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Teve de esperar ficar escuro, mas assim que o sol se foi bateu à porta de seu anfitrião, com a alma pulsando na boca e um bloco de rascunho diferente do que usava lá para suas pinturas nos braços.

Esperou com ansiedade no intervalo de silêncio que houve, antes de a porta ser destrancada e aberta, embora parecesse ter sido por conta própria, assim como a voz que veio de dentro não parecia ter uma fonte visível, por conta do breu que era o interior da sala:

-- Boa noite, em que posso ajudá-lo?

-- Boa noite.
O semblante que tinha era calmo, uma fachada como qualquer outra que já precisara levantar, apesar da tensão em seus braços segurando aquele bloco com aparência de velho o traísse.
-- Espero não estar perturbando.

-- Não, imagine, Encre.
E o cômodo foi iluminado. Era como se esperaria do quarto de um nobre, grande e decorado de um jeito elegante e ao mesmo tempo confortável. O próprio Fallacy acendia cada vela, e usava uma camisola branca que expunha um pouco do peito, tão preto quanto seu rosto. Podia ver que o cômodo tinha janelas, mas, não o surpreendendo devido ao breu anterior, estavam tapadas com cortinas muito escuras e com aparência de pesadas.
-- Peço desculpas pela maneira como estou vestindo. Tem algo te incomodando?

-- É sobre algo que testemunhei por acidente, durante a madrugada.
É isso, sem mais como voltar atrás. Só pode torcer para nada demais aconteça, ainda mais quando entrar mais a fundo no assunto.
-- Embora receio que seja um assunto delicado.

-- Só poderei saber se me disser. Sinta-se livre para falar.

É agora ou nunca. Respirou fundo, tentando acalmar sua alma que podia sentir pulsando na garganta. Precisa ter cuidado com suas palavras...
-- Eu vi algo que me lembrou um tipo de, como falo?, celebração, que estudei recentemente...
Apesar de tudo, segurar aquele bloco, mesmo depois de todo esse tempo, lhe parecia ceder um força, como uma lembrança física do como chegou a esse ponto.
-- ... Uma celebração de vida.

O de ossos negros estava à sua frente, o fitando em silêncio, embora seu rosto mostrasse que prestava atenção. Se focou nele por um momento, procurando algum sinal de irritação, mas não encontrou, então tomou seu silêncio como um consentimento para prosseguir.  Precisou engolir um seco para prosseguir, mas se obrigou:

-- Eu... entendo que trazer isso à tona é essencialmente uma acusação de paganismo...
Não apenas paganismo, lembrou uma voz irritante, a que engloba seres da noite.
-- Então, pela minha calma e... um mínimo de justiça... se o senhor se dispõe a falar abertamente sobre, também estou a algo que deseje.

Uma outra veio, para lhe repreender por uma fala tão vaga em algo que pode ser bastante sério, mas fez questão de a silenciar. Uma oferta aberta, significa que está sendo sério nesse jogo de vulnerabilidade.
Uma barganha, essencialmente, e a moeda de troca pelo potencial de ter a alavanca da forca dele na mão é o oferecer a sua própria.
Todos os homens têm segredos, não é mesmo?

Normalmente, o outro homem tinha um rosto - especialmente olhos - bastante expressivos. E, no entanto, quando seu olhar baixou para o bloco que Encre tinha nos braços, sua expressão era ilegível como um texto em inglês.
-- Compreendo... bem, peço perdão pelo que possa ter visto.

-- Não é necessário. Tudo que desejo com isso é tirar um peso de minha mente. Ser deixado no escuro pode ferir a mente de um homem.

Linda coisa para dizer em um lugar que claramente estava um breu antes de vir, hm? Talvez tivesse soado irônico, mas se foi, o outro não demonstrou incômodo, o fitando com as órbitas estreitas e um sorrisinho no rosto.
-- Eu imagino que sim.

Vampire Verse - Sun and MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora