8- "Não demonstrar fraqueza e ensinar isso aos filhos".

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O homem silencioso, que só fala o essencial, e dentro de si, vive incontáveis tragédias, sem transparecer seu sofrimento, dentre todos, é o mais admirável. O homem que sofre calado, que prefere a própria ruína, a ter que abrir-se, é dentre todos, o mais corajoso. O homem sem mistérios, nada obscuro, é previsível e desinteressante, aqueles que com demasiada facilidade revelam-se não despertam curiosidade. Os “livros abertos” são folheados para lá e para cá, e sem demorar, seu leitor joga-os de volta à prateleira, já o “livro fechado” será intrigante e desafiador, pois não é atrativo por sua capa, mas sim, por seu misterioso conteúdo. O homem que não é dominado por suas emoções é possuidor de uma das maiores virtudes: o autocontrole. O homem que entende que seus problemas são só seus e que em quase todos os casos só ele pode resolvê-los, é amante da reflexão, não levará suas dores aos outros e evitará que muitos sofram.
O homem que olha para todos os lados, e somente quando percebe-se sozinho chora, é grandioso! Pedir ajuda, apenas quando esgotadas as próprias forças, antes disso, jamais. Lamentar, reclamar, choramingar, nada resolve, é perda de tempo, então ao redor de si mesmo deve-se erguer gigantescas muralhas, para impedir a entrada de sabotadores e para que seus gritos não ecoem. Os fortes também são fracos, mas diferem-se dos fracos na conduta. Os fracos corrompem-se, os fortes são incorruptíveis. Os fracos não controlam-se, são desejosos e bajuladores, os fortes não vacilam, são senhores de seus desejos e não preocupam-se em agradar ouvidos. O homem não deve desprezar a sua essência, antes de tudo, deve aceita-la e controla-la. O homem sábio tem lições para as crianças, é respeitoso com as mulheres e aprende com os mais velhos. O homem desprovido de confiança e frágil não terá futuro, será iludido e na melhor das hipóteses, rejeitado. Aquele que expõe suas fraquezas, lança facas aos maus, e não esqueça-se: é da natureza dos maus apunhalar.
Acredito que muitos homens em algum momento da vida, já ouviram algumas das seguintes frases: “Homem não chora!”, “Isso não é coisa de homem!”, “Se apanhar na rua, apanha em casa!", “Seja homem!”, “Já arrumou uma namoradinha?”, “Você é muito lento.”, “Pare de frescura!”. Os filhos de hoje estão sendo criados por pais da geração anterior, que eram filhos de pais de outra geração anterior, e assim por diante. Acontece que, alguns homens tentam ensinar aos seus filhos o que aprenderam com seus pais, com a mesma rigidez e metodologia semelhante. Surras, castigos e lições de moral, proibições para limitar ou evitar a libertinagem e passar ensinamentos ao filho para torná-lo um “homem de verdade”. Essas atitudes possuem um lado negativo, pois força o respeito através do medo, nenhum respeito através desse meio dura para sempre, quando o medo acaba, chega a rebeldia, que nada mais é do que indisciplina, fúria, revolta e autodestruição. Não existe sequer um rebelde, que não tenha uma causa.
Muitos dos adolescentes e dos adultos de hoje, estão apenas “imitando" seus pais ou o modelo de homem que lhe foi passado como referência. Isso é limitador, visto que muitos homens, por esse motivo, são inseguros. Ainda assim, não é correto afirmar que esses homens são maus, pois não estão fazendo e nem fizeram isso para prejudicar os seus filhos, como mestres impiedosos querem fortifica-los para que possam sobreviver, negligenciar essa educação seria para esses homens, fracassar como mestre, e principalmente, como pai. Não com muita raridade, ouvimos um tio, pai ou um senhor em um bar, falando de seu passado. “No meu tempo as coisas eram difíceis, eu com 8 anos já trabalhava com meu pai na roça, para trazer comida “pra” mesa. Quando menino, eu aprontava muito, meu pai me batia tanto que até hoje, sinto a dor. Todo mundo tinha medo e obedecia o meu pai. O mais velho cuidava do mais novo, o mais novo tinha que obedecer o mais velho e “ai” daquele que assim não fizesse. Mamãe servia a todos e o silêncio era a lei da mesa, todos tinham hora para dormir e para acordar. Apesar de tudo, nosso pai era muito bom com a gente, nunca nos deixou passar necessidades, frio, sede ou fome, ele sempre dava um jeito, esse era o amor dele. Quando ele estava bebendo muito ou calado, com um silêncio assustador á sua volta, sabia que estava triste, mas nunca sabia o porquê, nunca demonstrava fraqueza, nunca o vi chorar. Então quando eu tinha vontade de chorar por alguma dor que sentia ou por ter apanhado na rua, corria para os braços de mamãe, chorava como se o mundo fosse acabar no colo dela, e pedia para que ela não contasse a ninguém, se não iriam rir de mim, ela me olhava com um olhar doce e me acalentava. Meu pai dizia que homem não chora. Todos os filhos de meu pai se tornaram homens de verdade, nenhum “virou" vagabundo, pois ele não deu moleza e nos ensinou a ser homem. Eu ensinei aos meus filhos tudo que aprendi com meu pai, mas hoje em dia os filhos não respeitam mais os pais, é tudo muito triste. A juventude está cada vez mais perdida.”, disse seu Antônio com o semblante triste encarando a sua bebida.
A verdade é que muitos homens estão sendo forjados através de cobranças, o sentimento de querer corresponder as expectativas suprime e oculta a capacidade de refletir e identificar os efeitos colaterais de atitudes e condutas assumidas. Os homens que foram criados em torno de “uma forte disciplina” sentiram na pele todos os danos que ela causou, sabem que o processo é doloroso e possuem traumas no recôndito de seus seres. Mas há um sentimento de gratidão, de “respeito ao ídolo”, que faz com que esses homens repitam o comportamento de seus pais com seus filhos. Essa é a repetição comportamental e educacional assumida em decorrência de experiências anteriores que possuem pontos benéficos e ao mesmo tempo uma carga prejudicial não percebida ou ocultada por respeito a um ídolo pessoal, nesse caso, o pai. É como se houvesse a seguinte ideia: “Foi bom para mim, então, será bom para ele. Se eu sobrevivi, ele também sobreviverá”. Se entrarmos mais a fundo dentro desse abismo, dessas articulações psicológicas chegaremos a mais sintomas desse problema. O pai coloca-se frente ao filho como uma figura exemplar, como um modelo a ser seguido, o pai se apresentará como aquilo que é “bom", então seguir os passos do pai e aceitar os ensinamentos fará com que o filho seja “bom", não seguir os passos do pai e não aceitar os ensinamentos fará com que o filho seja “mau". A recompensa do filho por seguir os ensinamentos do pai será o título de “bom homem” ou “homem exemplar”. E esse filho, quando pai, fará de tudo para que seu filho também seja “bom", tendo em mente que não há mais de um caminho para isso, ele repetirá o processo com seu filho, pois se não o fizer, o filho se tornará “mau". Ainda que o pai tenha consciência dos traumas da doutrina que recebeu, ele não hesitará em colocá-la em prática com seu filho, pois há nele expectativas de que o seu filho, como ele, sentirá no fim do processo uma plena gratidão.
Não repetir a conduta paterna, significaria assumir traumas. Considerar as atitudes do pai como excessivas o colocaria como “mau", e a si mesmo como “mau", pois os ensinamentos vieram da natureza de quem ensinou. Então, mentir para si mesmo e ocultar essa verdade, preservará a imagem do ídolo e será mais confortável, por isso muitos homens costumam passar adiante o que lhe foi ensinado sem alterar ou acrescentar nada. Seria possível, por meio de reflexão, tornar-se mais efetivo na educação. Os pais não precisam deixar de serem duros, rígidos e exigentes, mas podem fazer isso sem cometer excessos. Há muita nobreza no pai que ensina a sua profissão ao filho, mas que isso seja feito no tempo adequado, para que o desenvolvimento do mesmo não seja precoce e para evitar que isso atrapalhe em outros pontos. É fundamental ser continuamente moderado na educação, conforto demais gerará ociosidade e indisciplina, desconforto demasiado gerará traumas e insegurança. A moderação é mister em todas as fases de desenvolvimento do indivíduo, a natureza do pai definirá muito de sua disciplina, se for calmo, ensinará com calma, se for bravo, ensinará com braveza, se for paciente, ensinará com paciência, se for impaciente, ensinará com impaciência, nada pode-se fazer quanto a isso, não dá para mudar a natureza dos indivíduos e não existe um “modelo ideal" de educação.
