Todo e qualquer diálogo civilizado é nutrido por um invisível respeito, natural, fluído, perceptível. As conversas mais prazerosas são férteis, os elementos ensinam e aprendem, em certos momentos na posição de mestre, em outros na posição de aluno. A comunicação deve ser clara, democrática e bem estruturada, possibilitando aos participantes a variabilidade de posições, que são duas: orador e ouvinte. Existem diversos tipos de diálogo que encaixam-se em duas classes: formais e informais. Os diálogos formais são de natureza técnica, objetiva e lógica, como por exemplo debates, palestras e reuniões, nesse contexto estabelece-se regras e interrupções são inaceitáveis. Já os diálogos informais são mais simples, cotidianos, sem a necessidade de preparativos ou de argumentações elaboradas, seria algo semelhante a uma conversa de bar ou entre amigos em um encontro casual, inexistindo regras, não sendo incomum ou condenável qualquer tipo de interrupção.
A capacidade de comunicar-se com extrema facilidade e diversidade deu aos seres humanos vínculo e singularidade em graus mais profundos em relação a outras espécies animais, e também enalteceu um dos atributos humanos, a empatia. Ainda que existam diversos tipos de conversação, uma lei deve ser vigente em todos os casos, a lei do respeito, de forma absoluta, como condição para o bom diálogo. O diálogo deve ser bom independentemente de sua classe, seja formal ou informal, o ouvinte precisa colocar-se em guarda nos primeiros momentos do diálogo para absorver as palavras do orador e rapidamente julgar se aquele com a palavra é digno de seus ouvidos, é possível identificar quais sentimentos as palavras despertam, saber julgar quando e quem merece ser ouvido é respeitar a si mesmo. O orador tem a obrigação de dar uma finalidade as suas palavras, mesmo que não seja uma conversa formal, o ouvinte deve ser contemplado com algo pela atenção que ofereceu, seja aprendizado ou a dissipação do tédio. Esse é o respeito ao ouvinte.
No diálogo formal espera-se algo de natureza útil, conhecimento, esclarecimento, entendimento, no diálogo informal espera-se algo de natureza prazerosa, diversão, companheirismo, curiosidade. Temos que ser ambiciosos ao ponto de esperarmos uma recompensa em toda comunicação, não há sentido em ouvir ou falar por longos ou curtos períodos em troca de nada, refletir no cessar de uma conversa e ter a sensação de que tempo foi desperdiçado é entristecedor, desgastante, angustiante. Aqueles com um forte desejo de evolução são exigentes, procuram extrair o melhor de tudo, usam com excelência o próprio tempo e esperam a mesma atitude de seus semelhantes. Os elementos devem ter participação ativa em um diálogo, o direito de questionar, argumentar e expor ideias deve ser garantido a todos.
“É fundamental atinar-se que quando o dialogo acontece há a compreensão do outro sobre os seus pensamentos, o que torna claro o roteiro da própria vida, instigando o que cada um tem de melhor em sua alma, florescendo a emoção motivadora, gerando um impulso interno essencial para o desenvolver da inteligência e estratégia da vida. Desta forma, faz se entender que a incompreensão do outro não é por falta de inteligência alheia mas sim a falta de clareza de seus próprios pensamentos. Nada vale dialogar sem que haja a compreensão daquilo que perpetua das ideias, pensamentos e sentimentos. Não poderá conhecer-se ou manter um relacionamento verdadeiro, por definição, sem que estabeleça a clareza e o objetivo implícito das reflexões compartilhadas, gerando uma empatia sincera entre cada um.”
- Marcello Souza
As neofeministas reforçam a ideia de que o masculino não é civilizado, atribuindo-nos uma debilidade: a incapacidade de ouvir. É dito que os homens não respeitam o “lugar de fala” das mulheres, interrompendo-as quando começam a falar, impossibilitando a conclusão de um pensamento e até mesmo excluindo-as do diálogo por reconhecerem-se superiores e terem uma necessidade de sempre querer ensiná-las. A interrupção é tida como um mal exclusivo do masculino, um dos sintomas do machismo. Essa narrativa dá a impressão de que apenas o homem é capaz de tal deselegância, sendo que na realidade, as mulheres também interrompem, agem de forma grosseira e cometem indelicadezas. Interromper o outro no momento de sua fala é do feitio dos mal educados, pouco instruídos, daqueles que não controlam a própria língua, e existem indivíduos com esse comportamento em ambos os sexos, não são somente os homens que precisam melhorar na comunicação, mas as mulheres também.
Quando um homem interrompe uma mulher ele está sendo machista? Não necessariamente. Se ele cometer a interrupção com a intenção de calar e oprimir, para impor uma noção de superioridade sexista, sim, ele está sendo machista. Mas em quantos casos isso acontece? Muitas das interrupções são feitas por impulso, falta de controle, descuido, despreparo, de forma inconsciente, é lógico que esse tipo de interrupção não pode ser atribuído ao machismo, como se todos os homens ao cometer uma interrupção sentissem prazer ou fizessem isso propositalmente para oprimir. O neofeminismo coloca esse suposto “problema” do masculino como algo a ser superado, tanto que essa questão tornou-se uma pauta do movimento, e agora querem ensinar como o homem deve comportar-se em uma conversa quando estiver diante de uma mulher, pois consideram-se com uma altíssima percepção e sensibilidade as falhas humanas, sendo as únicas com propriedade para corrigir, e o homem por si só é considerado incapaz de melhorar.
