3- LÁ ESTAVA EU (ARLO)

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Lá estava eu, nas primeiras horas que me envolvi nessa história, soterrado vivo, com um grande peso sobre mim, uma pressão física, mas psicológica também. A princípio, parecia ser fácil se desenterrar de pequenas partículas arenosas, mas não quando se tem uma grande tensão fazendo uma força muito maior que a sua, no sentido contrário. Não quando a agonia e o temor que se está sentido te torna o homem mais fraco do mundo. Não quando você se imagina vivendo sem a pessoa que ama. Lá estava eu, pensando em quem Maíra escolheria e não em mim.

Maíra, como conseguiu me convencer? Ir buscar seu ex-marido... Quer dizer, ele é seu marido ainda. Que inferno!, pensava arrependido.

Roubei um documento militar, cavalos que a essa altura ou fugiram ou estão sofrendo como eu tentando respirar embaixo dessa loucura em forma de areia. Tudo isso porque eu amava essa mulher e não conseguia negar nada a ela. Acho que nunca conseguirei... Merda!

No momento em que chegou eu estava lá. Adolescente, aprendendo com o pai todas as técnicas de construções e comandos necessários para liderar. Eu vi quando os nativos te levantavam e sorriam para você te chamando pelo seu nome. Ouvi as histórias que o Conde contava sobre as suas travessuras. Nunca pensei que teria uma vida feliz quando eu vim com minha família para essa colônia. Fim do mundo era como chamávamos. Mas no dia em que te vi descendo as escadas, me encarando, eu fiquei desconcertado. Não sabia o que dizer, fiz a piada mais sem graça que eu já ouvi ao tentar te elogiar. Imediatamente eu te quis. Queria ser o seu marido, não porque seu pai me pediu, mas porque me apaixonei quando fez a sua famosa expressão de brava. Nossa! Como eu adoro te ver brava!

Eu a amo. Amo tudo, até o ato de limpar os pincéis nos vestidos novos que eu a dou. Amo o jeito que ela tenta me fazer acreditar que as decisões são minhas. Eu sei bem que não. E ela sabe disso. Mas sempre faria tudo por Maíra e aqui estou.

Depois de alguns segundos, onde toda minha vida parecia passar pela minha mente, César conseguiu me achar e me tirou daquele terror.

Quando levantei, percebi que a paisagem havia mudado e a grande montanha se fazia presente e exuberante. Ela transmitia algo diferente. Talvez essa energia tenha desnorteado o equipamento.

- É ali!- Falei maravilhado, pois era fascinante.

-Naquela montanha? - Maíra perguntou.

- Não é uma montanha. É um vulcão. - Porã falou desanimado.

- O que foi? -Ela o indagou.

- Nunca ouviu falar em vulcões? - Ele se dirigiu a ela. Mesmo sem intenção, seus trejeitos e olhares para minha esposa me deixavam possesso. Se ele conseguia fazer isso, ele por quem ela não sentia nada, imagina esse tal Liam, que pelo visto, ela ainda amava. - Eles jorram lavas a quilômetros de distância. - Completou. Maíra franziu a testa parecendo se recordar de algo.

- O que foi?- Perguntei a ela, mas negou com a cabeça. Não queria contar e eu não insisti. - E qual problema de ser um vulcão? Pelo que eu sei, ele nunca entrou erupção. - Falei como se fosse especialista no assunto, olhando para o homem-boto.

- É você quem irá entrar nele?- Porã me provocou. César rapidamente sugeriu que nos adiantássemos, já que precisávamos ser mais rápidos, porque nossos cavalos haviam fugido e teríamos que alcançá-lo a pé.

A tempestade se dissipara, porém o frio ainda estava entre nós. Abracei Maíra a fim de esquentá-la. Ela sorriu agradecida.

- Meu amor, não precisa. A gente mal consegue caminhar com toda essa areia. Se nos abraçarmos, nunca iremos chegar. - Sua fala me fez sentir impotente. Sorri compreensivo, mas no fundo eu sabia que perderia aquela disputa. Eu era o segundo, talvez somente por ter esquecido seu outro marido.

DEUSES DA FLORESTA 2 - NA CHAMA DO TEMPOOnde histórias criam vida. Descubra agora