Aquele que educa, deve agir com justiça e afastar-se da ira, para firmar-se na temperança. As punições e castigos devem ser proporcionais aos atos “condenáveis” praticados, não é sábio aterrorizar, amedrontar, para impor respeito. O medo gera distância, omissão e ódio. Há indivíduos que não batem, mas sim espancam os seus filhos por motivos banais, em muitos casos, por vaidade. “Não me faça vergonha!”, no fundo não é pela educação ou pela evolução pessoal do filho, é para manter aparências e mostrar aos outros que possui pulso firme. Isso não é justiça, nem amor, é orgulho e vaidade. Existem crianças que possuem medo de seus próprios pais, esse medo acaba gerando incontáveis limitações. A criança perde a criatividade, não consegue realizar coisas simples por medo de errar e sofrer punições, e, também torna-se incapaz de criar ou aperfeiçoar-se em alguma coisa por sentir-se reprimida. Os homens que tentam provar a sua força, por meio da força, são na verdade fracos e imprudentes.
O homem forte e sábio corrige seu filho com pulso firme, mas sempre com justiça e de forma proporcional. A presença desse homem não sufoca, não limita, é na verdade saudosa e agradável, é amigo, mas não faz vista grossa, quando o filho comete um erro, o faz refletir a respeito de seu ato e a partir disso passa lições. O filho antes de tudo respeita por admiração, não pela força do medo, quando este comete um erro, não se apavora, mas envergonha-se, pois sente-se culpado por desagradar o pai que tanto lhe é bom. Educar é a arte de melhorar o futuro. O educador deve ser estratégico, cauteloso, firme e respeitoso, pois a relação entre o educador e aquele que está sendo educado, é essencialmente política, pois envolve a apresentação, a defesa e o conflito de ideias entre dois indivíduos. Muito do pai se refletirá no filho, desde seus traços genéticos ao que é aprendido e ensinado durante a vida.
Antes que concluas, deixo claro que nada concluí. Os homens do passado, logo, os pais do passado, viveram na sua época, em um contexto diferente, e foram homens e pais dentro da realidade em que existiram. Não é honesto retroagir ao passado, para condenar homens do passado, a partir da realidade do presente. Estamos vivendo em um processo de transição radical, que não oferece tempo significativo para mudanças e que exige revoluções imediatas. O movimento neofeminista está se colocando na posição de juiz absoluto, condenando personalidades, condutas, ideais e valores sem resquícios de tolerância. Os homens que não querem sair de suas raízes, estão sendo desqualificados e recebendo o título de “machista”. Propus acima, uma reforma na educação, com intuito de melhora-la, sem radicalismo e sem perigos utópicos. Os homens que não demonstram fraqueza e que ensinam isso aos filhos estão sendo condenados, mas pergunto-me, os julgamentos feitos baseiam-se em quê? Existe algum benefício na exposição da própria fraqueza? Quais os maléficos de ensinar o filho a não ser frágil?
“Quando o comandante demonstrar fraqueza, não tiver autoridade, suas ordens não forem claras e seus oficiais e tropas forem indisciplinados, o resultado será o caos e a desorganização absoluta.”
-Sun Tzu.
Há precedentes que indicam que a ocultação de fraqueza é um mecanismo de autodefesa do homem. Desde criança, o homem precisa ser “forte” para assumir as suas primeiras responsabilidades e concluí-las razoavelmente, pois todo indivíduo é passível de cobranças. O primeiro contato social, avançado e consciente do indivíduo é na escola. Ao ingressar numa instituição de ensino, o indivíduo terá suas primeiras relações com outros seres criados sob ideais e valores distintos. Os primeiros conflitos humanos da sociedade moderna surgem nessa fase, que são: competitividade, primeiras paixões, prova de capacidade, embates, respeito a hierarquia e relações humanas. Os garotos na puberdade começam a sentir-se atraídos pelas garotas (na maioria dos casos) e passam a querer conquistar algumas delas, seguindo o esperado, apenas os “melhores” conseguem “conquistar”. Os garotos mais frágeis, sensíveis e fracos (fisicamente falando) sofrem bullying e rejeição das garotas, essas pequenas experiências causam danos que podem ser irreparáveis. Os garotos mais fortes oprimem os mais fracos por que isso foi-lhe ensinado por seus pais ou pela instituição? As garotas rejeitam os garotos mais fracos por que isso foi-lhe ensinado por seus pais ou pela instituição? Tudo indica que não. Essa conduta aparenta ser natural e irreversível.
