Diante do Antro do Sábio Leão

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"Diante do antro do Sábio Leão, é agora onde nos encontramos e uma multidão de animais da Floresta estar na expectativa, digo que mais de quatro quintos dos animais se fazem presente em pleno silêncio e respeito, aguardando o que os três sábios da Floresta farão para retirar o Sábio Leão de dentro de sua gruta.

Há acontecimentos na Floresta extremamente raros; relatos dizem que são quatro os acontecimentos raros, sendo o maior de todos o que se refere a Sábia Tartaruga, que se percebe sem esperança, algo que apenas os mais vividos dentre os animais dizem já ter ocorrido, porém não havendo quem acredite; outro acontecimento raro é a Sábia Águia ficar carente de afeto e sensível a opinião alheia, algo que quem já observou, comunica ser assustador, uma vez que a Sábia Águia estando assim, o levou para os ares e o devorou, para logo depois ressuscita-lo, o que sempre gera risos, pois quem assim diz, não aceita indagações e não dando resposta inteligente para as questões feitas, passa a ser motivo de injúrias; por fim temos o relato mais absurdo de todos, que é o Nosso Amigo fazendo algo em prol de outros sem levar nada em vantagem neste ato, mas a isto ninguém classifica como algo raro, sendo apenas uma anedota que contam afim de todos rirem, até mesmo o Nosso Amigo.

O quarto acontecimento raro se dá quando o Sábio Leão se aprofunda em sua alcova e de lá ouvimos uma voz com tom sombrio, semelhante ao do Sábio Leão, que a ele expressa ideias perigosas, de modo promover a sua loucura, algo que é temido por todos os seres que habitam a Floresta, advindo daí a postura de respeito e silêncio dos animais, para com aqueles que se aventuram em auxiliar o retorno do Sábio Leão para fora de sua cova.

De dentro de sua caverna, ouvimos a voz dizer:

Ontem foi o último dia de igualdade entre você e os demais! Assim é que fará todos perceberem o teu real valor e poder. Afinal, és tu o Rei. O merecedor de tudo. Saia daqui e leve aos demais os teus sanguinolentos dentes e tuas garras punidoras. Que cada um possa te ver como és em força e autoridade. A divisão como o compartilhamento só é digno dos fracos e em assim agindo tu abres mão do que tens e nada recebes em troca que seja digno de ti. Ouça o que lhe mando e faça-se senhor de tudo e todos. Tu és único e assim deve ser, não permita que se igualem a ti lhe rebaixando a altura deles. Ande neste momento para fora e mostre-se impiedoso. Tu se fizeras sozinho! Agora vá!

E quando se ouve o "AGORA VÁ!" os animais abaixam suas cabeças e de olhos fechados ouvem a Sábia Águia asseverar:

Venha! Tu que sangue deseja e sangue terá. Visto que aqueles que aqui estão não lhe temem e a muito lhe quer derrubar. Nunca deixamos de acreditar que o pior em ti haveria de se levantar, dando a devida mostra de tua fraqueza em se controlar. Então venha e observe a força do ar, do mar, da terra e do próprio fogo de nossas almas contra ti. Perceberá que ensinaste mais do que aprendera, por quanto cada um será 'Senhor de si' e lutará afim de proteger os mais frágeis. Nunca faltamos com respeito para com os superiores, mas não tememos aqueles que buscam ser superior a nós. Olhamos para frente e não caímos diante de ninguém. A ti esperamos e pedimos, venha Sábio, Leão!

O Rugir do Sábio Leão já mostra a sua aproximação e em alto tom voltamos ouvi a rouca voz pressagiar:

Tu agora notas a ousadia daqueles que contigo se comparam? Nunca lhe foi dado o devido respeito e a ti querem equipara-se em violência e crueldades. Impetuosos se dizem e desejoso de combates, logo os dará! Em sua Majestade está o seu domínio e quem ousa te destituir terá apenas as raízes da Floresta como companhia! Sabes que jamais estará sozinho porque eu estou contigo e contigo irei vencer tudo e todos. Se existe sentimentos deles para contigo eu agora te falo, é o sentimento de inveja e rancor por tua coroa. Tome teu cetro e empale aqueles que ousarem lhe olhar nos olhos. O que queres deles? Não peças, dado que nunca lhe deram! Por esta razão, tire deles. Tu se fizeras sozinho! Agora Vá!

