Only

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As folhas caíam das grandes árvores e atingiam suavemente a grama escurecida, o outono havia chegado tão rápido. A brisa fria tocava o rosto pálido do garoto sentado em um dos bancos da praça central, na qual se encontrava quase deserta.

Lee Felix não estranharia se alguém chamasse a polícia ou algo assim, pois estava com as vestimentas do hospital no qual estava no último mês. Os pelos de todo seu corpo se arrepiavam cada vez que a forte brisa soprava, o como chamado 'vestido de hospital' que o australiano costumava chamar não o protegia do frio, estava congelando ali.

A verdade era que não se importava com nada daquilo, não conseguia pensar muito bem em nada. Mais do que o frio, o que realmente o machucava eram as lembranças dolorosas de um passado tão querido pelo jovem. O motivo por estar tanto tempo naquele quarto de hospital, sendo supervisionado praticamente o dia inteiro era que, estava tentando sumir daquele mundo, desaparecer, morrer.

Morte.

A morte havia feito aquilo desde o princípio, havia levado um pedaço de si embora de forma tão dolorosa. Pensava no porque o mundo era tão cruel com pessoas tão boas, pessoas que deveriam estar ali mais do que nunca. Lee havia chegado naquele país e nada e nem ninguém parecia ter aquela mesma essência da sua cidade natal, Sydney, exceto o bonito rapaz dos cabelos loirinhos e levemente ondulados.

Bang Christopher era perfeito, Felix não conseguia dizer qualquer defeito daquele homem, ele simplesmente não tinha. Podia até ser que para outras pessoas ele tivesse, mas não para o garoto que praticamente foi salvo por Bang, era grato e admiraria ele para sempre. Como doía lembrar dos sorrisos do seu grande amor, os abraços quentinhos e as palavras que sempre aqueciam seu pobre coração.

Uma dor profunda que foi curada com amor, uma dor que Lee sequer sabia explicar o porquê, acordava deprimido e não tinha vontade alguma de levantar da cama. Os dias passavam, estações, datas, nada era um bom motivo para se estar vivo, isso era o que o garoto australiano pensava, até ter que sair da cama, sequentemente de sua casa e caverna que era seu quarto. Era para ter sido um dia como qualquer outro, isso se não tivesse se esbarrado com um rapaz curioso demais para seu gosto, mas que trazia um ar interessante. Christopher queria mostrar para Felix como via o mundo, Felix então se dispôs a tentar ver o mundo do garoto.

Era como voltar a sua vida de antes, o garoto que Felix descobriu mais tarde também ter vivido muito tempo na Austrália, estava fazendo com que seus dias ficassem mais coloridos, pela primeira vez Lee queria estar no mundo e ver o quão bonito ele poderia ser, isso ao lado de Bang. Seu coração batia mais rápido toda vez que o amigo o abraçava, Bang Christopher adorava elogiar Felix, ele estava sempre dizendo palavras bonitas e admirava as ações do mais novo. O garoto de Sydney estava apaixonado, completamente apaixonado por um garoto sonhador que queria fazer o mundo inteiro sorrir.

Bang fez Lee sorrir por muito tempo, até que aquele carro decidiu fazer tudo aquilo ir água abaixo, aquele maldito acidente estragou a vida de muitas pessoas, inclusive a de Felix. Não conseguia acreditar, uma ligação nunca havia demorado tanto quanto naquele dia, apenas impressão, claro. Os olhos arregalados, com lágrimas que pareciam infinitas, o rapaz Lee não queria acreditar que o mundo poderia ser tão cruel.

E os sorrisos? Os abraços de Bang? Aquelas palavras que só o mais velho tinha, todos os momentos, os olhos brilhantes nunca mais seriam vistos e Lee desejou morrer, desejou morrer mil vezes para que em alguma das mortes pudesse encontrar o amado Chris novamente. Nunca havia dito sobre seu secreto e gigante amor, sobre querer beijar todos os dias seus lindos lábios que estavam quase a todo tempo sorrindo, Lee queria poder gritar para o mundo inteiro que Bang Christopher era o amor de toda a sua vida.