Experimente ser um garoto e chorar no ensino fundamental por sentimentos ou até mesmo por ter apanhado. Os garotos zombarão de você e as garotas rirão de você. A empatia dificilmente se fará presente, já que é uma fase de imaturidade coletiva. É improvável que isso mude através de conscientização ou por meio de uma educação alternativa, esses acontecimentos são frutos da natureza humana. O homem vê a fraqueza como uma âncora que prende-o, se for fraco apanhará do garoto mais forte, se for fraco não será atrativo para nenhuma garota, se for fraco nunca terá nada que seja dos fortes. O mundo sempre obrigou os homens a serem fortes, para que sobrevivessem nos primórdios, para que não sucumbam nos dias de hoje. É como se houvesse dentro do homem uma aversão ao estado de fragilidade, que habita em seu sistema psicológico, funcionando como um mecanismo de autodefesa, que dita: “procure ser forte, evite ser fraco”. Essa aversão é passada de pai para filho, se o pai não forçar o filho a ser forte, a vida o forçará, ou o matará.
Existe muita coisa por trás do impiedoso “homem não chora!”. Não estou julgando nada como certo ou errado, apenas analisando. Nenhuma ideologia garantirá o conforto de ninguém, muito menos humanizará todos os indivíduos a ponto de tornar a fraqueza confortável. Percebe-se não só no pai, mas também na mãe, que há uma expectativa quanto ao comportamento dos filhos de acordo com seus sexos. Espera-se um comportamento do homem e um comportamento da mulher, pois possuem naturezas diferentes. As mulheres são criadas sob regras mais conservadoras, exige-se que seja mais comportada, cuidadosa com o que veste, com a postura e com as companhias. É, normalmente, atribuído as mulheres, já desde cedo, o dever de contribuir com os cuidados domésticos, o que não é algo absurdo, mas injusto na maioria dos casos, por ser uma atribuição exclusiva a mulher, isentando os homens de qualquer função doméstica. As garotas recebem mais afeto e possuem a liberdade de demonstrar fraqueza a qualquer momento, sem sofrerem represálias ou desqualificação. Vale lembrar, que o homem é atraído pela fragilidade feminina, mas totalmente rejeitado se demonstrar fragilidade. A mãe possui essa informação inconscientemente, e, ainda de forma inconsciente, pelo instinto de maternidade, tenta preservar a masculinidade do filho, para evitar que ele fracasse com as mulheres e consequentemente não sofra.
A mãe também tentará tornar o seu filho forte, reforçando a mensagem: “homem não chora!". Pois se dissesse: “chore quando quiser!”, estaria colocando-o a caminho da desqualificação. A mãe, por ser mulher, sabe o que é atrativo em um homem, e é familiarizada também com a seletividade feminina. É como se, ressalto novamente, de forma inconsciente, algo ditasse: “O homem que chora não é qualificado, pois demonstra fraqueza, e para minha segurança, o ideal é o homem forte”. Então ela evitará contribuir com qualquer coisa que venha causar sofrimento ao seu filho, que inclui não fragilizá-lo, pois causará rejeição das mulheres, ou seja, fracasso. O sucesso com a fêmea é muito importante para qualquer macho de qualquer espécie, pois significa contribuir com a sobrevivência da raça e com a preservação dos seus genes, nada é mais importante para os seres vivos do que satisfazer o instinto de sobrevivência. A força, perspicácia, inteligência, criatividade e resiliência são características do homem preservadas pela seleção sexual, que é baseada no poder discriminatório das mulheres. Não me parece absurdo concluir que, a maior ambição dos machos é conquistar as fêmeas, pois até mesmo nós, humanos, racionais, conscientes, possuidores da arte da reflexão, somos escravos do desejo sexual, qualquer coisa fazemos para conseguir o prazer sexual, mesmo que não percebamos. Manter-se adequado e agradável aos olhos do sexo oposto, ao que parece, é imprescindível e essa informação está salva em todos os seres, sendo conservada involuntariamente em si e nos seus progenitores.
