Anhangá e Ticê estavam aflitos. Uma das sete portas do submundo havia sido destruída. Eu era responsável por guardar duas. A nossa matemática não ajudava muito. Éramos três deuses, protegendo sete portas, lutando contra três outros deuses com seus sete monstros incansáveis.
Tínhamos um exército gigantesco de mortos. Não vou negar, ver todas aquelas almas das antigas a mais novas ao meu dispor, me fazia sentir grandioso.
- Vamos, Vamos! Peguem suas lanças. - Ordenávamos em todas as direções.
O submundo tinha suas entradas na parte superior, em seu teto. Para chegarem até elas era necessário descer uma infinidade de degraus, que em alguns momentos não davam a lugar nenhum, um labirinto de escadas, simplesmente se deparavam com o pior dos seus pesadelos e ficavam ali perpetuamente, um monumento em decomposição.
Em todos esses anos que passei naquele lugar, não tive a ousadia em me arriscar a sair, somente um deus além de Ticê e Anhangá sabia a direção certa a tomar, ou melhor, uma deusa, Jurará.
Tínhamos um exército e armas, mas eles tinham os monstros que eram devoradores de almas. As pessoas que morriam por eles no plano terrestre, não chegavam ao submundo. Elas simplesmente desapareciam. E os que já estavam mortos? Daria no mesmo, sumiriam sem deixar algum rastro.
Os nossos soldados apesar de serem bem prestativos nos afazeres diários, nessa invasão, estavam cobertos por sentimento de covardia. Íamos perder, era notório. Precisava bloquear aquela porta maldita.
Um dos meus tios conseguiu entrar e estava fazendo a festa, Luison, o monstro da morte, contraditório. Mas não na minha casa, não podia deixar.
Eu corria até ele, quando notei que mais uma das porta se despedaçava bem em frente a mim, Tau se fez presente com Hao Hao, aquela besta com dois enormes dentes que se assemelhavam a arpões. Meu avô me encarou com seu sorriso debochado, que me enchia de vontade de arrancar dente por dente e fazê-lo engolir cada um deles.
Fui em sua direção, me esquecendo que já estava perto demais de Luison. Ele furecidamente agarrou meus cabelos com seus enormes dedos e me lançou ao chão. Em seguida me levantei em um pulo zombando do que fizera. Sua aparência era de dar pena. Um monstro magricela, com o tórax desproporcional ao resto do corpo esbelto, encurvado, alto, com suas costelas aparentes, vinha novamente em minha direção. Rindo para ele, me abaixei e toquei o solo. Logo, pelas rachaduras, começou a brotar uma extensa lava que o cobriu por inteiro. Um já havia morrido. Ao me virar novamente para Tau, percebi que mais duas portas não existiam mais. Ticê e Anhangá, lutavam juntos contra ele e Hao Hao.
As almas viventes do submundo se esforçavam, mas era em vão. Eles eram fortes, ágeis e somente deuses poderia ser capazes de matá-los. Elas estavam sendo facilmente devoradas.
Os dois novos visitantes que adentraram o lugar durante o meu momento de distração anterior foram Teju e M'boi. Esses eu já conhecia da chacina na cidade do Porto. Era hora, estava disposto a me vingar, pelo que fizeram ao lugar que me acolheu. Acendi meus olhos os encarando e para a minha surpresa, fui arremessado ao chão. Quem fizera isso?, me indignei. Procurei esbaforido e lá estava ele sorrindo para mim, Luison.
– Como... Como não morreu? – Sussurrei.
Então olhei para o chão, vi os destroços da rocha formada pela lava resfriada. O tempo de queima não foi o suficiente para exterminá-lo. Ela se esfriou muito rápido. O local não favorecia. A minha maior arma era o fogo e meus aliados traziam um enorme frio, agindo de maneira oposta a mim.
Ticê levantava seus olhos e fumaça negra gelada se desprendiam do chão, camuflando os nossos mortos que começavam atacá-los de forma mais imperceptíveis, mas Tau, com o cajado, corria e batia contra as portas que sobraram trancadas. A sensação que eu tive, era que tudo era feito de papel. Eles eram fortes, muito mais fortes que nós.
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DEUSES DA FLORESTA 2 - NA CHAMA DO TEMPO
RomanceLivro 2 de DEUSES DA FLORESTA( SINOPSE INTERNA PARA EVITAR SPOILER)😉 ⚠️ Obra registrada no SAFE CREATIVE e REGISTRO DE OBRAS⚠️