Fanfic - Parte II

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Rafaella

Com a vida atribulada que levava desde que assumi a empresa da minha família o mais justo seria permitir que só me circundasse pessoas efetivamente competentes.

Não seria ruindade da minha parte, portanto, dispensar funcionários que há tempos não pareciam render como era proposto ao serem contratos. Seria compreensível. Mas porque meu coração me contraria na decisão tão supostamente convicta tomada desde a tarde?

Talvez as razões sejam claras de um jeito que não seria ideal perceber uma vez que foge a ética que eu tanto prego: Não conseguia demitir minha secretária que está diante de mim porque ela é uma mulher bonita do caralho.

Sim, sem muitos afagos, Bianca Andrade é um monumento. Mesmo distraída na maioria das vezes e chegando a se equivocar em cinquenta por cento das coisas que eu peço a morena de longos cabelos se tornou uma espécie de carinho distante as minhas pupilas. Linda e intocável, como deveria ser.

Se em outra situação, e com a certeza do seu interesse por mulheres, eu a teria chamado para uma café e a beijaria ainda no caminho. Puxaria seu corpo até o meu de forma rápida, envolveria os dedos por sua nuca e pediria passagem com a minha língua depois de cobrir seus lábios. Não pararia de beijar-lhe até que dissesse e se não o fizesse não me deteria. A imagem tão específica e proibida que me atormenta todos os dias provoca em minha mente uma impaciência e não saciedade inexplicáveis.

A beijaria várias vezes até senti-la molhada em meus dedos, no entanto, por saber que esse não era um desejo alcançável começava e terminava mais um dia com um eterno rosto fechado deferido em sua direção.

Por um lado ela merecia por sua forma tão avoada de se portar e também claramente estar se dedicando a algo que não era de interesse da revista em seu horário de serviço, mas por outro eu sabia que minha falta de sorrisos para ela tinha a ver com uma frustração bem íntima e individual.

Não era para eu querer fode-la, era para ser firme em demiti-la, mas como eu poderia resistir entre os dois pensamentos quando ela me encara com seu rosto tímido e atrapalhado todas as vezes que eu inicio uma conversa com um semblante irritado?

Bianca reage ao meu gelo com uma meiguice inédita que me obriga a ser mais rígida que o costumeiro, pois não posso me deixar ultrapassar linhas com ela.

— Eu realmente não entendo o motivo de ter sido chamada — Levantei minha sobrancelha e deixei os dedos correrem por sobre a mesa da revista que agora só contava com nós duas. Tudo bem que eu já estava arrependida de despedi-la, mas até ela deveria convir que haviam comportamentos seus que justificaria uma possível decisão.

— E-mails atrasados? Starbucks com leite não desnatado? Documentos esquecidos de serem colocados na minha mesa após serem revisados? O contato perdido da fotógrafa que eu precisava para ontem e que você não encontrou? Escrever coisas que não são do trabalho em horário de trabalho? Como você pode ver há vários motivos para termos essa conversa de agora — Apontei em reação a sua doçura que agora tinha um pouco de dissimulo. Ela era consciente do que fazia ou queria me deixar acreditar que não? As dúvidas sobre ela corroíam-me.

— A senhora vai me demitir? — Seu semblante era certa mágoa agora e isso era perfeitamente real. Havia lágrimas no canto dos seus olhos castanhos e sua mão se agarrou a sua bolsa que gritava promoção relâmpago da Shopee.

Eu não poderia ser a pessoa que vai impedir uma mulher bonita para caralho de comprar uma bolsinha num site singapurense.

— Não vou, mas para isso precisamos ter um diálogo muito franco mocinha — Expressei vendo como os nós brancos dos seus dedos fugiam da alça da bolsa e se juntavam em sua saia lápis — Você não está produzindo o que se espera de uma secretária pessoal. A senhorita parece aérea todo o tempo e até desinteressada com sua função. Saber se você está satisfeita com o trabalho e que quer melhorar para continuar nele é preponderante para sua continuidade na vaga — Fui explicando mais calmamente, afinal, tampouco era uma completa cavala incapaz de falar sem dar alguns coices. Já disseram-me cretina e não negava a alcunha, porém não era assim todo o tempo. As vezes eu falava decentemente.

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