O sucesso com as fêmeas é vital para os machos. A teoria da Seleção Natural de Darwin afirma que somente os organismos mais adaptados conseguem sobreviver e produzir descendentes. O meio ambiente atua como um selecionador de características, conservando e passando adiante os atributos mais vantajosos, que possam garantir a sobrevivência da espécie. As girafas serão o nosso exemplo, para entendermos a beleza do processo evolutivo. Existem duas teorias que tentam explicar o gigantesco pescoço das girafas, ficamos entre Darwin e Lamarck. Higor Luã Borges Duarte, Graduando em Licenciatura em Ciências Biológicas e cursando Pós graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental, resume com maestria as duas teorias sobre as girafas.
“Lamarck em sua teoria desenvolveu 2 tópicos, a Lei do Uso e Desuso que dizia que se um animal não utiliza determinado membro ele atrofia e você o perde (e foi comprovado, isso acontece mesmo) e a Lei da herança dos caracteres adquiridos e é ai que a girafa entra, Lamarck nesta lei diz que todos os animais podiam passar para seus descendentes, características destes membros que perderam na lei do uso e desuso, assim ele acreditava que surgiam novas espécies devido à esta “evolução”, vários animais foram utilizados para Lamarck explicar sua teoria, um exemplo destes animais é a Girafa.
Lamarck afirmava que, como a Girafa vive em um ambiente seco e com pouca vegetação, ela foi obrigada a comer brotos das árvores, mais como estes brotos se esgotavam devido a competição com os outros herbívoros, ela tinha que esticar o pescoço para alcançar os brotos mais altos assim, então de tanto esticar o pescoço ele se alongou e as pernas posteriores ficaram mais longas que as inferiores.
Darwin pensava diferente de Lamarck. Darwin em suas pesquisas chegou a conclusão que toda espécie que não se adapta em um ambiente é eliminada, então essa teoria foi chamada de Seleção natural. Como ele chegou a esta conclusão? Durante suas pesquisas ele encontrou fósseis de girafas com pescoço mais curto que as girafas vivas.
Como ele acreditava que o indivíduo com maior valor adaptativo sobrevive, ele chegou a conclusão que as girafas foram selecionadas pela Seleção Natural, onde somente as que nasciam com pescoços maiores que as outras conseguiam se alimentar mais e consequentemente sobreviviam e tinham mais filhotes. Deste modo, as que não conseguiam se alimentar por nascerem com pescoços menores não deixaram esta característica nas populações de girafas, pois morreram e não conseguiam se reproduzir.
Então, os fósseis encontrados foram os primeiros descendentes das girafas atuais.”
A Seleção Natural não permite que características prejudiciais para a sobrevivência se perpetuem. Mas é aqui que entra o “pesadelo” de Darwin! O pavão e sua cauda extravagante, como esse animal conseguiu sobreviver possuindo uma característica tão chamativa? A cauda do pavão, com suas cores e tamanho atraem predadores e dificulta as chances de fuga do animal, então porque essa característica foi preservada e passada adiante? Essa não seria uma violação da Seleção Natural? Bom, é aqui que entra a Seleção Sexual proposta por Darwin, vista por uns como uma extensão da Seleção Natural e por outros como algo que a contradiz, é bem aceita a ideia de que a reprodução e a sobrevivência estejam em conflito. A cauda do pavão não possui uma utilidade prática na sobrevivência, contrariando a Seleção Natural, mas é de suma importância para o acasalamento da espécie. O pavão macho que portar a cauda maior e mais colorida terá mais sucesso com as fêmeas. Sendo assim, essa é uma característica fundamental para a reprodução dos pavões, e consequentemente, para a sobrevivência da espécie. Características que só sirvam para atrair o sexo oposto, são apreendidas pela mente e tidas como tão importantes quanto as que possuem uma utilidade prática. Essa preservação de características úteis para o acasalamento pode ser resultado do fato de que os indivíduos não se reproduzem pela sobrevivência da espécie, mas sim pela preservação de seus genes.
Não seria muito diferente com os humanos, a prioridade do homem é conquistar a mulher, e a prioridade da mulher seria selecionar o melhor homem. Os homens precisam preservar características que sejam atrativas para a mulher, porque normalmente, não é ele quem seleciona, é na verdade o selecionado.
