O que as estrelas deixam para trás

Capítulo 5

O sol já estava nascendo então devia ser cerca de cinco de tantas da manhã. Kathy não tinha ido muito longe, não tinha coragem para isso. Andou por alguns minutos pela rua que era iluminada por alguns postes que não faziam muito bem seu serviço e acabou voltando para pousada, mas não teve vontade de entrar. Sentou com brutalidade na grama e ficou olhando a luta da luz com noite.

Ela estava com raiva de si mesma, sentia como se fosse extremamente errado tudo aquilo, mas não sabia como começar a tirá-los de dentro dela. Fechou os olhos sentindo os primeiros raios solares tocarem sua pele com suavidade.

- por um instante cheguei a imaginar que tinha perdido minha companheira de viagem - aquela voz a tirou do seu transe.

- você é maluco - respondeu com a mão no lado esquerdo do peito sentindo seu coração acelerado com o susto e virando-se para encará-lo. Ele estava sentado ao seu lado, como ela não notou sua chegada era um mistério.

- na verdade não vejo muito problema nisso - respondeu sério - se esse sou eu, tudo bem ser louco

Kathy refletiu um pouco sobre isso. Quem era ela verdade? Quais eram seus gostos? Seus sonhos? Ela não sabia o quanto ainda restava da velha Kathy nela, se é que ainda restava algo.

- o que você ia responder para ela? - ele sorriu com a sua cara de interrogação - Quero dizer sobre a pergunta da Bela. "Então o que tá fazendo aqui com ele?" - explica tentando imitar a voz da garotinha o que o faz cair na risada com sua imitação ridícula

- achei que tinha você tinha péssima memória - responde se voltando para o sol que parecia estar ganhando a guerra.

- Às vezes ela me surpreende - rebate ainda sorrindo - Não fuja da minha pergunta! Na verdade eu tenho algumas suspeitas de qual seja a resposta, mas quero ouvir da sua boca

Kathy ainda olhava fixamente para o horizonte, mas podia sentir o olhar dele a fitando com intensidade.

- você não tem que saber de tudo sabia? - pergunta disfarçando seu desconforto com irritação

-Tem razão, estava apenas curioso mesmo - ele não parecia chateado, ainda mantinha um tom suave enquanto falava - acho que a gente deveria pegar nossas coisas, temos uma viagem para continuar. Se você ainda quiser claro...

Ela não respondeu, apenas se levantou e foi em direção a porta com o garoto em seu encalço. O hall ainda estava vazio, mas a luz o sol se esgueirava pelas cortinas que ela não tinha notado antes. Passou direto sem se deter mais ali indo para o corredor onde ficavam os quartos. Ela podia ouvir os sons dos passos dele atrás de si, tinha vontade de virar e encarar seus olhos para entender o que passava na sua cabeça, porém continuou caminhado em silêncio pelo corredor.

Quando chegou a sua porta parou por alguns segundos a observando, tentando decifrar o que estavam pensando quando foi feita, quais tipos de sentimentos estavam presos nela. Girou a maçaneta assim que ouviu a porta batendo atrás de si. Dentro do quarto pegou sua mochila intocada na poltrona, arrumou a cama que tinha deixado toda desarrumada da sua tentativa de dormir e seguiu novamente para o hall.

Não estava mais vazio quando Kathy chegou no hall. O garoto do balcão que ela já estava cansada de chamar assim estava encostado no balcão de costas para ela tendo uma profunda conversa com o senhor. Não via Bela em lugar algum então supôs que estivesse dormindo ainda. Ao se aproximar foi recebida por um daqueles sorrisos quentes do velho senhor e teve uma vontade súbita de corresponder, mas continuou com sua velha expressão de poucos amigos, se limitou a um suave aceno de cabeça. O garoto se voltou para ver o que fizera o senhor sorrir.

- vejo que já está pronta. Podemos ir? - pergunta com um bom humor matinal que ela não entendia

- pronta - respondeu finalmente notado o volume extra que ele carregava, pelos contornos era o vilão. Ela ficou um tanto apreensiva com isso, um lado seu estava louco para ouvi-lo tocar novamente já o outro não queria sentir aquilo de novo. Ele notou seu olhar apreensivo para o violão e sorriu como de costume.

- Antes de vocês irem a Bela tem algo para dar - falou animado - espere um pouco, por favor

- está bem - o garoto respondeu por eles

Não demorou muito até eles ouvirem uma Bela eufórica correr pelo corredor até eles com dois pacotes de papel na mão. A pequena tinha um sorriso gigante nos lábios e sua pele branca tinha tons rosados nas bochechas pela agitação.

- tenha calma Bela - o garoto pediu com carinho quando a menina chegou até eles - esses são nossos presentes?

- são sim! são sim! Eu ajudei o vovô a fazer - declarou orgulhosa entregando a cada um seu pacote