Liam - Trilogia Irmãos Trevelyn 3

Capítulo 21

Está extremamente difícil lidar com um Liam de aparência completamente oposta ao seu habitual porém com aquele olhar - apesar da cor diversificada - continuar o mesmo.

Aprendi muito bem a desvendar as pessoas, estudar seus pontos fortes e fracos, seus trejeitos e manias para deduzir quando estão mentindo ou não por exemplo.

Se passar a observar bem, Liam não é difícil de se deduzir na maior parte do tempo, mas a minha impressão pessoal é que ele mostra ser alguém assim de propósito, com toda a pose, classe, olhar sério... Quando se passa algum tempo a mais com o mesmo notamos alguns detalhes que não se observa fora do convívio, isso claro quando o mesmo da brecha para tal coisa.

O homem é nitidamente um observador nato, ele sempre sabe o que está acontecendo ao seu redor, o que em nosso mundo é primordial. Mas ao mesmo tempo ele possui esses olhares que se perdem as vezes de algo desconhecido, a raiva que aparece quando ele está em ação, algumas atitudes que quase passam despercebidas se não fossem tão diferentes do seu habitual.

Todo o conjunto mostra que tem muito mais por trás de quem ele deixa transparecer.

Sair de sua zona de conforto também não é algo que ame fazer mostrando seu nítido incômodo com a vestimenta, maquiagem sobre a pele ou peruca que usa, apesar de se esforçar para sorrir e deixar transparecer uma leveza que não era sentida por mim.

- Também estou incomodada. - Afirmo em solidariedade sorrindo para continuar com nosso drama enquanto jantamos no restaurante do hotel mesmo sentindo a brisa do mar.

Apesar de morar relativamente perto de cidades praianas não tenho boas memórias relacionadas a elas já que fui realmente entrar no mar quando já estava morando em Londres e durante uma missão que Will me forçou a entrar como primeira experiência real, no fim foi divertido mas a companhia ajudava pra isso.

- Vamos subir? Preciso tirar essa coisa. - Apenas concordo pois já tínhamos terminado de comer.

Inevitavelmente estou começando a me acostumar ao contato constante com esse homem o que é um perigo enorme!

Enquanto ele segue para o banheiro afim de voltar a ser ele mesmo eu permaneço no quarto de frente para a tela do computador vistoriando algumas câmeras de minha casa por alguns segundos e também do hotel para ter certeza que nada saiu do esperado.

Aproveito para tirar a peruca, lentes, sapatos e escovar os cabelos antes de abrir o champanhe e derramar o líquido na taça voltando a garrafa para o gelo reposto mantendo-a refrigerada enquanto degusto da bebida geladinha e borbulhante na língua. Não sou a expert no assunto bebidas mas sei apreciar algo bom ou gostoso de acordo com o meu paladar que não sei identificar qual é também.

Quando tenho companhia de volta vejo o verdadeiro Liam de cabelos molhados caindo sobre a testa e uma calça de moletom cinza pendendo no quadril.

Para minha surpresa ele aparece sem camisa e meus olhos traidores foram justamente para seu tronco nu me dando a visibilidade que não tive totalmente no dia anterior. Assim consigo ver bem suas milhares de tatugens e a fênix enorme que cobre seu lado direito com uma asa subindo ao braço onde um leão de boca aberta mostrando seus dentes afiados se faz presente e algumas rosas se juntam ao desenhos com algumas escritas que de longe não identifico.

Quando o maldito vira noto a grande caveira ocupando boa parte das costas e uma frase descendo do pescoço seguindo o ombro largo.

Inegavelmente lindo e malditamente sexy.

- Sim. - Coloco minha atenção na chamada por que preciso focar em algo.

- Estão mantendo o disfarce? - Noto o tom de brincadeira em sua voz e reviro os olhos colocando no vivo a voz.

- Essa peruca é uma merda Willian. - Liam se aproxima do meu lado olhando o celular na bancada.

- Tem notícias? - Pergunta séria e meu amigo ainda tem alguma noção para saber que agora não deveria brincar.

- A casa onde Sean está é um pouco afastada próximo a uma área isolada de praia...

Com muita conversa e planos decidimos sair pela madrugada para o surpreender e provavelmente depia de alguma noitada eles estarão mais tranquilos em relação a segurança.

Com as plantas da casa na tela do computador de um e-mail enviado como se fizesse parte de plantas arquitetônicas para pesquisa junto a outras podemos analisar as opções de onde entrariamos e possíveis saídas estratégicas.

- O carro estará na frente do hotel na hora marcada, vejo vocês em breve.

- Se cuide Willian. - Peço.

- Eu sempre me cuide Meg, te vejo logo. - E desligou me fazendo suspirar de preocupação apesar de saber de sua competência.

É meio impossível não me preocupar com ele pois Will tem seus traumas e sinceramente não é nem um mafioso de marca maior, apesar disso tenho ciência que sabe se cuidar mesmo isso não aplicando minha preocupação e querendo sempre o deixar atrás das telas onde ele reina.

- Ele é bom. - Assume quando fecho a tela do computador apoiando o corpo na beirada na mesa que usávamos.

- É sim, Willian tem uma mente incrível.

- É notável.

- Vai me explicar esse seu olhar ou suas atitudes alguma hora? - Questiono não o deixando intimidada por que pra isso acontecer com teria que ser algo muito grandioso.

- Em algum momento.

- Isso não ajuda muito. - O vejo dar de ombros enquanto continuamos a nos encarar.

- Você pode tentar entender.

- Isso deve ser o que quer, acertei? - Pergunto retoricamente meio irônica. - Ou posso esquecer quem é lhe dando um belo olho roxo para conseguir explicações.

- Acredito que faria isso.

- E você deixaria por que tenho a impressão que não encostaria em mim desse jeito.

- Jamais.

Suas mãos estão fixas dentro do bolso da calça de moletom num ato rotineiro vindo do mesmo, ele parece não gostar de estar sem camisa já que quando notou isso se encolheu levemente. Sua pele carrega suas cicatrizes e entendo perfeitamente como se sente, as vezes marcas são profundas demais para não ligarmos, fisicamente ou emocionalmente falando.

- O que Sean fez? - Questiono baixo querendo finalmente saber. - Por que disso tudo Liam?

O homem suspira se sentando na beirada da cama encarando a vista apesar de saber que meu olhar está com por cento nele.

- Acho que você já subtendeu boa parte da história, mas vamos lá.