“Baseado em um número impressionante de evidências, Darwin afirma que no mundo das espécies animais “o normal é que o macho procure a fêmea” (DARWIN, 2004, p.179), pois “os machos de quase todos os animais têm paixões mais fortes que as fêmeas” (DARWIN, 2004, p. 179). Darwin compreende paixão aqui como o ímpeto que um animal se lança à corte ou mesmo ao ato sexual em si. Os naturalistas e filósofos perceberam que na maioria das espécies os machos é que apresentam as estruturas mais extraordinárias e os comportamentos mais apaixonados e estranhos. A percepção de que as estruturas ou comportamentos mais extravagantes estão nos machos, leva ao questionamento de que essas estruturas precisam e devem ser percebidas de alguma forma pelas fêmeas. O mecanismo que Darwin propôs para resolver esse enigma é o poder discriminatório da fêmea, sua suposta capacidade sensorial e mental para escolher o melhor para ela, dentre as pequenas variações encontradas nos diferentes machos da população.”
- Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, Vol. 13, N°2  2013
O desenvolvimento humano pode ter sido influenciado pelo “gosto” feminino. O psicólogo Geoffrey Miller teoriza que o cérebro humano cresceu de forma muito rápida e isso pode não estar relacionado com o aumento de chances de sobrevivência, sendo então um “capricho” voltado para a atração sexual. Peço licença aos meus leitores para fazer uma importantíssima citação, extensa, mas fundamental para a compreensão do assunto.
“Miller retoma o conceito de Seleção Sexual de Darwin enriquecido pelas contribuições de Ronald Fisher e Amotz Zahavi. Ele tenta mostrar o poder da evolução no que diz respeito à escolha sexual e as razões por que nossos ancestrais sentiram-se atraídos por mentes mais sagazes, articuladas, generosas e lúdicas. A mente humana teria evoluído para o namoro e principalmente para o acasalamento. Miller oferece o ousado argumento de que a cultura é a nossa cauda de pavão, ou seja, nossas criações culturais seriam ornamentos para atrair parceiros. É praticamente impossível, em poucos parágrafos, seguir o argumento de Miller em toda sua complexidade. Sobretudo quando ele envolve dois dos mais disputados conceitos da ciência ocidental. Mente e cultura são (in)definíveis por um talvez inviolável labirinto de controvérsias. Para Miller, claramente, como para Darwin e muitos outros materialistas, a mente é um produto do cérebro. E, sem definir explicitamente cultura, Miller assume que esse fenômeno, esse processo, se expressa pelas linguagens que tecem e entretecem a vida humana. Miller recorre a ideias da biologia evolutiva, da economia, da psicologia, da história, da sociologia, da linguística para alicerçar seus argumentos a partir de casos que vão da história natural à cultura popular, da arte dos pássaros-pavilhão da Nova Guiné, ao carisma sexual de artistas e desportistas. Mais recentemente, a antropóloga Helen Fisher (2008) procurou desvendar os circuitos neuronais que seriam ativados durante o despertar do impulso para o acasalamento. Fisher partiu de estudos dos roedores arganaz do campo e da montanha, espécies aparentadas filogeneticamente, que mostravam um comportamento diferenciado de machos e fêmeas, no que se refere à monogamia e ao cuidado parental. Fisher propôs e analisou experimentos sobre a ativação de circuitos cerebrais em homens e mulheres que se declaravam apaixonados. Estudos experimentais sobre a sociabilidade com essas duas espécies de roedores têm demonstrado que os comportamentos sociais diferentes podem estar relacionados com uma distribuição diferenciada no cérebro dos neurotransmissores de ocitocina e vasopressina, e seus respectivos receptores. Os arganazes do campo (Microtus ochrogaster) são sociáveis, monogâmicos e os machos ajudam no cuidado com a prole, já os arganazes da montanha (Microtus montanus) exibem um comportamento não social, poligâmico e os machos não ajudam no cuidado com a prole. Essa última espécie não apresentaria a ativação de regiões do sistema de recompensa (núcleo accumbens e complexo basolateral da amígdala) e com isto não exibiriam motivação para o contato social (MOURA; XAVIER, 2010). Retornando à proposta do experimento de Helen Fisher com mulheres e homens que se declaravam apaixonados, essa autora conseguiu demonstrar que durante