XIV

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Levou pouco tempo para que eu percebesse que aquela não era uma festa comum. Afinal, pessoas comuns não podiam enfeitar as taças de cristal – eu nem estava certa de que pessoas comuns possuíam taças de cristal, eu sabia que eu não tinha – com argolas de ouro.

De ouro.

Eu não tinha reparado. Uma vergonha, mas eu não saberia diferir ouro de um pedaço de lata nem para salvar a pele. Foi Krys quem apontou o fato – e eu sabia que ele entendia da coisa.

É, aparentemente estávamos numa festa da elite da cidade de Nova York.

Enquanto um cara vestido de pinguim – smoking, não literalmente um pinguim –, que nos recebeu na porta depois daquele episódio perturbador/patético no jardim da frente, nos guiou até o salão principal, fiquei me perguntando como Noah conseguira tantos convites para aquela festa. Krys havia acabado de sussurrar no meu ouvido que apostaria seu melhor par de sapatos de couro de jacaré que o Rembrandt numa das paredes era verdadeiro.

E agora eu estava sentada num banco alto no grande balcão, tomando vodca com suco de laranja. Estava sozinha, observando as pessoas se divertirem na pista de dança. O lugar era incrível, muito mais elegante do que eu imaginava que pudesse ser uma festa de Halloween. Aliás, mais elegante do que qualquer lugar em que eu já tivesse estado, embora alguns coquetéis de inauguração da galeria não ficassem muito atrás.

O salão era enorme; as paredes, adornadas com pinturas e espelhos com molduras rebuscadas. Alguém colocara teias de aranha falsas por toda parte, principalmente nos candelabros – que mais pareciam ter saído do set de filmagens de O Fantasma da Ópera – espalhados pelas pequenas mesas que estavam distribuídas pelo salão. Havia esculturas de gelo em forma de abóboras e morcegos (não, eu não estava brincando) e uma suave neblina de gelo seco envolvia os pés de todo mundo – e me faziam ficar quase que constantemente arrepiada, o que não era exatamente difícil, considerando o que eu estava vestindo. O resultado final era um palácio vitoriano mal assombrado.

Eu realmente me sentia em uma cena de A Dança dos Vampiros. Se um vampiro loiro, com dentes tortos e gay aparecesse por ali, eu agarraria Krys e sairia correndo para outro continente...

Espera, eles fizeram exatamente isso no filme. Não deu muito certo.

Suspirei e me voltei para o balcão, pedindo uma segunda dose.

– Se divertindo? – Noah perguntou, surgindo de repente e tomando o lugar ao meu lado.

Fiquei surpresa ao descobrir que a resposta era não. Antes de descobrir meus amigos ali, eu não esperava realmente ter um bom tempo. Mas o fato do Urrea tê-los trazido me fez pensar que a noite não seria um desperdício completo. Afinal, era meio difícil ficar pra baixo com as maluquices da minha melhor amiga, a fofura do Josh e as alfinetadas entre Krys e Cherry.

Mas eu estava conseguindo.

O lugar era incrível, a comida parecia ser boa – de acordo com Heyoon, que tinha devorado algo em torno de duas toneladas de coquetéis de camarão ou algo assim –, a música era legal e o cara do balcão me prometeu que podia me arranjar qualquer bebida conhecida pelo homem. Eu ainda estava na vodca, mas tinha uma lista de coisas que queria experimentar. Meus amigos estavam dançando e eu não pude deixar de perceber que um cara loiro-do-tipo-Chris-Hemsworth-em-Thor, vestido de pirata, tinha se aproximado de Cherry e parecia tentar fazê-la rir.

Todos – menos minha chefe mal humorada, que parecia querer enfiar pequenos alfinetes nos olhos do loiro gato – pareciam felizes e relaxados. E eu estava planejando me afogar em álcool.

– Claro – foi o que respondi, tomando um gole do segundo copo de vodca com suco de laranja que o barman colocara na minha frente. – Estou quase tremendo de emoção.

Perfectly Wrong | NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora