou chato de um jeito irritantemente legal.

Lógico que jamais diria isso para ele, porque não queria amizades ali. Nem queria estar morando com a tia, sabendo que não ouviria a voz do pai chamando-o para almoçar ou jantar. Que não brincariam mais juntos, que ele nunca mais o veria. Já não se lembrava da mãe, por ela ter morrido quando ainda era pequeno demais para guardar memórias. Sabia que ainda era pequeno, portanto suas lembranças com o tempo seriam esquecidas. Esse pensamento o atormentava, a ponto de não sentir vontade de fazer nada.

Exceto sentar em frente à casa da tia e ficar olhando o nada, agora esperando Obito aparecer e tagarelar sem parar sobre coisas que Kakashi nem tinha interesse. Pelo menos não de primeira, não a ponto de assumir que sentia falta do garoto. Nesse ponto se pegou curioso sobre o paradeiro do menino com óculos esquisitos.

Esperou e esperou, sem que Obito aparecesse. Quando já estava tarde e a tia o chamou para almoçar, ele ficou com a dúvida pairando sobre si em um nível que o fez questionar se algo havia acontecido ao garoto.

— Tia… — Chamou incerto, era estranho falar após tanto tempo em silêncio. — A senhora conhece um garoto chamado Obito?

Ela ficou surpresa pela pergunta, Kakashi não a respondia em hipótese alguma. Chegou a cogitar levá-lo ao psicólogo e procurava a melhor forma de conversar com o sobrinho sobre isso. Quando passou a vê-lo junto ao Obito na frente de casa, refletindo que a companhia de outra criança poderia ajudá-lo. Também soube que o neto da vizinha fora atropelado por um bêbado que subiu na calçada. Ensaiava contar a Kakashi quando terminassem de almoçar. Esperando ir visitá-lo no período da tarde no hospital.

Escolhendo as palavras para não assustá-lo, ela respondeu:

— Ele sofreu um acidente quando ia para casa ontem, está no hospital de Konoha. — explicou calmamente. — Mas não é nada grave, não precisa se preocupar.

Kakashi arregalou os olhos, largando a comida intocada no prato.

— Me leve ao hospital, por favor! — exclamou angustiado. 

Não era justo que a vida levasse também o amigo que acabou de fazer. Quer dizer, eram amigos? Kakashi nunca respondia o garoto e agora sentia-se mal por ignorá-lo. Lágrimas se formaram no canto de seus olhos e a tia logo tratou de abraçá-lo. Kakashi, pela primeira vez, permitiu-se ser consolado por ela. Desejando que nada de ruim acontecesse ao Obito. 

Seguiram rapidamente para o hospital, encontrando uma senhorinha chorando na recepção. Ao aproximarem-se dela, ouviram o relato de que o neto fora atropelado na calçada por um bêbado qualquer e estava muito machucado. Kakashi, vendo o desespero da avó de Obito, passou os braços curtos em volta dela, tentando consolá-la. 

— Obito me falou muito de você, ele vai ficar feliz em saber que está aqui. — respondeu, afagando os cabelos de Kakashi.

— Eu posso vê-lo? — perguntou hesitante.

— Claro que sim, criança. — ela respondeu, parando de chorar.

(...)

Kakashi entrou no quarto, pensando que deveria ter trazido algo consigo. Um presente, alguma coisa que pudesse animar Obito. Contudo, constatou que não sabia nada sobre o garoto, pois não teve interesse de perguntar.

Balançou a cabeça arrependido e aproximou-se da cama. Pensando que Obito dormia, até ele virar o rosto para encará-lo. Faixas envolviam sua cabeça, cobrindo um de seus olhos e ele parecia muito ferido.

Ainda assim Obito sorriu para Kakashi: 

— Você veio! — A alegria dele, mesmo naquelas condições, o deixou desnorteado.

— Você não apareceu para me perturbar hoje, eu fiquei preocupado. — Kakashi respondeu, tentando soar casual.

Apesar do estado de Obito.

— Está tudo bem, podemos conversar enquanto os antibióticos não me apagam. — Deu a ideia, indicando a cadeira ao lado da cama.

Kakashi obedeceu, então a situação se inverteu. Todos os dias ele passou a visitar Obito no hospital, até que ele tivesse alta. Descobrindo que a dor da perda não era exclusiva dele. Obito também perdera os pais muito novo e agora mal se lembrava deles. Além de perder totalmente a visão de um olho aos sete anos, graças ao bêbado que o atropelou.

Isso comoveu Kakashi ao ponto de ele tentar não se isolar do mundo como estava fazendo. Portanto, em meio ao sentimento de perda, a amizade dos dois foi se fortalecendo.

Afinal de contas, é sempre melhor dois do que um, pois se um cai o outro pode ajudar a levantar.

Fim.








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