As neofeministas estão tentando ensinar os homens a se comportar, baseando-se na política do “lugar de fala", os alunos da primeira fileira das aulinhas neofeministas de desconstrução comportamental são os “homens desconstruídos”, que reconhecem-se imperfeitos e com o dever de mudar para comprazer o feminino. As representantes do neofeminismo organizam encontros entre si e convidam homens dispostos a “aprender” e “mudar”, cito aqui o Canal GNT que realiza tais eventos. Até então a ideia parece boa, uma das melhores formas de resolver um problema é por meio do diálogo, mas, no entanto, há casos em que os homens convidados e até mesmo os que integram o programa são excluídos da conversa, com a premissa de que não estão no seu “lugar de fala”. As mulheres passam longos períodos discutindo sobre as pautas do movimento, que envolvem principalmente o machismo, assédio, violência doméstica, feminicídio, sociedade patriarcal, fazem também acusações ao homem altamente questionáveis, mas não é aos homens presentes somente proibido interromper, é proibido também falar, se defender, questionar ou complementar. A postura submissa desses homens é tida como exemplar, pois estão respeitando e contemplando o pensamento feminino, mas na verdade essas situações são cômicas e forçadas, os homens que participam desses “diálogos” deixam nítido em suas faces que não estão confortáveis, mas sim entediados, eles passam horas sentados, em absoluto silêncio, ouvindo mulheres se queixando, não estão nessa situação porque acreditam no mérito da causa, mas sim por aparências.
Não é prazeroso estar em um diálogo como um fantasma, tudo torna-se mais interessante com a possibilidade de participar, o indivíduo não é atraído pelo que o ofusca. “Se não posso ser ouvido, não estarei inclinado a ouvir”, essa política do “lugar de fala" apenas causa mais distanciamento entre os grupos e inviabiliza a compreensão do opressor para com o oprimido. E como de costume o neofeminismo usa o pior método para os seus fins, na matéria de ensinar, o movimento é totalmente ineficaz, pois mostra que nada sabe sobre essa arte. “O que eu ouço, eu esqueço. O que eu vejo, eu lembro. O que eu faço, eu entendo”, disse Confúcio. Aprende-se mais na prática do que na teoria, o indivíduo que é limitado a ouvir terá dificuldades na aprendizagem, já que guardará dúvidas em vez de externá-las. Quando a conversa dispõe de liberdade, de igualdade entre os elementos, dúvidas poderão ser sanadas no momento que surgirem. “Ouço, me inquieto, exponho minhas duvidas através de questionamentos, o questionado argumenta, chegamos juntos a uma conclusão”, assim as dúvidas não se esfriam, o interesse desperta, todos participam, aprendem, não só memorizaram jargões.
Abro um espaço nesse último subtítulo das “definições informais” para falar não somente sobre a postura do homem desconstruído ante aos dogmas neofeministas, mas também para esclarecer sua existência. O homem desconstruído é o indivíduo que se desconstrói como macho, que desvincula-se do masculino tradicional, que supera as supostas limitações do ser homem. O desconstruído é nos contos sociais íntimo da empatia, civilizado em suas ações, destímido quanto a sensibilidade, desprovido dos preconceitos estruturais, aliado à luta contra o machismo, um entusiasta e entendido do feminino. É dito que este transcendeu de “macho" para ser humano elevado, responsável, afetivo, empático, o homem ideal para qualquer mulher, pois apoia a liberdade feminina, e abre mão da postura masculina opressora para com o feminino nas relações sociais e pessoais.
O homem desconstruído é na verdade um mito, o total oposto do que dizem e do que diz ser. O desconstruído não é somente um homem que abdicou das próprias vontades para submeter-se aos desejos femininos, é também a personificação da lista de exigências femininas. O homem que desconstrói-se entra em um processo forçado de mutação, e não possui liberdade ou autonomia para escolher onde chegará com sua mudança. Esse processo de “renovação” do homem é totalmente dirigido pelo feminino, para os seus interesses com a justificativa de que é uma condição para a melhoria social. Os desconstruídos, forjados pelo extremo negativo feminino, são os soldadinhos na linha de frente do neofeminismo, é dado a estes a missão de defender os interesses femininos e a obrigação de posicionar-se vigorosamente contra o machismo.
É importantíssimo ter ciência da origem do desconstruído, toda mudança pessoal possui nos bastidores uma motivação, mas quais motivos justificariam uma conversão tão radical? Há algum inconformismo tão grande a ponto de fazer o homem desafiar a si mesmo e colidir com a sua natureza? Acredito que sim, mas somente os nobres são capazes de tamanho sacrifício e suas motivações, como suas almas, são puras. Os homens desconstruídos não passam de mentirosos e suas convicções são falsas. É preciso descrever esse ser caricato para em seguida realizar uma análise crítica.