a atração por alguém, o impulso sexual e a criação de laços com o parceiro, ocorre a ativação de vias específicas de neurotransmissores cerebrais. A partir desse trabalho, retoma os conceitos de Seleção Sexual de Darwin e o de ornamentação como forma de atração de parceiros, trabalhada por Miller, e tenta mostrar como esses dois conceitos podem ser explicados, unidos e justificados pela ativação de circuitos cerebrais específicos levando ao impulso para o acasalamento. No mundo bruto das espécies animais, as estruturas que a evolução por Seleção Sexual produziu nos machos os ajudam quando do momento em que a fêmea procede a escolha de quem será o progenitor de sua própria prole. Entre os hominídeos uma preferência feminina por um cérebro ligeiramente aumentado, e com novas habilidades, como indicador de aptidão, poderia levar a um processo de aumento descontrolado do cérebro. Entretanto, o princípio da Seleção Sexual Descontrolada pode explicar apenas características que se desenvolvem em um dos sexos, e não nos dois, e no caso da nossa espécie, tanto mulheres como homens têm cérebros muito maiores do que o de todos os outros primatas e a diferença no tamanho entre os cérebros femininos e masculinos é muito pequena e está seguramente relacionada à diferença no tamanho dos corpos. Mas como explicar o desenvolvimento de um indicador de aptidão nos dois sexos? A resposta para esta pergunta está no desenvolvimento da linguagem, pois foi uma das grandes novidades surgidas com o aumento do cérebro. A linguagem permitiu a observação e reflexão sobre os dados do mundo gerando um corpo de conhecimento transmissível para as futuras gerações. Além disso, foi responsável pelo início de diversas formas de expressão cultural, como por exemplo, as inúmeras manifestações artísticas. Para que essas informações fossem criadas e transmitidas, deveria haver um cérebro altamente desenvolvido que pudesse perceber tais estímulos e produzir respostas. Podemos sugerir então que nossa cabeça grande é a nossa cauda de pavão, mas que nesse caso, houve uma pressão seletiva para que a estrutura se desenvolvesse nos dois sexos (MILLER, 2000).Há um “comportamento esperado” tanto do homem, quanto da mulher.”
- Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, Vol. 13, N°2  2013
Existe um “comportamento esperado” de cada sexo social e historicamente falando. O “comportamento esperado” baseia-se em como cada sexo comportou-se durante a sua história, como agiam, o que normalmente faziam, ou quais funções assumiam. O comportamento do homem é diferente do comportamento da mulher, porque possuem naturezas, gostos, desejos e ambições diferentes. Os homens tendem para um lado, as mulheres para o outro. Duas frases popularmente ouvidas estão sendo atribuídas ao machismo, que são: “Isso é coisa de homem!” e “Isso é coisa de mulher!”. Por que algumas coisas são vistas como masculinas e outras como femininas? Podemos refletir a cerca disso.
Bom, o homem há séculos usa roupas específicas: calças, bermuda, camisa, cueca e sapato. A mulher, também, há séculos usa roupas específicas: saia, vestido, short, sutiã, calcinha, sandália e entre outros. O homem não possui um histórico antigo onde a preocupação excessiva com a beleza seja comum, barba feita, cabelo cortado e uma veste confortável antes eram o suficiente, a mulher pelo contrário, sempre foi mais preocupada com a beleza, que envolve cuidar dos cabelos, unhas, pele, fazer a sobrancelha, usar maquiagem e roupas que combinam. A preferência dos homens sempre foi mais “agressiva”, desde muito tempo gostam de filmes de ação, esportes, humor negro, carros e motos, as mulheres até recentemente possuíam um gosto mais “sensível” do que o atual, mas ainda tendem a gostar de filmes românticos, de revistas de fofoca, histórias de princesa e produtos de beleza. Os homens por muito tempo realizaram tarefas que eram consideradas exclusivas a eles, foram carpinteiros, pedreiros, mecânicos, encanadores, etc., com as mulheres não foi diferente, por muito tempo realizaram trabalhos que eram-lhes exclusivos, foram donas de casa, faxineiras, babás, modelos, etc. Os homens sempre foram a maioria em bares, estádios de futebol ou boates, as mulheres sempre foram mais noveleiras, mais presentes no salão de beleza e dedicadas ao cuidado das crianças.