Todos os animais tremem no "AGORA VÁ!", ficando inabalável apenas a Sábia Tartaruga, que afetuosamente comunica:

Amor... não damos! Assim nos ensinou a Falecida Búfala. Ensinava ela assim - Amor que não é percebido, não é Amor recebido. Quando irritado queremos ação! Quando dispostos queremos liberdade! Quando inseguro queremos apoio! Quando sozinho queremos aprovação. Quando cercado queremos certezas. Quando frágil queremos protetores! Quando com medo queremos a voz do orgulho! Quando tolo queremos amigos que nos mostre a verdade sobre nós mesmos. - E quem agora pode dizer pra si mesmo que teve tudo isto? Eu não pergunto, o que é Amor, eu indago, quem faz perceber o Amor que oferta? Tu me ouves? Sei que sim e lhe falo. A ti esperamos e pedimos, venha Sábio, Leão!

O silêncio impera na Floresta, o vento que percorre o local diminuí e nem mesmo as árvores balançam as suas folhas, e tudo isto é interpretado como respeito ao que fora dito pela Sábia Tartaruga.

O tempo em estado de compenetração é diferente para cada um dos animais, contudo somente quando o último dos animais ergue a cabeça, é que a voz tenebrosa que instiga ao Sábio Leão, passamos ouvir e ela assim expressa:

De sutileza é feito aqueles a quem não tem como reagir a tua força! Tu notaste que de mim falaram? Assim o fazem para te enganar! Já que tenho má fama e o levo a fazer aquilo que queres em teu íntimo. És forte, mas diria ser tu fortes sem mim? Eu que lhe falo sempre que se ver perdido, solitário e abandonado. Eu lhe elevo quando buscam te rebaixar! Te exalto já estando no topo. Somente eu não tenho inveja de ti e lhe digo tudo que merece saber! A coragem de que precisas quem lhe dá? Comigo não tens medo! Me obedeça! Eu sou! E só por isto que tu és! Sou quem te bota a frente em tudo! Sou teu Pai e tua Mãe! Sou quem tu precisas! Ouça a mim e não precisará demais ninguém. Tu se fizeras sozinho! Agora vá!

Dito o "AGORA VÁ!", a silhueta do Sábio Leão é vista por alguns, e estes são os primeiros a se porem de pé e fazerem barulho, prontos estão para o embate. Os animais antes lutam contra si mesmos, superando seus medos, extrapolando seus argumentos que lhe dizem para fugir, indo além do que até então tinha como coragem em si mesmos. Cada um se faz seu próprio protetor e estão dispostos a proteger os demais. É algo lindo observar, um a olhar para o outro, a dá gritos de encorajamentos, ora pra si mesmos, ora para a companhia ao lado.

As Fêmeas se destacam, porque vão à frente dos machos, sendo por estes postas para trás e ficando contidas com toda a força que tais machos tem, e a beleza se completa quando notamos todos os filhotes imitarem as atitudes dos adultos.

Tudo termina quando o Nosso Amigo rompe o som feito por todos com a sua risada debochada. E indo bem perto a entrada do covil do Sábio Leão, passa em tom de gracejo falar:

Eu aqui estou! O medo me domina e não sei o que lhe dizer! Sei bem que precisa deste que agora fala contigo! Eu sim, sei! Dado que é o teu melhor amigo - E olhe como a multidão me quer longe! - Torno a te dizer, este que contigo fala, não é seu inimigo, apenas não sabe te ter quando tu já não precisas dele! Não o ofenda e nem o rejeite. Tenhas por ele carinho. O carinho que tu não tevês, uma vez que tu não tevês nem Pai e nem Mãe. Não lhe sendo isto motivos para cometer erros! O que nos disse a Falecida Búfala? - No tempo mais difícil, vocês se recolherão em si mesmos, e escondidos em suas próprias cavernas, vocês só sairão se forem sábios. - Por isso, agora eu lhe digo. A ti esperamos e pedimos, venha Sábio, Leão!

Ao termino da fala do Nosso Amigo, todos dizem:

Venha Sábio, Leão!

E o Sábio Leão aparece aos olhos de todos, e lindo como só ele é, dá seu mais perfeito Rugido, levando todos os animais da Floresta ao delírio, promovendo assim a mais rara e cíclica celebração da Floresta.

A festa já não tem hora para acabar, todos sabem que um novo período começou, com a saída do antro do Sábio Leão, e cada um se auto promete a serem diferentes e superarem a si mesmos.

Enquanto todos confraternizam, o Nosso amigo vê sair da caverna o Contente Burro que para ele pergunta:

Macaco! Macaco! Macaco! Desta vez eu imitei a voz do Sábio Leão certinho?

E sendo elevado pela multidão que o queria, do Nosso Amigo ouviu:

Sim, meu amigo! Perfeitamente." ( Marcivus Omnia Mutantur )

Marcivus lembra o quanto o seu orgulho burro o foi amigo nos tempos difíceis. 

Diante do Antro do Sábio LeãoWhere stories live. Discover now