Capítulo 3

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 Adeline

Existem poucas coisas mais assustadoras do que acordar desorientado em uma cama de hospital, sem ter noção do que aconteceu para você ter parado ali. Se você tem uma certa idade, você começa a pensar nas coisas que você poderia ter feito que o teria levado até uma cama de hospital. Mas para uma criança, não existem tantas coisas assim. Pelo menos, não para Adeline. Quando acordou sozinha no hospital, com uma agulha em sua veia, ela não conseguia nem imaginar no porquê de estar ali, sem ninguém para lhe explicar o que aconteceu.

A primeira coisa que tentou fazer foi tentar lembrar o que ela tinha feito antes de perder a consciência. Se lembrava de estar em sua casa, em seu quarto brincando com suas bonecas. Se lembrava de sua mãe lhe chamando da cozinha e se lembrava dela lhe perguntando alguma coisa de alguma amiga sua, porque ela precisava saber para conseguir ajudá-la. Adeline nem se lembrava do nome da amiga. Aquela memória parecia tão longe, que ela não conseguia nem ao menos identificar o rosto de sua mãe. Se alguém colocasse uma foto de sua mãe na sua frente e de outra mulher parecida, Adeline não conseguiria separar quem era quem. Mas ela se lembrava muito bem da voz de sua mãe, lhe chamando pelo nome.

Se acordar em um hospital sozinha já foi assustador, ver que a enfermeira correu para chamar um médico ao perceber que estava acordada foi pior. O que tinha acontecido com ela para a enfermeira entender que um médico precisava ser avisado imediatamente?

Não muito tempo depois, o médico apareceu. Ele parecia novo, tinha o cabelo bem cuidado e carregava um sorriso em seu rosto. Parecia que aquele sorriso não era seu.

— Oi, Adeline. — Foi a primeira coisa que ele disse e, tendo um rosto expressivo, o médico percebeu que ela estava confusa. — Não precisa ficar com medo, eu sou o doutor Matheus e eu estou aqui para te ajudar.

Adeline se arrumou na cama, olhando para suas próprias mãos novamente, quase como se estivesse se analisando, ainda tentando entender o que estava acontecendo.

— Você está no hospital, Adeline. Você passou por um... acidente, e eu estou cuidando de você para que você consiga sair daqui bem.

— Que tipo de acidente? — Ela perguntou, curiosa.

Ele lambeu os lábios sem saber como contar.

— Qual a última coisa que você se lembra?

Adeline parou para pensar e se concentrou muito, mas aquela memória de sua mãe contando para ela alguma coisa estava mais vaga do que antes. Quando acordou, sabia dizer exatamente o que sua mãe tinha lhe dito, mas agora, tinha apenas uma ideia. A imagem em sua mente começou a desaparecer.

A maior parte do que tinha em sua memória, na verdade, eram vozes. Ela se lembrava de muitas vozes e de muitas conversas que tinha escutado enquanto dormia, mas não conseguia dar cara à essas vozes.

— Da minha mãe conversando comigo.

— E sobre o que vocês estavam falando?

Adeline suspirou. A memória parecia mais um sonho distante agora.

— Não me lembro.

Ele não sabia se deveria manter o sorriso ou não. Tentou ser o mais cordial possível, puxou uma cadeira que tinha ao lado da cama e sentou-se ao lado dela. Ele colocou a cadeira de costas para a cama e sentou-se apoiando os braços no encosto da cadeira.

— Adeline, que dia que você acha que é hoje?

Ela fez uma careta e não quis responder na hora. Matheus sorriu para ela, tentando dar a ela a sensação de que estava tudo bem e que ele não iria machucá-la. Ela acreditou no sorriso dele.

FrancineOnde histórias criam vida. Descubra agora