9- O SÉTIMO REENCONTRO (MAÍRA)

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- O que está fazendo aqui?- Perguntei intrigada.

Ela me olhava, inabalável em sua pose autoritária. Eles estavam juntos, três kurupis e dois chullachaquis. Achei que quisessem me levar com eles, pois não tinha sentido tanta companhia. Ou talvez ela não se garanta com as bestas à solta?, ironizava em minha mente bloqueada.

-Maíra, eles o querem. - Falou Kouka, friamente como de costume.

-Quem são eles? E... querem quem? - Indaguei preocupada e aguardei ser respondida. Ela parecia tomar coragem para ouvir suas próprias palavras, ao me contar. Por isso, demorava.

- Eles estão revoltados com a atitude de Liam. -Permaneci calada, aflita. - Ele parece uma criança mimada se vitimizando o tempo inteiro, mas diferente de um ser inocente, ele arde em um fogo intenso e violento. Não há mais controle nele. Está consumindo em ira e ciúmes.

- É ele, não é? - Engoli a seco. - É ele quem está provocando esses incêndios? - Temia sua confirmação.

- Sim. - Respondeu-me.

-Como... como ele se transformou nisso?- Desviei o olhar, apoiei minhas mãos em uma árvore tentando controlar minha respiração e ansiedade. Meu coração batia intensamente incrédulo. - Foi por minha causa? - A caapora não esboçava nenhum sentimento.- Vocês vieram aqui só para me avisar?

- Os outros deuses temem chegar novamente até ele, que insiste ameaçá-los, ficando em regiões cada vez mais populosas.

- Eu não entendo... - Não consegui completar a frase. Estava com taquicardia e os músculos do lado direito do meu rosto vibravam, me avisando que entrava em uma crise de pânico.

- Ele se sente mais protegido, porque não o destroem, para evitar que mais criaturas morram. Esses incêndios aconteceram durante batalhas. - Continuava a se expressar sem nenhuma empatia com o meu sofrimento.

Aquilo tudo me assustava. Quem ele tinha se tornado? Ele estava destruindo a humanidade. Liam era incapaz de fazer mal a um pequeno animal sequer.

- Você tem certeza que é ele? - Tentava acreditar que havia algum erro ou talvez uma boa explicação.

- Maíra, ele é meu sobrinho e eu o amo. Mas ele viveu durante cinco mil anos no submundo e deixou ser levado por diversos sentimentos ruins.

- CINCO mil anos? Mas... - Perguntei em alto som. Eu só prestei a atenção no número.

- O tempo é diferente lá, para aumentar a agonia de alguns. - Me encarava. O que ela dizia sentir, não era possível detectar em suas expressões. Os outros seres permaneciam imóveis me analisando.

Me sentia fraca, estava trêmula. O que ela quer? Me ver sofrer contando tudo isso? Tem algo a mais. Será que ela quer que eu traga de volta, o antigo Liam? Mas como? As dúvidas estavam tomando conta de minha mente. Eu esfregava a testa como se quisesse arrancá-las, vorazmente.

- O que você quer de mim?- Estava exausta com a espera. - Não veio aqui só pra contar tudo isso. Vai me sequestrar? Depois vai ameaçá-lo, dizendo que me tem ? A essa altura ele deve estar me odiando... - Me arrisquei.

- Maíra, todos querem que você o mate. - Disse, me entregando uma adaga prateada nas mãos. Era tão reluzente que doía os olhos. Neguei com a cabeça. Ri nervosa ao mesmo tempo que as lágrimas se soltavam de mim sem que eu notasse. - Foi feita com trovão de Tupã. É capaz de matar um deus. - Ela terminou seu discurso e eu joguei o objeto no chão.

- Eu não vou... Não... Vo..Você só pode estar... - O meu desespero não permitia que eu concluísse a minha fala. Sentia que ia desabar por causa dos vários sentimentos que enchiam o meu coração. Tentei me controlar, respirei fundo. Ela me olhava como se fosse uma coisa simples. Ele era o sobrinho dela. Como me pedia isso, ainda dizendo que o amava? - Não vou! - Me exaltei. Foi o que conseguir dizer até vê-la desviar o olhar e ouvir o seu grito ensurdecedor.

DEUSES DA FLORESTA 2 - NA CHAMA DO TEMPOOnde histórias criam vida. Descubra agora