O homem desconstruído é o homem pós-moderno, não tem apreço pela virilidade, acredita que o masculino reprime exageradamente suas emoções e precisa ser mais sentimental, devendo permitir-se chorar quando bem entender, pois o homem é na verdade infeliz porque está o tempo todo tentando provar que é forte. Essa figura diz-se diferente dos demais homens por sua capacidade de reflexão, pois devido ao refletir, identificou em si os mais anojosos defeitos da essência masculina, defeitos estes que são considerados a causa do sofrimento feminino. E por supostamente possuir uma imensurável empatia afirma ser incapaz de coexistir com as imperfeições do masculino, então disciplina-se com grande rigidez até tornar-se não mais prejudicial, mas agradável ao feminino. Acredita que o homem em seu estado natural é imperfeito e necessita da contribuição da exemplar existência feminina para a sua melhora. E para que não retroceda, policia-se a todo momento, não interrompe uma mulher quando ela está falando, pelo contrário, cala-se completamente e apenas ouve-a sem sequer ousar complementar o diálogo com uma mínima opinião, em um relacionamento é totalmente liberal, abre mão de qualquer posto de autoridade, dá a parceira total liberdade para fazer o que bem entende, não palpita sobre suas companhias, vestimentas, postura e atitudes, pois acredita que isso é o mesmo que violar a liberdade feminina. Lê livros e assiste filmes preferencialmente de autoria feminina para provar que reconhece a grandeza feminina. Esse indivíduo é também adepto ao neofeminismo, está por dentro de todas as pautas do movimento e é um missionário da palavra neofeminista que luta ardentemente pela conversão de outros homens. Exige-se que sua postura esteja sempre alinhada aos ideais neofeministas, não sendo coerente gritar, ser possessivo, autoritário, ciumento, insensível, em suma, é o protótipo do homem perfeito.
É totalmente seguro afirmar que o dito homem desconstruído da realidade não é condizente com o da teoria, pois é uma filosofia de vida impraticável. E no momento que o desconstruído violar uma das diretrizes de sua existência, não por acidente, mas por não conseguir seguir arrisca as exigências impostas, será tachado por sua musa inspiradora (a mulher) como um falso desconstruído, um machista disfarçado. A grande maioria dos homens desconstruídos são fingidos que simulam um comportamento exemplar para atrair o feminino, no entanto, esse teatro não é duradouro, esses dissimulados estão sendo desmascarados e ganhando o título pejorativo: “esquerdomacho". O neofeminismo está impondo suas regras e ditando o comportamento do homem, as amazonas do movimento basicamente definem quais atitudes masculinas para elas são aceitáveis e quais não são, ou seja, o que lhes será atrativo e o que não será.
As neofeministas passaram a expor o que elas chamam de “homem tóxico”, e categoricamente ensinam a identificar esse homem, detalhando as atitudes, características e pensamentos que compõem esse ser. E aconselham o seguinte: “evitem, rejeitem, denunciem, humilhem o homem tóxico". O problema é que os critérios definidores desse tal “homem tóxico" baseiam-se no que é conveniente ao feminino, não na justiça ou na razão. Bom, chegamos a uma das origens do curioso “homem desconstruído”: o medo da rejeição. As mulheres estão colocando as suas exigências sobre à mesa “quero isso, não aceito isso, faça isso”, aquele que não ousar seguir essas exigências será tachado de machista e rejeitado. O perfil de homem que está sendo retratado como “atraente” ao feminino é o submisso, o que cala-se quando uma mulher estiver falando, o liberal que não contesta, não possui pulso firme ou postura de líder, o obediente que pede desculpas por ser homem.
Uma parte dos homens adaptaram-se as exigências femininas e simularam uma mudança radical. Estes não mudaram seus comportamentos porque evoluíram ou porque reconhecem a causa feminina, mudaram para não serem rejeitados, tudo pelo prazer sexual. O desconstruído para conquistar uma adepta ao neofeminismo apresenta-se como um cavalheiro montado em um cavalo branco, diz não ter preconceitos, esconde o seu lado negativo, reprime o ciúmes, desejos, insegurança, desconfiança e vontades, dá a pretendente um conforto ímpar e uma maravilhosa boa impressão. Mas esse teatro logo é descoberto, tudo que o desconstruído reprimiu para agradar vem à tona, suas ações vão tornando-se incoerentes, e logo ele revela-se um homem ciumento, inseguro, descontrolado, possessivo e imperfeito. O homem por seus desejos sexuais é capaz de submeter-se a situações extremas, engana, mente e sofre. Até aceita a pior das injustiças se por sua colaboração lhe for prometido o prazer.
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Em defesa do homem: o processo de demonificação
Non-FictionO homem está sendo colocado no extremo negativo existencial, sentado no banco dos réus, sem chances de defesa, em um julgamento, onde o acusador é também vítima e juiz. O masculino está passando por um "processo de demonificação", protagonizado pelo...