Prólogo

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- Mamãe? – a garota sussurrou enquanto colocava de modo hesitante a mão no ombro sem vida da mãe. Ela tinha os olhos úmidos arregalados de pavor e o coração quebrado. A outra mão foi para o outro ombro. – Você não pode morrer agora, está me ouvindo? – uma lágrima solitária escorreu por sua bochecha e ela se abaixou para abraçar a única pessoa que amava verdadeiramente no mundo inteiro. Seus ouvidos zumbiam e ela contorcia o rosto em uma tentativa de segurar o choro enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro contra o cabelo da mãe. – Por favor, por favor, não me deixe assim. Por favor, mãe – as lágrimas tornaram-se um choro desesperado. – Isso não pode estar acontecendo – os soluços tornaram-se tão altos que seu irmão, sempre tão imperturbável, tremeu. Ele se aproximou para erguê-la do chão. O primeiro toque dele fez Jaz gritar. Ela estava agarrada ao corpo da mãe. – Não me tire daqui! – ele ignorou os protestos e continuou a puxá-la. – Não me tire daqui, seu inútil! Seu imbecil! Não me tire daqui! – começou a se debater nos braços de Sebastian.

- Acalme-se, Jaz, por favor – ele a abraçou por trás a fim de conter seus braços. – Eu nunca estive aqui, mas agora estou. Acalme-se – levou algum tempo, porém aos poucos a agitação cessou e só restaram soluços e um choro muito alto. A garota agarrou-se ao irmão como se ele fosse seu bote salva-vidas – Shhh, vai ficar tudo bem.

- É m-mentira. Nada ficará b-bem – ela fitou o corpo no chão que ainda tinha os olhos escuros abertos. Próxima ao coração, uma mancha vermelha cobria a blusa branca. O tapete verde claro luxuoso abaixo dele estava manchado de sangue. O cabelo loiro, tão diferente do de Jaz, estava bagunçado. A uns dez metros de distância, perto do sofá da sala, estava o corpo do pai; havia um tiro em sua testa, a arma ainda na mão.

A única conclusão que eles poderiam ter era a de que o pai atirou na mãe e, em seguida, atirou em si mesmo.

Os dois irmãos estavam em seus respectivos quartos quando ouviram o primeiro disparo. O segundo veio logo depois.

- Não olhe – Seb virou o rosto da irmã para si e fitou-o. - Seus olhos... - disse.

- O que tem eles? - Jaz moveu a mão para a própria face molhada. Sebastian franziu o cenho e balançou a cabeça.

- Nada, acho que imaginei. Apenas não olhe, ok? - e a abraçou, colando ela em seu peito. – Logo os guardas chegarão e teremos que contar tudo a eles, entendeu? – ela assentiu, sentindo-se um pouco mais recuperada do que antes. Sebastian alisava seus cabelos em um gesto de carinho totalmente destoante a ele.

- Onde está C-christian?

- Foi até o porto com a mãe. Eles devem estar chegando daqui a pouco.

- Como você pode não estar triste?

- Eu estou, acredite, mas só pela mamãe – e foi o que disse, somente. A última parte em um tom mais grave. Jaz ficou um pouco incrédula. Não acreditava que ele fosse um grande fã do pai, mas com certeza devia gostar mais dele do que ela. Era o que parecia, pelo menos.

Quando Jazmine estava finalmente mais calma, os dois se afastaram desconfortáveis com a repentina demonstração de afeto, principalmente Sebastian. Ela pigarreou.

- Obrigada por... você sabe, me consolar. Acho que ainda estaria ajoelhada ali se não fosse por você – ele apenas fez um gesto com a mão, parecendo estar envergonhado. Mas essa expressão durou cerca de um segundo em seu rosto, que logo assumiu o aspecto frio e despreocupado de sempre. Era grata pelo que o irmão fizera, entretanto não podia confundir as coisas e achar que ele era uma pessoa totalmente diferente. Ele era o que era e não mudaria. Foi apenas uma ajuda passageira e eles não se tornariam amigos.

Por um momento, pensou que o que acabaram de viver não passava de uma grande e horrível alucinação coletiva. O tom rubro que marcava o chão, no entanto, não deixava negar que tudo era uma infeliz verdade.

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⏰ Last updated: Jun 28, 2021 ⏰

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Rainha ImortalWhere stories live. Discover now