As pessoas da geração passada que vivem nos dias de hoje, estão acostumadas a verem o homem e a mulher se comportando, agindo, tendo gostos e características diferentes. Salvo raras exceções. De tanto conservarem uma mesma conduta por gerações, tornou-se inevitável associar comportamentos, gostos e hábitos diretamente aos sexos. Por exemplo, o uso de maquiagem por homens está se tornando comum atualmente, mas era totalmente incomum antigamente, pois a maquiagem era algo exclusivo da mulher. Então não é um absurdo que pessoas de gerações passadas se surpreendam ao avistarem um homem moderno, radiante, de maquiagem, esse estranhamento não ocorrerá necessariamente porque são más pessoas, mas sim por ser algo totalmente novo. A repreensão “isso não é coisa de homem!”, origina-se do estranhamento natural a um novo comportamento. O mesmo ocorre com as mulheres, imagine uma donzela indo caçar na floresta com uma espingarda, é até previsível que ela ouça um grosseiro “isso não é coisa de mulher!”, ainda que ela prove o contrário. A caça é uma prática dominada pelos homens desde muito tempo. O homem moderno assumiu comportamentos que eram exclusivos do feminino, assim como a mulher moderna assumiu comportamentos que eram exclusivos do masculino, tempo é essencial para que a sociedade acostume-se com essa homogeneização. Todos as pessoas fazem associações dessa natureza, iniciarei um teste, que consistirá em frases e associações. Formularei algumas frases e você deverá memorizar a quem você as associou, se ao homem ou a mulher. Faça em um papel uma coluna, de um lado escreva “homem" e “mulher” do outro, ao ler uma frase, concentre-se para lembrar a quem você a associou e em seguida marque um “X" na coluna referente a associação.
• Vestido rosa, batom vermelho e salto alto.
• Gravata, terno, calça e sapato.
• Usa biquíni na praia.
• Fica na praia com a parte superior do corpo despida.
• Vamos fazer uma festinha de princesa.
• Vamos fazer uma festinha do Rambo!
• Eu quero uma boneca.
• Eu quero uma espada.
• Essa maquiagem ficou um arraso, amiga!
• Moto maneira, cara!
• Minha cor favorita é rosa!
• Minha cor favorita é vermelho!
• Tenho um “babado" pra contar!
• Eu te desafio para uma queda de braço.
• Como ele é fofinho, ai que lindo!
• Eu não sei pegar uma criança no colo.
Lembrando que não estou ditando como cada gênero deve se comportar. O teste comprova que as pessoas associam pelo menos metade das frases a um dos sexos. Algumas das frases são um tanto quanto tendenciosas e específicas e outras são consideravelmente neutras e até não “associáveis” a nada. O nosso cérebro faz associações automáticas, devido a existência de padrões estabelecidos e memorizados por ele.
Muito se fala em “respeito as diferenças”, ao mesmo tempo que há uma tentativa de negar a existência das diferenças. As diferenças estão diante de nossos olhos, tão claras quanto o sol em um dia de céu limpo, mas a estupidez parece ser capaz de esconder até mesmo uma estrela com sua escuridão. Quanto aos homens que não demonstram fraqueza, esses devem ser respeitados como qualquer outro. Os homens possuem personalidades das mais diversas, não é do feitio de muitos compartilhar sentimentos, ser emocional ou delicado e não existe problema nisso. Para alguns é melhor fechar-se do que abrir-se.
Quanto a educação, seria muito mais benéfico e efetivo se os pais conversassem mais com seus filhos. Ser afetivo e estabelecer uma relação mais aberta, sem reprimir sentimentos, poderia ser a chave para a formação de um adulto saudável e livre de traumas. Mas é preciso aceitar a realidade, pouquíssimos pais conseguem agir de tal maneira, a ponto de conseguir suprir a carência afetiva de seus filhos, não porque são maus ou negligentes, mas em muitos casos, porque simplesmente não conseguem. Principalmente aqueles homens de natureza calada e distante. O amor é demonstrado de diversas formas, trabalhar duro todos os dias para trazer alimento para casa, corrigir com dureza, ensinar algo, sentar-se ao lado em silêncio, é o “eu te amo” de muitos pais para os seus filhos. Pode ser que o filho não compreenda de imediato e considere o próprio pai como ausente, mas se o pai for de fato exemplar, bom, responsável e justo, o filho quando maduro, entenderá cada gesto silencioso de amor.

Em defesa do homem: o processo de demonificaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora