Era uma noite gelada, a lua estampava seu brilho suave no céu estrelado. Kathy acordou com um vento gelado que a envolveu lhe causando um arrepio, ela se encolheu mais na tentativa que esquentar seu corpo. Ficou em posição fetal por alguns segundos, mas sem conseguir grandes resultados, desistiu. Primeiro abriu os olhos, contemplou com um longo suspiro as estrelas mais brilhantes que já tinha visto em sua vida. Devagar levantou ainda fitando o as estrelas, esticou os braços espreguiçando e procurou com os olhos por seu companheiro. Ele não estava mais deitado ao seu lado, nem em seu campo de visão, foi até a barraca e nada também.
Ficou preocupada por alguns instantes imaginando onde ele teria ido, até que lembrou do lago. Girou seu corpo em 180° na direção do lago e avistou alguém sentado na mesma pedra que ela tinha estado mais cedo, o vento balançava seu cabelo para todos os lados. De onde Kathy estava não conseguia ver seu rosto já que ele permanecia de costas então quando ela se aproximou não poderia imaginar que o veria em lágrimas fitando a água que brilhava a luz da lua.
Kathy não sabia o que fazer ficou imóvel parada ao seu lado sem conseguir tirar os olhos daquela cena. Ele se entregava completamente às lágrimas, pequenos soluços lhe escapavam dos lábios e seu corpo tremia, ela não sabia se do frio ou das lágrimas. Sentia um misto de surpresa, espanto e admiração, ela queria poder se entregar assim a seus sentimentos, naquele momento Katherine decidiu não mais lutar com seus sentimentos, mas ela estava morrendo de medo e uma vozinha em sua cabeça ainda gritava que ela não podia ser feliz não quando era ela a culpada de tudo, era seu castigo não sentir, seu castigo foi ter que sobreviver em um mundo sem sua mãe.
Quando finalmente seus olhos se encontraram, os dois refletindo suas próprias dores, mas um se entregava a ela sem receio e outro a guardava em uma caixa velha. Kathy não viu vergonha em seus olhos, não encontrou raiva ou rancor, era uma dor pura e pulsante que o envolvia, ele parecia não se importar que ela tivesse visto ele nesse estado, mas ela estava assustada. De tudo que ela tinha visto e presenciado naquela cena o que a assustava era o amor e a vontade de viver que ela tinha visto nos olhos dele e mais do que tudo ela queria sentir o mesmo.
Pareceu uma eternidade os segundos que se passaram enquanto seus olhos estavam fixos um no outro. Kathy foi a primeira a desviar, ela já estava sentindo seus olhos enxerem de água e diferente do garoto do balcão ela não estava pronta para mostrar seus sentimentos, contudo ela não foi embora continuou ali ao lado dele ouvindo seus soluços e observando lago e seus mistérios.
Devia ter passado pelo menos uns vinte minutos quando ela ouviu sua voz, estava um pouco grave pelo choro e carregada de tanto sentimento que a fez arrepiar.
– é um pouco assustador ainda, saber que quando eu chegar não vou vê-la correr até mim com um sorrisinho banguelo – ele começou fitando as estrelas – mas é reconfortante saber que eu a amei com todas as minhas forças e fui escolhido para ter ela em meus braços por oito anos. Foi mais tempo do que eu merecia, mas foi o tempo suficiente para me fazer merecedor agora.
Kathy não respondeu, ela sabia o que responder, na verdade ela raramente sabia o que responder para ele. Só o encarou desejando que seus olhos dessem uma boa resposta.
– está frio, a gente devia voltar para cabana e acender uma fogueira o que acha? – perguntou já em pé a meio caminho da campina. Ela concordou com a cabeça mesmo que ele já estivesse de costas e o seguiu subindo a pequena ladeira.
Quando chegaram em seu mini acampamento Kathy foi até sua mochila que estava dentro da barraca e procurou por seu fiel moletom cinza, passou ele pela cabeça e ouviu o som de algo caindo. Olhou para baixo tentando localizar o objeto e deparou com seu colar de girassol, pegou do chão e o colocou no bolso da frente do moletom saindo para noite fria. A fogueira já estava quase acesa, algumas cinzas pairavam ao redor como estrelas caindo, o garoto do balcão estava agachado atiçando o fogo e quando ele finalmente pegou o garoto soltou uma risada vibrante.
Kathy sentia aquele burburinho no estômago que antecede uma risada, seu coração esquentou e seus lábios estavam prontos para se abrir, mas ela impediu colou fixo em sua mente a imagem da sua mãe e se aproximou de seu companheiro. Sentou na grama perto da fogueira sentindo um sorriso dirigido a ela, era desse sorriso que ela tinha sentido falta percebeu.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O que as estrelas deixam para trás
General FictionAs estrelas deixam algo para trás quando decidiram iluminar o céu? Se sim, como eles vivem? Bem acho que posso lhes contar dois jeitos diferentes de viver depois de conhecer uma estrela. Eu não ficaria surpresa se achasse um deles uma tremenda fresc...