7- VOCÊ E ELE ( MAÍRA)

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Eu o vi, no meio de tanta perversidade. Vários mortos espalhados pelo chão, vi os sete fundamentos do submundo se quebrando, juntamente com as rochas da cobertura que caíam em cima dos filhos de Tau e ouvi a lamentação de Anhangá por Ticê ter morrido.

Me apressei e puxei Liam para perto de mim. Eu senti meu coração parar por muitos segundos, até minha respiração ficou comprometida, mas o seu sorriso veio como a calmaria e tudo foi voltando ao normal, menos a sensação insuportável de ter que fazer uma escolha e desagradar a algum deles. Eu amava os dois, diferente, mas amava.

Atravessamos o espelho. Chegamos na floresta, dentro de uma gruta, próximo ao templo de Ticê.

- Quem nos chamou? - Perguntou-me ainda abraçado a mim, com seu rosto próximo ao meu.

- Solta ela! - Arlo gritou e Liam se virou rapidamente. Arregalei o olhos. Meu coração, novamente em apuros, parecia não caber em meu peito, como se fosse explodir a qualquer momento. - Você? Você é o Liam?

Ele observou Arlo de cima abaixo e não me soltou. Eu estava imóvel, meu rosto esquentava de tanto nervoso, precisava intervir, mas eu só queria ficar ali, agarrada a ele.

- Quem é você para me mandar soltá-la? - Respondeu meu primeiro marido, com os dentes cerrados.

- Ei... Vamos acalmar os nervos...- Porã colocou a mão entre eles, pois Arlo se aproximava e Liam o olhou intrigado.

- Quem é você?- Liam quis saber do homem-boto.

Nessa hora me esforcei contra o meu instinto. A saudade era intensa demais, estava próxima de cometer uma loucura, pois além do abraçá-lo, queria beijá-lo. Eu apertava seus braços. Me sentia como um metal sendo atraído por um ímã. Ele era o meu ímã. Mas dolorosamente, me afastei para evitar que se matassem. Eu ofegava em aflição e desejo.

Liam me olhava tentando entender aquele gesto. Eu hesitava falar, porém não contive minhas lágrimas.

- Vocês podem nos deixar a sós?- Pedi com a voz embargada. E antes que Arlo falasse algo continuei. - Por favor! - Fui enfática. Ele simplesmente saiu revoltado, calado e Porã o seguiu depois de um sorriso solidário.

- O que está acontecendo, meu amor? - Colocou suas mãos em minha nuca e tentou me beijar, mas esquivei.

- Liam, se passaram cinco anos...

- Se passaram muito mais para mim. - Interrompeu-me e insistiu na aproximação.

- Eu me esqueci de você e eu me casei.- Andei para trás, não cedendo.

- Eu imaginei que não ficaria sozinha. Só não pensei que estaria com ele.

- Você quis que eu te esquecesse... - Falei pausadamente, ainda chorava.

- Foi necessário dessa forma, Maíra. Você é teimosa e precipitada, viria atrás de mim. - Avançou dois passos.

- Lógico que iria. Eu não queria te perder. - Me afastei, mas esbarrei nos limites da gruta.

Liam se achegou, me apertando contra parede e levantou suavemente meu queixo. Eu não consegui resistir. Não agora, sentindo seu corpo me aquecendo.

- Você não me perdeu. - Sussurrou próximo a minha boca. Senti a quentura de seu hálito. - Ainda pode ficar comigo. Você é minha. - Mordeu seu lábio inferior. Me permiti e o beijei. Aquele desejo de tê-lo de volta me fez agarrar seu pescoço, o proibindo de me soltar. Eu me impulsionava para frente como se nós dois pudéssemos nos tornar um só corpo. Eu o queria mais que tudo. Ansiava que estivéssemos em um quarto, trancados longe de todos.

DEUSES DA FLORESTA 2 - NA CHAMA DO TEMPOOnde histórias criam vida. Descubra agora