Doía como o inferno, o peito não aguentava tanta dor, estar longe da sua felicidade era doloroso e Felix tentou várias vezes acabar com sua própria vida. Sua família sofria cada vez que uma tentativa era feita, colocar o filho em uma clínica havia sido triste, mas a senhora Lee não conseguia ver outra escolha. Quando o pai do australiano havia dado partida daquele mundo, Bang estava lá com seus braços abertos para o amigo, suas palavras curavam aos poucos a imensa dor. Quem diria que mais tarde ele perderia outra pessoa amada.

As lágrimas de Felix inundaram novamente seu rosto, aquelas folhas de outono só traziam lembranças de Bang. Outono era a estação preferida de Christopher, ele dizia que era época de sorrir, não tinha sentido mas era lindo ver o garoto correndo animado pelas ruas vazias e gritando o quanto amava aquilo.

Sorriu, lembrar do amado era como voltar no tempo, tudo voltava à tona. Lee olhou para cima e observou o céu, estava nublado, ele esvaziou a mente e fechou os olhos com força. Queria que a dor fosse embora, queria que tudo aquilo fosse uma ruim recordação, mas não seria tão fácil como queria.

Felix se ajoelhou no chão frio e gritou, apertando o próprio corpo e começou a chorar, era impossível, mas pediu para que do céu, mandasse um anjo da guarda para fazer o coração de Lee parar de uma vez com toda aquela dor, todo aquele sofrimento, ele queria que fosse embora de uma vez. Os olhos molhados se assustaram quando uma figura se aproximou de repente de si, os olhos curiosos do rapaz despertaram Lee.

— Você está bem? — A voz suave invadiu seus ouvidos, o australiano fungou e limpou rapidamente os olhos.

Não entendeu o porquê, mas aquela situação foi reconfortante, estranhamente reconfortante. O mais novo se levantou e olhou para o pequeno rapaz que o olhava curioso, com certa preocupação. As palavras de Lee não saíram, pensou que talvez fosse pelo frio, estava tremendo e congelando ali sem qualquer blusa.

— Vem, usa isso aqui. Está muito frio, o que faz por aqui? — O garoto colocou rapidamente uma de suas blusas quentes nos ombros de Felix. — Me chamo Seo Changbin, qual seu nome?

Felix sentia algo estranho em seu peito, não deixava de olhar o garoto que havia aparecido de repente. Teria morrido de frio se não fosse ele, engoliu o choro e vestiu devidamente a blusa do garoto baixo.

— Lee Felix. — Respondeu um pouco constrangido, logo lembrou de seu pedido para Chan e arregalou os olhos, direcionando-os para o rapaz a sua frente. — Você é o anjo da guarda?

Changbin não pode deixar de rir, aquilo soava bobo, mas ainda sim era fofo. Lee pensou que realmente disse um coisa sem sentido, talvez tivesse criando teorias em sua cabeça e agora o outro garoto pensaria que ele é doido ou algo assim.

— Não, eu só… sou um humano eu acho. — O mais baixo voltou a sua postura. — Acho que deveria voltar pra casa, eu posso te acompanhar.

— Não posso, eu devo voltar ao… — Suspirou, não queria levar o assunto a sua tentativa de suicídio, isso se o garoto não já tivesse visto todos os sinais em sua parte descoberta do corpo. — Estou com muito frio.

Os olhos marejaram, rapidamente tinha esquecido de tudo com a presença de Seo ali, mas Christopher estava em seu coração e a todo momento era lembrado. Felix voltou a chorar e rapidamente os braços de Changbin o envolveram.

— A vida é muito curta para ficar chorando. — o Seo disse e Lee paralisou em seu abraço.

"A vida é muito curta para ficar chorando"? Palavras do Bang, era o que o mais velho sempre dizia. Escutou a risada rouca de Changbin e os corpos se afastaram, os olhos atentos de Lee ficaram sobre o garoto. Seo Changbin passou um braço pelos ombros de Felix e eles passaram a caminhar em silêncio, o australiano não sabia o porquê, mas não queria mais se afastar de Seo, seu anjo da guarda.

Autumn of memories - Chanlix-ChanglixOnde histórias criam vida. Descubra agora