XX

386 43 3
                                    

meses atrás...

– Josh e eu decidimos nos casar.

O prato de macarrão com queijo quase escorregou das minhas mãos. Consegui equilibrá-lo novamente e o coloquei na nossa pequena mesa para dois, onde Heyoon Jeong – minha melhor amiga e colega de quarto – já estava sentada, brincando com seu próprio prato de macarrão.

– O quê? – finalmente consegui perguntar, sentando-me à sua frente.

Heyoon suspirou.

– Nossa, parece que eu acabei de anunciar que alguém morreu – mais um suspiro. – Eu o amo, Sina. E ele me ama – falou, largando o garfo ao lado do prato quase intocado. – E tudo o que ele sempre quis foi uma família. E eu posso dar uma família a ele. Eu posso ser a família dele.

Foi minha vez de suspirar. Não era como se eu não esperasse que aquilo acontecesse um dia. Heyoon namorava Josh Beauchamp há pouco menos de um ano, mas eram tão obviamente apaixonados e comprometidos um com o outro que o fato de ela querer casar com ele não era exatamente surpresa. Nunca havia pensado em Heyoon como uma garota que almejava casar ou algo assim, mas se ela realmente ia fazer isso, era claro que seria com Josh. Ela passava mais tempo na casa dele do que no nosso pequeno apartamento. Fazia todo o sentido.

E Josh era perfeito para ela. Não por ser ele mesmo perfeito – e ele era o típico garoto americano com seus cabelos loiros e olhos azuis – mas por ele ser o que minha amiga precisava. Forte, calmo, não facilmente intimidado. Heyoon podia ser ela mesma com ele. Ou seja, ela podia ser grossa, rude, mal humorada e insuportável com ele – o que era mais do que ela podia dizer dos seus muitos ex-namorados.

E ela estava certa. Eles se amavam. E Josh crescera num orfanato, era compreensível que desejasse uma família. Era ainda mais compreensível que minha melhor amiga quisesse ser essa família.

Eu compreendia. Mas doía mesmo assim.

Era como se eu fosse perder a pessoa mais constante na minha vida. Eu odiava mudanças, eu não queria mudar.

Queria que tudo sempre fosse do mesmo jeito.

– Parabéns, Heyoon – sorri e apertei suas mãos sobre a mesa, porque era isso o que uma melhor amiga deveria fazer.

Eu estava realmente feliz por ela. Estava triste era por mim.

Egoísta.

– Você sabe que vai ser a madrinha, não sabe? – perguntou, sorrindo e apertando minhas mãos de volta. Assenti e ela continuou, um pouco mais séria dessa vez. – E não se preocupe, Josh e eu vamos te ajudar a encontrar uma nova colega de quarto ou um lugar mais barato pra ficar, ok?

Voltei a assentir e ela se levantou para me abraçar. Eu me levantei também e a abracei de volta.

– Sabe – foi dizendo, ainda abraçada a mim – outras amigas teriam dado gritinhos histéricos e pulinhos de alegria.

Ri e soltei meus braços dela.

– Ainda posso gritar – ofereci.

– Nem se atreva – lançou-me um olhar maligno antes de voltar a se sentar para comer. – Eu estou com uma dor de cabeça horrível. E quero me casar, não ser presa por afogar minha melhor amiga num prato de macarrão.

Voltei a rir, um pouco mais verdadeiramente dessa vez. E me sentei para comer pensando que certas coisas não mudavam nunca. E a delicadeza de Heyoon Jeong era uma dessas coisas.

Isso me fez sentir melhor.

...

Uma semana depois, eu estava espremida numa saia preta e apertadíssima, com uma blusa azul de mangas compridas e meio transparente, e equilibrada em scarpins pretos com salto 15, do lado de fora de um dos bares mais populares do Upper East Side (o que obviamente queria dizer que ele estava lotado). Heyoon estava ao meu lado, deslumbrante em um vestido dourado com tiras nas costas, esperando o namorado – noivo – atender o celular.

Perfectly Wrong | NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora